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sábado, 1 de janeiro de 2022

O mundo acabará no dia em que eu morrer


No dia em que eu morrer apagar-se-ão todas as luzes da Terra

e todas as estrelas do céu

o Sol pôr-se-á para não mais nascer

porque os meus olhos fechados nada mais poderão ver

 

O mundo acabará nesse dia

para mim

 

Quando eu morrer calar-se-ão os todos os canhões

os corações deixarão de bater

os meus ouvidos silenciados

tão pouco o cântico das aves poderão ouvir

 

Deixará de haver tempestades na terra e no mar

cães a latir

crianças a chorar

as flores deixarão de perfumar o ar

e de colorir os campos

porque eu não estarei lá para os apreciar e sentir

 

Todas as lembranças de criança

sonhos de glória

a história da minha vida sentida

se apagarão da memória nesse dia

 

O mundo cobrir-se-á de um manto de tristeza

sem sentido

porque morrerei sem ter sido tido nem achado

e embora viva apaixonado

ainda hoje não sei porque nasci

e também não saberei

porque morri

 

Resta-me contudo a esperança

a fugaz alegria

de que o mundo não se acabará para mim no dia em que eu morrer

se uma só boa pessoa continuar a ler

a minha poesia

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Henrique António Pedro



domingo, 26 de dezembro de 2021

Anónima

 



Eu estava ali de passagem

E não ia a fim de me prender

 

Não tão pouco andava à procura de um inopinado prazer

 

Ela olhou-me à hora de jantar

Com um inexpressivo olhar

Um sorriso sedutor

Ambíguo de interesse

E de certa superioridade

 

Eu mirei-a de soslaio

Apreciando a sua elegante sensualidade

Sem lhe dar a entender

De alguma forma me interessar

 

Porém…

 

Na última noite da minha curta estadia

Percebi que a porta do meu quarto

Muito de mansinho se abria

Para deixar passar alguém

 

Era ela!

Fingi que dormia

Enquanto sentia

Que se deitava a meu lado

Qual amante clandestina

 

E me segredava em surdina

Perante o meu espanto

Que poderia matar ou morrer

Mas que preferia viver

 

Que estava ali apenas para amar

E melhor seria

Portanto

Que eu ficasse calado

E a possuísse

Apaixonado

 

Lá teria a sua razão

Pensei para comigo

Melhor seria não forçar o destino

Já que nunca entendi bem

O coração feminino

 

E assim…

 

Mais por ela

Que por mim

Aquela fortuita noite de Verão

Converteu-se em fogo

Num frenesim

Num vulcão

Num dramático acto

De prazer e paixão

 

E só quando ela se retirou

Sorrateira como entrou

Continuando eu acordado

Me apercebi pela janela entreaberta

Que o céu estava lindo

Estrelado

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 14 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro

 

in Mulheres de Amor Inventadas

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

1.ª Edição, Outubro de 2013

Depósito legal n.º 364778/13

ISBN: 978-989-97577-2-1



 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Dessa mulher nada quero saber

 


Não quero saber quem é

nem o que faz

ou que fez

 

É-me indiferente

 

Completamente

 

Não me importa saber se é bonita

catita

feia

fantasma

sereia

inteligente

indigente

morena

liberal

grande

pequena

sensual

bailarina

nórdica, arábica ou latina

 

Duvido até que é disléxica, estrábica e daltónica

porque mal me vê

e nem me fala

 

Sobre essa mulher

não me interrogo

 

Quero lá saber!

 

Apenas me questiono

porque será que só de a ver

me emociono

 

Dessa mulher nada quero saber

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 27 de Fevereiro de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Olho-me nos olhos


Vejo-me ao espelho

olho-me nos olhos

 

Vejo um sujeito que não sou eu

que não conheço

e que me espanta

 

Não é o meu eu interior

poético ou lírico

que vive de amor

que ali se reflecte

 

É um crâneo calvo

um rosto rugado

um olhar cismado

que nada me dizem de mim

 

E eu

a toda a hora me olho

e me vejo por dentro

faça sol, chuva ou vento

noite e dia

a dormir ou acordado

em tristeza ou alegria

 

E sempre me vejo

com verdade

embora envolto em sonho

e ansiedade

 

Fico

por isso

espantado

por ver-me assim retratado

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 2 de Março de 2013

 

in Anamnesis

Copyright: Henrique António Pedro

1.ª Edição: Janeiro de 2016


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

AMAR E SOFRER



Tantas vezes nos enganamos

julgando que amamos

só porque sentimos prazer

que o próprio amor

acabamos por perder

o que ainda mais nos faz doer

 

É sofrendo

e amando

que o amor se vai firmando

e vencendo

a dor

 

Para sofrer

bastamo-nos a nós

não precisamos de nada nem de ninguém

e mais sofremos

sós

 

Para amar

porém

precisamos de algo

ou de alguém

 

Vale de Salgueiro, 4 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Com quem amo me encanto


Amar de alma

ou de coração

é admirar

é admiração

 

Eu admiro quem amo

com quem amo me encanto

me dá contentamento

 

Eu admiro quem amo

quem amo me causa espanto

 

Amo também

de quem

tenho dó

com seu sofrimento me condo-o

 

Só de ver alguém sofrer

a mim mesmo eu me doo

a paixão por compaixão

dói por fora

e dói por dentro

 

Amar

é tão só bem-querer

admirar

encantamento

 

Vale de Salgueiro, sábado, 10 de Abril de 2010

Henrique António Pedro