Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Cantando e assobiando

Caminho pelo campo

sozinho

canto e assobio

baixinho

como quando era menino

 

Como se fora ave

no céu

a voar

 

Vento

aragem

miragem

sobre os campos

a pairar

 

Ideia

sonho

risonho

flor

a florir

 

Simples vontade de amar

 

Coração

a bater

sem mãos a medir

 

Poeta de alma aberta

Razão prestes a explodir

 

Como se sem querer quisesse

com a Natureza melhor me identificar

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Arando poemas com um tractor agrícola

 


Ocorrem-me ideias loucas

e não poucas

sentado  num tractor agrícola

que pachorrento se arrasta

escarificando a terra em sulcos rectilíneos

 

Fazem-me companhia os meus cães

divertindo-se em correrias loucas

atrás das lavandeiras que graciosas

catam os vermes no húmus fresco

 

Os meus braços e pernas transformam-se

em alavancas e manivelas da máquina

 

Acabo por me abstrair e sair dali

a cismar

 

Deixo de ouvir o som rouco

monocórdico

do tractor

a gemer

de viva dor

de tanto se esforçar

 

(…)

 

Há quem dispute o domínio do mundo

e quem cometa adultério

quem desespere com o estado da Nação

quem esgaravate a terra à procura de pão

 

Cada vez mais a Civilização é despautério

 

Eu divirto-me remexendo o húmus do olival

que as oliveiras convertem em azeite doirado

indiferente ao vento gélido que sopra da serra da Padrela

por certo já polvilhada da primeira neve

indiciando o Inverno que se aproxima

uivante

 

Não estou seguro de que as ideias que fabrico

introvertido

em cima de tractor agrícola que lavra o olival

se concertarão em poema digno de ser lido

 

Mas vou ter prazer adicional de escrevê-lo

mesmo que fique inacabado

por falta de algum verso esquecido

 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


domingo, 24 de abril de 2022

Beijos, beijinhos, beijocas


Beijos, beijinhos, beijocas

           na boca

           na mão

           no cu

           no coração

           na face

           no rosto

           na testa

           na teta

           em tudo que resta


         Beijos na alma?

         só a alma os dá

         No coração?

         não penetra tão fundo a tesão

Beijos

          de amor

          de impostor

          de traição

          de verdade

          de amizade

          de bom tom

          beijos beneton

Beijos

        da morte

        da má sorte

        bafejos

        harpejos de infelicidade


Beijos

       de circunstância

       de primeira instância

       de Judas

       escusas

       antologia

       cinema

       fantasia

       de poesia

Beijo

beijão

beijinho

público

privado

desdém

carinho

forçado

estudado

repetido

desinibido

repenicado

 

Beijo

Abraço

Abração

Abracinho

Aperto no cachaço


Maior é o beijinho

pequenino

dado com carinho

ternurento

sem embaraço

nem lamento

 

São os beiços que beijam

se o beijo é de desejo

mas beija o coração

se o beijo é de dor

ou de amor

 

Beijam os olhos

as mãos

os braços

os lábios

tanto faz

se o beijo for  de verdade e de paz


Os “kiss” do “Face” não são na face

São disfarce


Para quem lê

vai um Beijo de luz

como se induz

já se vê


(Acabaram-se os beijos

por força da pandemia

não da poesia

mas nem todos, não!

Diga quais, pois então!)

 

Vale de Salgueiro, domingo, 9 de Agosto de 2009

Henrique António Pedro



 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Mandrágora


Eu nunca estive aqui

nem mesmo agora aqui estou

alguém se serve de mim

e de mim faz o que não sou

 

Alguém me enfeitiça e me atiça

me disfarça de ar e de água

de amor e de mágoa

 

Alguém me acusa

e se escusa

a me julgar

 

Eu nunca nasci

nem nunca morri

e sempre vivi noutro lugar

 

Para lá vou voltar

quando acordar

aonde

de onde

nunca saí

 

Apenas eu posso saldar esta injustiça

este feitiço de dor

pela magia do amor


in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)