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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Diluo-me no tempo

 


Qual rio a correr

para o mar

sem saber em que oceano

ou lago

se irá transformar

também eu

estou

a caminho

 

A carne e os ossos dissolvem-se-me no húmus

que os criou

prazeres e dores nos fumos

do anoitecer

acto trágico de morrer

 

Eu diluo-me no tempo

transformando-me em pensamento

sem saber o que sou

tão pouco para onde vou

 

Tornarei

feito nuvem

trazido nas asas do vento

para em poesia

de novo

me precipitar?

 

Ficarei

eternamente

por lá

no ar

sem mais dor

apenas a mais a amar?

 

A certeza

a tenho

de morrer

não a de desaparecer

 

Porque se assim fosse

não havia existido

sequer

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro 

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

Depósito legal:  404160/16

ISBN:  978-989-97577-52



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