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sexta-feira, 6 de maio de 2022

Arando poemas com um tractor agrícola

 


Ocorrem-me ideias loucas

e não poucas

sentado  num tractor agrícola

que pachorrento se arrasta

escarificando a terra em sulcos rectilíneos

 

Fazem-me companhia os meus cães

divertindo-se em correrias loucas

atrás das lavandeiras que graciosas

catam os vermes no húmus fresco

 

Os meus braços e pernas transformam-se

em alavancas e manivelas da máquina

 

Acabo por me abstrair e sair dali

a cismar

 

Deixo de ouvir o som rouco

monocórdico

do tractor

a gemer

de viva dor

de tanto se esforçar

 

(…)

 

Há quem dispute o domínio do mundo

e quem cometa adultério

quem desespere com o estado da Nação

quem esgaravate a terra à procura de pão

 

Cada vez mais a Civilização é despautério

 

Eu divirto-me remexendo o húmus do olival

que as oliveiras convertem em azeite doirado

indiferente ao vento gélido que sopra da serra da Padrela

por certo já polvilhada da primeira neve

indiciando o Inverno que se aproxima

uivante

 

Não estou seguro de que as ideias que fabrico

introvertido

em cima de tractor agrícola que lavra o olival

se concertarão em poema digno de ser lido

 

Mas vou ter prazer adicional de escrevê-lo

mesmo que fique inacabado

por falta de algum verso esquecido

 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


3 comentários:

  1. Fantástico Um abraço caro conterrâneo e vizinho É que embora longe não me esqueço que sou de Abambres

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    1. Obrigado pela simpatia da visita e generosidade das palavras. Gostaria de ter um seu contacto. Abraço.

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  2. Belissimo poema. Obrigado pela visita no meu FB.
    Um abraço.

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