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quinta-feira, 16 de junho de 2016

E se Deus não existir?!




E se Deus não existir?!

E se o Cosmos que gerou o homem
estiver em processo de gestação de deus?

E se esse deus sair da Humanidade?

E se tal deus for assim…
um jogador de futebol
ou um nababo do petróleo?

Talvez…
um guru das finanças
um comediante
um político
um ilusionista?

E porque não uma deusa
uma cantora pop
uma estrela de cinema das revistas cor-de-rosa
retocada pela magia do Photoshop
loira
glamorosa…?

Em tudo isso terei relutância em acreditar
por mais cidadania que a Democracia proclame
por mais benefícios fiscais que me prometam
por mais partículas que a Física descubra
por mais genomas que a Biologia desvende
por mais loucuras que me acometam
por mais curas que Psiquiatria garanta
por mais luz que a Física Quântica induza
por mais…
que a minha mente reluza

Porque um deus assim não viria no princípio
mas no fim
não seria um deus criador
mas um deus destruidor

Quando muito
darei o benefício da dúvida
a um deus poeta

Pelo menos
poderei acalentar a esperança
de que o Universo tenha sido criado por mim
inadvertidamente
ao correr da pena
sem o saber

E sempre poderei corrigir o mundo
e a Humanidade
já no próximo poema

Oh! Não! Poeta sim. Apóstata não!


terça-feira, 14 de junho de 2016

O lugar de Deus está vago e a concurso




Quem não sentiu já
um vácuo na alma
um vazio no coração?

Porque perdeu um ente querido

chegou ao fim uma paixão
caiu no olvido
de alguém

porque não se encontra
ou sofreu uma grande desilusão

Ou por mera angústia constitucional

E quantos não ocuparam esse espaço vazio
com sarcasmo
riso idiota
obscenidade
álcool
droga
raiva
revolta
ódio
agressividade?

Pois é…

mas o vazio continua lá
em aberto

a doer e a causar dor
sendo certo que só o amor
de verdade

o poderá preencher
porque esse é o lugar de Deus

Lugar que está vago

e a concurso

e a ele concorrem

todas a forças do mal

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Deu-me a provar o seu corpo




Trazia fogo no ventre
os seus seios ardiam
e os seus lábios queimavam
ainda mais que os meus

Envolveu-nos o vento da paixão
que nos obscureceu a Razão

Deu-me a provar o seu corpo
para sentir o sabor do meu

Sem saber bem o que fazia
já que nem o seu
nem o meu coração
reconhecia
nem eu sabia nada de mim

Acabámos por saborear
na verdade
o que apenas era suposto provar

Tanto assim que acordámos aprovar
e apalavrar
a palavra amor
para uma próxima oportunidade

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Um sopro divino




Há um sopro divino
que dentro de mim sopra
sem parar
e sem tino

Que procuro entender
e diferenciar

Sopro que me vai na alma
e não me vem do corpo

E me leva a poetar
como forma de me libertar

Uma sensação estranha
de me sentir preso
à sanha do desejo
ensejo de me soltar

De querer ser
como a luz das estrelas
que depois do astro morrer
continua a brilhar

Pura poesia
quando o estro se finar
e se perder no vento

Vontade de viver
fora do espaço-tempo

sábado, 23 de abril de 2016

Poema acabado de florir com a Primavera



O vento arrasta a chuva por mim a dentro
em bátegas de impaciência

Mergulho numa aborrida dormência

Procuro sinónimos de mim e de Primavera
a mais bizarra sinonímia que posso imaginar

Sou um novelo de liberdade
em que me enredo e emaranho
quando apenas pretendia me libertar

Um emaranhado de amor
de tanto amar

Uma nuvem negra de angústia
uma borbulha de ansiedade
um cachão de raiva
um furúnculo de repulsa
um borboto de lixo
uma ampola de azia
um balão de demência
um poço de loucura
uma câmara de tortura
uma catedral vazia

Acordo

Havia adormecido

sem me ter apercebido

nem dar pelo tempo passar

já há sol a fulgir

lá fora

à minha espera


Sorrio

agora

dentro de mim

há um botão de flor a desabrochar

um poema acabado de florir ao romper da Primavera

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 29 de Março de 2010

Henrique Pedro

terça-feira, 19 de abril de 2016

Doze badaladas premonitórias





O relógio da sala de janta bateu doze badaladas
premonitórias
de desilusão

Tocou as notas introdutórias
com poesia
e depois doze badaladas sonoras
espaçadas
metálicas
marteladas
sem melodia

Amanhã por esta hora
serão de novo horas de me deitar
ainda que sem dormir

Quando ouvir o relógio analógico badalar
em contraposição à insana inovação
que põe milhares de relógios digitais a piscar
obrigando a Humanidade a correr
apressada

Dessincronizada com o Cosmos
com a imaginação
limitada
a cortar a respiração

Preferiria antes ouvir
relógios analógicos a badalar
crocitar
cucar
e porque não
balir

Como quando o galo
madrugador
com seu estridente estertor
anunciava a alvorada