Soam as
badaladas derradeiras
rasgam-se
as folhas restantes do calendário
cumpre-se
o fugaz fadário
nada
muda na verdade
tão
pouco as brincadeiras
Quando
mais animado o baile vai
estouram
garrafas de champanhe
esparrame
da insanidade
das gentes
alheadas da realidade
que em
fantasias se esvai
Nas
ruas estalam foguetes
e estouram
balões
há gritos,
apitos, ruídos dementes
joguetes
de multidões
Nos
meus ouvidos há outros ruídos
porém
tristes
acordes tangem meu coração
que calar
não consigo
sequer
afastar da minha mente
também!
São
gritos lancinantes de esfacelados de guerra
de
mulheres maltratadas
é o ranger
de dentes dos oprimidos
a dor dos
explorados e perseguidos
o
sofrer de mendigos e sem abrigo
dos
que vegetam nos esgotos torpes
das
metrópoles ditas civilizadas
Não me
contenho e grito:
-Alto
e pare o baile!
O
salão de festas emudece
A minha
dor recrudesce
Retiro-me
silencioso
pesaroso
circunscrito
levando
pela mão a mulher amada
como
eu igualmente consternada
Saímos
porta fora
nada
mais nos resta
para nós
a festa está terminada
Embora
no meu coração more a esperança fagueira
de que
meus versos hora a hora
explodirão
sem temor
como bombas
de amor por sobre a Terra
e
pousarão qual pombas de paz
aonde lavra
a guerra
e a humanidade
jaz
sepultada
prisioneira
-Alto
e pare o baile!
Vale de
Salgueiro, 31 de Dezembro de 2007
Henrique
António Pedro