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segunda-feira, 22 de maio de 2023

Poemas da guerra, de mim e de outrem (Silêncio)

 



Poemas da guerra, de mim e de outrem

Silêncio

 

Vivo agora a guerra no silêncio de um quarto

Em que guardo um mapico maconde

Uma máscara macua

E um Cristo metálico

Que não é de etnia nenhuma

 

No ar há leve odor a insecticida

Nos ouvidos o zunir dos órgãos em descanso

Onda portadora de ruídos inqualificados

Filtrados pela razão

Onde vegetam mil doces recordações

Que penetram todo o meu corpo

Transformados que são em saudade

 

Sou uma fábrica de saudade

E estou em guerra no silêncio de um quarto

De porta fechada

De alma aberta

E na mente desperta

 

Uma criança chora

Um homem assobia

E motores alados tomam de assalto o aposento

Martelando-me os ouvidos

 

Pela cortina entreaberta

Entra a claridade adequada

Ao conforto da vista

E na luz que entra pela cortina entreaberta

Pelo vidro translúcido

E pela rede quadriculada

Encontro a paz procurada

Tão distante no infinito

 

Pena que os olhos só vejam

E não analisem com luz

Esta obscuridade psíquica

De quem tem um sol dentro de si

 

 Mueda (Norte de Moçambique), 10 de Janeiro de 1972

in Poemas da guerra, de mim e de outrem (Editora Piaget-2000)


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