Poemas da guerra, de mim e de outrem
Silêncio
Vivo agora a
guerra no silêncio de um quarto
Em que guardo
um mapico maconde
Uma máscara
macua
E um Cristo
metálico
Que não é de
etnia nenhuma
No ar há leve
odor a insecticida
Nos ouvidos o
zunir dos órgãos em descanso
Onda portadora
de ruídos inqualificados
Filtrados pela
razão
Onde vegetam
mil doces recordações
Que penetram
todo o meu corpo
Transformados
que são em saudade
Sou uma fábrica
de saudade
E estou em
guerra no silêncio de um quarto
De porta
fechada
De alma aberta
E na mente
desperta
Uma criança
chora
Um homem
assobia
E motores
alados tomam de assalto o aposento
Martelando-me
os ouvidos
Pela cortina
entreaberta
Entra a
claridade adequada
Ao conforto da
vista
E na luz que
entra pela cortina entreaberta
Pelo vidro
translúcido
E pela rede
quadriculada
Encontro a paz
procurada
Tão distante no
infinito
Pena que os
olhos só vejam
E não analisem
com luz
Esta
obscuridade psíquica
De quem tem um
sol dentro de si
Mueda (Norte de Moçambique), 10 de Janeiro de
1972
in
Poemas da guerra, de mim e de outrem (Editora Piaget-2000)
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