Na hora da despedida
Não mais poderei esquecer
O Metumbué e o Rovuma
O Lidede e o Nangade
Irei ter saudade
Das saudades que aqui
Vivi
Em Nangololo deixei pensares imprecisos
Alongados como o misticismo do vale azul
O vasto vale de Miteda
Onde ecoaram os acordes primeiros
Deste Humanismo que surge
Ledo como a forma esguia das papaieiras
E se tinge de sangue
Como a casca verde das mangas maduras
E aquele Cristo de pau-preto
O Cristo Maconde
A quem sorri ele?
Aos Homens?
Á Guerra?
Oh! O seu sorriso é bondoso
Na terra ampla de Mueda
Sofri o céu inconstante
Não fui ali panteísta
Mas amei a terra
O salto breve para Nangade
É já o abraço do adeus
É banja sob a árvore grande
Mesmo ali à vista do lago
Já com pressa de partir
Mesmo sem que possa esquecer
O Metumbué e o Rovuma
O Lidede e o Nangade
E de ir a ter saudade
Das saudades que aqui
Vivi
Nangade, 15 de Outubro de 1972
n Poemas da guerra, de mim e de
outrem (Editora Piaget-2000)