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terça-feira, 27 de março de 2018

As pedras de Pinetum levitam no tempo




As pedras de Pinetum levitam no tempo

 

As pedras de Pinetum levitam no tempo

apenas mudam as paredes

as pontes

as fontes

em que se concertam

os poemas que despertam

e espevitam o sentimento


Pedras alçadas em muralhas

em campos de batalhas

vias, becos e calçadas

bordejadas de mecos

e de etéreos marcos miliários

são a memória da História

 

Deslavadas pelo rio

puídas pelo vento

erguidas em ideia

areia

e cimento

são muros mudos

 

Nada dizem do futuro

próximo ou distante

falam do passado estuante

sombrio

não relatado nos anais


As pedras de Pinetum levitam no tempo

fazem eco

são sinais


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 20 de Agosto de 2012

Henrique António Pedro




domingo, 25 de março de 2018

Mirandum Mirandela




Mirandum se foi à guerra
deixou Mirandela na terra
a carpir sua saudade
afogando suas fráguas
nas águas que por entre fragas
correm, correm sem parar

Moira bela encantada
mira-se nela Mirandela
reflectida no rio Tua
nua nas noites de luar
à espera dalgum mirandum
que a venha desencantar

Embora livre de namorar
a ninguém nem por fantasia
pode Mirandela seu coração dar

Mirandum se foi à guerra
deixou Mirandela na terra
à espera dalgum poeta
que de alma aberta
com poesia a saiba cantar

Linda moira encantada
no Tua se mira nua 
Mirandela
com o Sol e a Lua
o mirandum a bailar
outra mais bela não há

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 12 de Abril de 2010
Henrique Pedro


quinta-feira, 15 de março de 2018

As águas do meu rio Rabaçal



As águas do meu rio Rabaçal

As águas do meu rio Rabaçal
correm
correm
sem cessar

Vão polindo de mansinho
as duras fragas
que lhes barram o caminho

E mais aprofundam o leito
em que nunca se deitam

Como as águas do meu rio Rabaçal
que correm sem parar
assim é o dia-a-dia
da minha pura poesia

Vai fluindo sem desfalecer
polindo o meu destino
aprofundando o meu viver
por desígnio divino

As águas do meu rio Rabaçal
quando alcançam o mar
transbordam em Oceano

Eu procuro sem engano
com poemas de verdade
em mar de amor desaguar


in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


quarta-feira, 14 de março de 2018

Crepúsculo transmontano



Crepúsculo transmontano

Por cada raio de Sol que se esvai
em cor
no horizonte
uma gota de líquido som
cai
e ecoa
na fonte

O cósmico piano
entoa
a melodia do fim do dia
a primeira estrela se acende
no céu
e a noite obscurece
com seu véu
o bíblico sertão
transmontano

E o dom da poesia
o calor do amor
enrubesce
o coração do poeta
que se liberta
em verso
e livre sonha
e voa
Universo
além

E se engrandece
no silêncio interior
também


terça-feira, 13 de março de 2018

Minha Mátria Terra Quente



Minha Mátria Terra Quente

T r á s o s M o n t e s
Terra e Povo
Pátria e Palavra

Eco vindo da origem dos tempos
sinfonia de montes
vales
e ventos

Minha Mátria Terra Quente
minha palavra ardente

Minha Mátria Terra Quente
Mirandela cidade
jóia postada no tórax de Trás-os-Montes
dependurada mundana
em colar de prata líquida
feito de Tuela e Rabaçal
vulva telúrica da imortal pátria transmontana
a escorrer em Tua de vaidade
e formosura

Mirandela cidade
provocante e bela
tronco de oliveira coroada nua
com diademas de xisto
e racimos de roseira
reflectida no espelho do Tua
e oferecida em feiras de vaidade
sob o halo da Senhora do Amparo
romaria de alegria e piedade
foguetes de lágrimas e de estalo

 in Minha Mátria Terra Quente (Ver O Verso -2005)
ilustração Dacosta

domingo, 11 de março de 2018

Assobiando aos bois no bebedouro





Aprendi com Vinícius
velho criado de servir de meu avô João
a assobiar aos bois no bebedouro
quando regressavam do pasto
ao fim do dia
depois do lauto repasto
de feno
ferrã
e grão

Que prazer era vê-los beber
em manso remanso
de beiços a beijarem a película líquida
amansados pelo meu assobio
e a olharem-me de soslaio
com seus olhos cor de mel
a dizerem-me que lhes agradava a lânguida
melodia

De novo agora ensaio
sem desdouro
com os lábios em bisel
com o enlevo
e a nostalgia
de quando menino
enquanto escrevo
esta poesia
e sorrio
do meu destino
iiuuu, iiuuu, iiuuu…

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)