Amanhã…
vou fazer tudo ao contrário
andar de trás para a frente
virar os retratos de pernas para o ar
Vou tocar os sinos no campanário
pôr a boca no trombone
desligar o telefone
Vou sorrir a quem nunca me sorriu
deitar a língua de fora ao Papa
mostrar o rabo à Rainha
chamar demente ao Presidente
alegrar os funerais com bandas marciais
e mandar a crise para a puta que a pariu
Vou chamar os poetas de patetas
deixar de escrever poesia
por de lado a gramática
e viciar os cálculos de matemática
Amanhã…
vou voltar à infância
comportar-me como criança
correr
saltar
viver a vida com alegria
usar peruca
deixar crescer barba e bigode
Amanhã…
vou fazer tudo ao contrário
Dizem que é a melhor forma de me precaver
pelo menos até morrer
… do Alzheimer
Vale de Salgueiro, sábado, 15 de Maio de 2010
Henrique António Pedro