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sábado, 1 de janeiro de 2022

O mundo acabará no dia em que eu morrer


No dia em que eu morrer apagar-se-ão todas as luzes da Terra

e todas as estrelas do céu

o Sol pôr-se-á para não mais nascer

porque os meus olhos fechados nada mais poderão ver

 

O mundo acabará nesse dia

para mim

 

Quando eu morrer calar-se-ão os todos os canhões

os corações deixarão de bater

os meus ouvidos silenciados

tão pouco o cântico das aves poderão ouvir

 

Deixará de haver tempestades na terra e no mar

cães a latir

crianças a chorar

as flores deixarão de perfumar o ar

e de colorir os campos

porque eu não estarei lá para os apreciar e sentir

 

Todas as lembranças de criança

sonhos de glória

a história da minha vida sentida

se apagarão da memória nesse dia

 

O mundo cobrir-se-á de um manto de tristeza

sem sentido

porque morrerei sem ter sido tido nem achado

e embora viva apaixonado

ainda hoje não sei porque nasci

e também não saberei

porque morri

 

Resta-me contudo a esperança

a fugaz alegria

de que o mundo não se acabará para mim no dia em que eu morrer

se uma só boa pessoa continuar a ler

a minha poesia

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Henrique António Pedro



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