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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

O único reparo que faço a Deus


O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem substituir as estrelas no céu

sempre que alguma esmorece

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem tapar o Sol quando nos ofusca e aquece demais

e para dar mais brilho à Lua

sempre que a noite obscurece

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para as mães poderem acariciar os seus filhos

quando estão ausentes.

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem plantar árvores e hortas

nos outros planetas que giram no sistema solar

mas sem desprezar o seu lar

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para num só abraço poderem abraçar

toda a Humanidade

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem apertar a Sua mão

lá no céu

a partir

daqui

da Terra

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2014

Henrique António Pedro


 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Que outro Ar? Que outra Água? Que outro Amor?


Que outro Ar

poderemos nós inventar

para respirar?

 

Que outra Água

poderemos nós conceber

para beber?

 

Que outra Verdade

poderemos nós estabelecer

para nos governar?

 

Que outro Amor

poderemos nós idealizar

para amar?

 

Que outra Terra

poderemos nós encontrar

para viver?

 

Poluímos o ar

e a água

 

Corrompemos a verdade

viciamos o Amor

 

Impomos a mentira

a dor

a fome

o ódio

o vício e a guerra

não separamos o Bem do Mal

 

Destruímos a Terra

 

Estamos à beira de nós autodestruir

 

Resta-nos reestabelecer

a limpidez da Água

a leveza do Ar

a força da Verdade

a pureza do Amor

a beleza da Terra

para sobreviver

 

Fundar em nosso coração

uma nova Civilização

de Paz universal e eterno Amor

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Abril de 2009

Henrique António Pedro


domingo, 5 de setembro de 2021

Servem-se mitos ao pequeno-almoço, ao almoço e ao jantar

 


É de gritos e de apitos

o regime político sinistro vigente

que usa e abusa da comunicação social

e governa Portugal

como se o povo fosse demente

 

Serve mitos ao pequeno-almoço

ao almoço e ao jantar

mentiras fresquinhas

acabadinhas de cozinhar

 

Requentadas

bem passadas

mal ou bem acompanhadas

embaladas em papel de jornal

cozinhadas de mil formas

em panelas doiradas

iluminadas em redomas de cristal

e nas mais belas telenovelas

 

Estrelas do desporto e do cinema

da arte e da finança

da cagança

da política

ciência sinistra

e da televisão

outro mundo cão

que só causam sensação

pela explícita obscenidade

 

Alguns mitos até se engolem com facilidade

porque de tão tolos nos divertem

mas a maior parte dos pirolitos da política

e do “jet set”

não se conseguem tragar

vão direitinhos para a retrete

 

Com mitos se alimenta a desumanidade

 

Com amor e verdade

se ergue a nova portugalidade

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro


 

sábado, 28 de agosto de 2021

Toda a poesia é de amor


Poderá ser épica

e lírica

e trágica

e dramática

a poesia

mas sempre trata de amor

e de amar

 

Que o digam a Ilíada

a Odisseia

o Mahabharata

os Lusíadas e a Eneida

a Divina Comédia

ou a mais vulgar poética enciclopédia

 

Toda a poesia é poesia de amor

e de amar

 

A poesia épica

que canta os maiores feitos da História

que guardamos na memória

é um hino ímpar

ao triunfo do amor

e à glória de amar

 

E de que trata a poesia dramática

ainda assim

senão de dor

de amar

… e de amor?

 

A poesia é um acto de fé

um sorriso de criança

um grito de esperança

 

É o sonho

a fantasia

a alegria

que mantém

o homem

de pé


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 5 de Outubro de 2009

Henrique António Pedro


terça-feira, 24 de agosto de 2021

Em que pensam, os cães, quando ladram?



Em que pensam, os cães quando ladram

ladram, ladram, com bravura?

 

Quando nos olham, com ternura

quando uivam à Lua

quando abanam o rabo, com alegria

ou mamam, deleitados, nas tetas túrgidas, de suas mães?

 

Pensam em amor

com ardor

com poesia

 

Como qualquer humano

que livre de engano

se perde na fantasia

 

Em que pensa então o cães

quando late à Lua

e não ladram

ao Sol?

 

Na sua humanização

ainda que acordem o casal

quando ladram fora de horas

inconsequentes

 

Distinto desse sonhar

é o seu instinto de morder

de matar

de fazer sofrer

de mijar cada flor com se fora urinol

qual mente humana torpe

que só pensa no mal

 

Humano que ladra demente

sempre morde

 

Cão que late

nem sempre

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 5 de Julho de 2011

Henrique António Pedro



segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Poema lamento de uma mulher afegã

 



Quem me dera poder postar os meus poemas

E dar a conhecer ao mundo

Livremente

Os meus dilemas

Fazer ouvir a minha voz

Por toda a Terra

Ainda mais alto que os terríveis acordes de guerra

 

Quem me dera poder amar e ser amada

Viver o dia-a-dia e ver o dia

Como uma repetida madrugada

Liberta de véus e de vendas

Das leis horrendas

Que me convertem em vil

E abjecto

Objecto

 

Quem me dera poder ser possuída por amor

Sem ser posse de ninguém

E de ter alguém a quem ter

Sem correr o risco de morrer

 

Quem me dera poder banhar-me no mar

Desnuda

E correr pela praias

Livre das minhas saias

 

Quem me dera poder namorar nas noites de luar

Deitada na areia

Nua como a Lua

Ser dona do meu corpo

E poder correr o risco de engravidar

Sem me sentir constrangida a abortar

 

Oh, como eu gostava de poder sonhar!

De ousar ser livre

De contestar o profano e o divino

De criar e procriar

Votar

Viajar

E ser dona do meu destino

 

Por agora sou apenas mulher

E não sou nada

Nem ninguém

 

Mas um dia serei mais que mulher

E serei tudo

E serei mãe

 

Afeganistão, Cabul, 30092005

Daniel Rio Livre

 (Repórter de guerra fictício)


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Amarei no seu mar de amor


O seu coração era uma ilha

no mar da minha solidão

 

Onde eu poderia amarar

para a amar

sem temor

mas não sabia

 

Oh, como fui demente

não a vendo

sofrendo

de amor

por mim

entre tanta gente!

 

Mas agora que a vejo

e desejo

e a sei pura

e linda

e a sua candura

me encanta

amarei

por fim

nesse seu mar de amor

 

E a amarei

assim

para sempre

 

Terna

e eternamente

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 3 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro


sábado, 24 de julho de 2021

Etereamente nua


Ela brincava com o fogo

com que me incendiava

 

Eu despia-a com o olhar

 

Não era amor
era lampejo de gostosura

desejo de a ver

nua



Ela à minha frente se desnudava

linda de morrer
entre sorrisos e trejeitos lúbricos
o viço dos seios túrgidos
a tentarem-me

com prazer

Oferecia-se amorosa
insinuante

melíflua

de falas meigas
graciosa

com golpes de cintura
fina
maneiras requintadas
nádegas roliças
coxas torneadas

Quando, por fim, se mostrou despida
oferecida
etérea

nua

eu cobri-a com poesia


Oh que dilema!

 

Que outro epílogo poderia ter o poema?!



Vale de Salgueiro, 24 de Maio de 2008
Henrique António Pedro


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Diluo-me no tempo

 


Qual rio a correr

para o mar

sem saber em que oceano

ou lago

se irá transformar

também eu

estou

a caminho

 

A carne e os ossos dissolvem-se-me no húmus

que os criou

prazeres e dores nos fumos

do anoitecer

acto trágico de morrer

 

Eu diluo-me no tempo

transformando-me em pensamento

sem saber o que sou

tão pouco para onde vou

 

Tornarei

feito nuvem

trazido nas asas do vento

para em poesia

de novo

me precipitar?

 

Ficarei

eternamente

por lá

no ar

sem mais dor

apenas a mais a amar?

 

A certeza

a tenho

de morrer

não a de desaparecer

 

Porque se assim fosse

não havia existido

sequer

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro 

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

Depósito legal:  404160/16

ISBN:  978-989-97577-52



quarta-feira, 14 de julho de 2021

Filho do Sol e de Gaia

 


Alguém

fora do espaço e do tempo

me surpreende a lamber as feridas

do último combate dentro de mim

e me pergunta quem sou

 

Sou filho do Sol e de Gaia

minha bem amada mãe

e tenho a Lua por aia

 

Vivo do seu ar e da sua água

de angústia apresada

e de sonhos de cambraia

 

E componho melodias de pensamento

que tanjo com o coração

e espalho no vento

 

Versos de amor e amizade

poemas de verdade

gritos de razão

 

Olho a Lua

que iluminada

estua

nela me vejo ao espelho

e a minha vaidade se esvai

 

Sou filho do Sol e de Gaia

minha mal amada mãe

criados por Deus Pai

ante quem me ajoelho

em acto de contrição


De todas as criaturas sou, por isso, irmão.

 

Vale de Salgueiro, 14 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro