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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

O que falta neste Natal é o que mais falta faz!



Muito embora a noite fosse fria

havia muito amor e muita luz

no divino presépio de Belém

em que nasceu Jesus

iluminado pelo luar

e pelas estrelas do céu

com anjos a cantar também

cânticos de esperança 

de fé

e de alegria

 

Também não faltou à Divina Criança

o calor do seio de Sua mãe, a Virgem Maria 

e a companhia de Seu pai, São José 

 

Porém

o que falta no nosso Natal, hoje em dia

não são prendas nem prebendas

ou sinecuras

tudo que o dinheiro atrai


O que há demais

são luzes e molduras

enfeites de encanto

a brilhar nos ares e nos lares

nas catedrais e nos centros comerciais


O que falta no nosso Natal, hoje em dia

é Alegria

é a ternura das mães e dos pais!

 

A luz do Amor e da Paz

é o que mais falta faz

ainda assim

 

O que falta neste nosso Natal

não é o Pai Natal, não!

 

É o Menino Jesus, isso sim!

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Dezembro de 2012

Henrique António  Pedro


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A mim sem mim me imagino


O destino cavalga as nuvens

disparando sobre mim

relâmpagos e trovões

 

Não sei que substância é a minha

quem é o eu que em mim habita 

que força move o meu pensamento

que sentimento me comove

que verdade me acredita

 

Temo a mim

anjo serafim

no mundo das ilusões

em mim

me perder

 

No meu cérebro bailam dilemas

que florescem em poemas

garantes da minha glória

 

Sinto medo de os esquecer

sem outro meio  de os escrever

que não seja na memória

 

A menos que alguém

como eu perdido também

os queira declamar

 

Por força do amor amar

rendo-me ao vento divino

a mim

sem mim

me imagino

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 14 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro


 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Dissecando a alma da mulher vaidosa


Até a mais rubra rosa tem espinhos

e no espírito de uma mulher virtuosa

sempre existe o espinho da vaidade

e mais espinhosos são os caminhos

se a rosa é vaidosa

 

Tomei alfinetes de prata e de marfim

para dissecar a alma de uma mulher vaidosa

que aparentava ser santa

acabei por me retalhar a mim

 

Dei-lhe a beber o veneno da fantasia

que não mata

mas encanta

se diluído em poesia

 

Provoquei-lhe mil desejos

e perdi-me em seus cabelos

olhos

seios

coxas

e humores

 

Povoei o meu ser de flores roxas

e dos ensinamentos sábios

que bebi em seus lábios

 

Apenas quando

por fim

o sopro da verdade me percorreu o corpo

e a punção da sexualidade

me alterou o coração

se libertou em mim o escopro da espiritualidade

 

De mil formas são as formas da vaidade

uma só a forma da verdade

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 26 de Julho de 2010

Henrique António Pedro


domingo, 25 de outubro de 2020

Angola, Pátria mulata



Angola

Pátria mulata

Mista amor ardente

Europa e África

 

Rosto de ébano perfeito

Mãos cálidas de cavador

Gota de honrado suor

 

Frémito delirante de batuque

Sorriso puro de rubra romã

Grito de amor ao sol pôr

 

Queimada ateada na vastidão

Pirão amassado com o suor do rosto

Liberdade hasteada em pau de coqueiro

 

Cheiro a peixe seco em colmo de cubata

Picada regada de suor e angústia

Sanzala perdida nos confins do sertão

 

Pó de mandioca de alvura infinita

Canção de embalar de uma mãe preta

Rio espraiado em fauna e flora

 

Grácil mulher em sombra de palmeira

Rosa nascida por entre o capim

Fortaleza antiga a guardar a História

 

Tantã batido em ritmo novo

Amor e ódio a dilacerar o povo

 

Lufadas de guerra exaladas da terra

Humanismo de futuro

Glória e martírio das gentes

Sem cor.

 

Vendas Novas, 11 de Janeiro de 1971

 

in Poemas da Guerra de Mim e de Outrem (Editora Piaget-2001)



terça-feira, 6 de outubro de 2020

Amo-a mas não gosto dela.

 


Amo-a

com enlevo

mais do que devo

ainda assim

lhe digo que não gosto dela

embora seja ela muito bela

 

Gostava isso sim

que ela fosse diferente

ou me fosse indiferente

 

Gostava de a amar e dela gostar

tal como ela é e como ela quer, mas…

sinceramente

não gosto dela!

 

Diz-me ela que não há mas nem meio mas

que é meu puro engano

ou a amo e gosto dela

assim como ela é

ou não amo

 

Saber que a amo

mas que não gosto dela

e que assim a ela não lhe gosto

como espero

e não reclamo

é o meu desgosto

 

Amo-a mas não gosto dela

nem a quero!

 

Henrique Pedro-1967



domingo, 4 de outubro de 2020

O amor não tem asas mas voa

 


Um par de pombas enamoradas

pôs-se a dançar danças de amor

despudoradas

de fronte da minha janela

só para me provocar

 

Fascinado

deixei-me ficar com cautela

aprendiz a elas enleado

calado

e a vê-las dançar

entrelaçadas

em feliz liberdade

 

A pousar e a levantar

a voar

adejando com graciosidade

 

De pronto me imaginei a dançar com elas

e me pus a pensar:

Porque não nos deu asas

o Criador?

 

E fez também do homem um ser voador

para assim poder bem amar a mulher amada

também ela alada

e ambos a voar se poderem amar?

 

Porque não são precisas asas

para amar

assim à toa

 

Porque o amor não tem asas

mas voa

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 1 de Maio de 2009

Henrique António Pedro