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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Horizontes de afecto



São lhanos mas dilatados
Estes horizontes que me cercam

As asas do pardal, da pomba, da andorinha
E de tantas aves de arribação
Os vencem facilmente
Para me povoar a mente
Com revoadas de lembranças
E bicadas de saudade

São horizontes doces
Próximos
Feitos de suaves colinas
De crepúsculos e alvoradas
Abençoadas pela brisa primaveril
Apenas emergindo
A sul
Mesmo ali a dois passos
Quase ao alcance da mão
A montanha azul
Em que foi martirizado Leonardo
E onde a casta Comba
Sua irmã
Continua escondida nas fragas
Ainda marcadas
Segundo as vozes do povo
Pelas ferraduras dos cavalos alfarazes
Dos seus algozes árabes

Montanha que adoro
Como se fosse o meu Monte Sinai
E eu fora Moisés
E que tantas vezes trepo
E “destrepo”
Com a mente e com os pés

Na esperança de que também um dia
Uma sarça-ardente se incendeie
Dentro de mim

In Anamnesis-1.ª Edição: Janeiro de 2016


sexta-feira, 6 de abril de 2018

O problema é que ...



O problema é que …

nem sempre soletramos a palavra paz
em paz
nem a palavra amor
com o amor que ela requer
e à palavra verdade
a interpretamos como melhor nos aprouver

O problema é que …

nem sempre amamos com o coração
quem nos ama
nem apertamos a mão
com a força devida
a quem nos estende a mão amiga
e nem sempre respondemos a quem nos chama
com a necessária prontidão

O problema é que …

apenas vemos problemas nos outros
nunca em nós
e muitas vezes nos isolamos
tentando assim vencer
a nossa própria solidão
sem darmos ouvidos a outra voz

O problema é que …

só damos quando recebemos
sem que nos apercebamos
de que
o egoísmo
é o problema


segunda-feira, 2 de abril de 2018

O cântico dos estorninhos




Em tarde de Outono
chuvoso e morno
um bando de estorninhos
negros
daninhos
canta cânticos histriónicos
pousado nos fios telefónicos
que cruzam o olival

É uma algaraviada jovial
uma sinfonia desafinada
uma balada sem tino
desmiolada

Levantam voo ao menor sinal
em torvelinho
sempre a piar
rodopiam pelo ar
e vão de abalada

Eu
pássaro sem bando
fico só
a cismar
aninhado no meu ninho
por não saber voar

in I Coletânea de Poesia 2017  da ALTM – Academia de Letras de Trás-os-Montes





terça-feira, 27 de março de 2018

As pedras de Pinetum levitam no tempo




As pedras de Pinetum levitam no tempo

 

As pedras de Pinetum levitam no tempo

apenas mudam as paredes

as pontes

as fontes

em que se concertam

os poemas que despertam

e espevitam o sentimento


Pedras alçadas em muralhas

em campos de batalhas

vias, becos e calçadas

bordejadas de mecos

e de etéreos marcos miliários

são a memória da História

 

Deslavadas pelo rio

puídas pelo vento

erguidas em ideia

areia

e cimento

são muros mudos

 

Nada dizem do futuro

próximo ou distante

falam do passado estuante

sombrio

não relatado nos anais


As pedras de Pinetum levitam no tempo

fazem eco

são sinais


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 20 de Agosto de 2012

Henrique António Pedro




domingo, 25 de março de 2018

Mirandum Mirandela




Mirandum se foi à guerra
deixou Mirandela na terra
a carpir sua saudade
afogando suas fráguas
nas águas que por entre fragas
correm, correm sem parar

Moira bela encantada
mira-se nela Mirandela
reflectida no rio Tua
nua nas noites de luar
à espera dalgum mirandum
que a venha desencantar

Embora livre de namorar
a ninguém nem por fantasia
pode Mirandela seu coração dar

Mirandum se foi à guerra
deixou Mirandela na terra
à espera dalgum poeta
que de alma aberta
com poesia a saiba cantar

Linda moira encantada
no Tua se mira nua 
Mirandela
com o Sol e a Lua
o mirandum a bailar
outra mais bela não há

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 12 de Abril de 2010
Henrique Pedro


quinta-feira, 15 de março de 2018

As águas do meu rio Rabaçal



As águas do meu rio Rabaçal

As águas do meu rio Rabaçal
correm
correm
sem cessar

Vão polindo de mansinho
as duras fragas
que lhes barram o caminho

E mais aprofundam o leito
em que nunca se deitam

Como as águas do meu rio Rabaçal
que correm sem parar
assim é o dia-a-dia
da minha pura poesia

Vai fluindo sem desfalecer
polindo o meu destino
aprofundando o meu viver
por desígnio divino

As águas do meu rio Rabaçal
quando alcançam o mar
transbordam em Oceano

Eu procuro sem engano
com poemas de verdade
em mar de amor desaguar


in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)