Ocorrem-me ideias loucas
e não poucas
sentado num tractor
agrícola
que pachorrento se arrasta
escarificando a terra em sulcos rectilíneos
Fazem-me companhia os meus cães
divertindo-se em correrias loucas
atrás das lavandeiras que graciosas
catam os vermes no húmus fresco
Os meus braços e pernas transformam-se
em alavancas e manivelas da máquina
Acabo por me abstrair e sair dali
a cismar
Deixo de ouvir o som rouco
monocórdico
do tractor
a gemer
de viva dor
de tanto se esforçar
(…)
Há quem dispute o domínio do mundo
e quem cometa adultério
quem desespere com o estado da Nação
quem esgaravate a terra à procura de pão
Cada vez mais a Civilização é despautério
Eu divirto-me remexendo o húmus do olival
que as oliveiras convertem em azeite doirado
indiferente ao vento gélido que sopra da serra da Padrela
por certo já polvilhada da primeira neve
indiciando o Inverno que se aproxima
uivante
Não estou seguro de que as ideias que fabrico
introvertido
em cima de tractor agrícola que lavra o olival
se concertarão em poema digno de ser lido
Mas vou ter prazer adicional de escrevê-lo
mesmo que fique inacabado
por falta de algum verso esquecido
in Anamnesis (1.ª Edição:
Janeiro de 2016)
Fantástico Um abraço caro conterrâneo e vizinho É que embora longe não me esqueço que sou de Abambres
ResponderEliminarObrigado pela simpatia da visita e generosidade das palavras. Gostaria de ter um seu contacto. Abraço.
EliminarBelissimo poema. Obrigado pela visita no meu FB.
ResponderEliminarUm abraço.