quinta-feira, 26 de maio de 2022
sexta-feira, 20 de maio de 2022
Cantando e assobiando
Caminho pelo campo
sozinho
canto e assobio
baixinho
como quando era menino
Como se fora ave
no céu
a voar
Vento
aragem
miragem
sobre os campos
a pairar
Ideia
sonho
risonho
flor
a florir
Simples vontade de amar
Coração
a bater
sem mãos a medir
Poeta de alma aberta
Razão prestes a explodir
Como se sem querer quisesse
com a Natureza melhor me identificar
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de janeiro de
2015
Henrique António Pedro
sexta-feira, 6 de maio de 2022
Arando poemas com um tractor agrícola
Ocorrem-me ideias loucas
e não poucas
sentado num tractor
agrícola
que pachorrento se arrasta
escarificando a terra em sulcos rectilíneos
Fazem-me companhia os meus cães
divertindo-se em correrias loucas
atrás das lavandeiras que graciosas
catam os vermes no húmus fresco
Os meus braços e pernas transformam-se
em alavancas e manivelas da máquina
Acabo por me abstrair e sair dali
a cismar
Deixo de ouvir o som rouco
monocórdico
do tractor
a gemer
de viva dor
de tanto se esforçar
(…)
Há quem dispute o domínio do mundo
e quem cometa adultério
quem desespere com o estado da Nação
quem esgaravate a terra à procura de pão
Cada vez mais a Civilização é despautério
Eu divirto-me remexendo o húmus do olival
que as oliveiras convertem em azeite doirado
indiferente ao vento gélido que sopra da serra da Padrela
por certo já polvilhada da primeira neve
indiciando o Inverno que se aproxima
uivante
Não estou seguro de que as ideias que fabrico
introvertido
em cima de tractor agrícola que lavra o olival
se concertarão em poema digno de ser lido
Mas vou ter prazer adicional de escrevê-lo
mesmo que fique inacabado
por falta de algum verso esquecido
in Anamnesis (1.ª Edição:
Janeiro de 2016)
domingo, 24 de abril de 2022
Beijos, beijinhos, beijocas
Beijos, beijinhos, beijocas
na boca
na mão
no cu
no coração
na face
no rosto
na testa
na teta
em tudo que resta
Beijos na alma?
só a alma os dá
No coração?
não penetra tão fundo a tesão
Beijos
de amor
de impostor
de traição
de verdade
de amizade
de bom tom
beijos beneton
Beijos
da morte
da má sorte
bafejos
harpejos de infelicidade
Beijos
de circunstância
de primeira instância
de Judas
escusas
antologia
cinema
fantasia
de poesia
Beijo
beijão
beijinho
público
privado
desdém
carinho
forçado
estudado
repetido
desinibido
repenicado
Beijo
Abraço
Abração
Abracinho
Aperto no cachaço
Maior é o beijinho
pequenino
dado com carinho
ternurento
sem embaraço
nem lamento
São os beiços que beijam
se o beijo é de desejo
mas beija o coração
se o beijo é de dor
ou de amor
Beijam os olhos
as mãos
os braços
os lábios
tanto faz
se o beijo for de verdade e de paz
Os “kiss” do “Face” não são na face
São disfarce
Para quem lê
vai um Beijo de luz
como se induz
já se vê
(Acabaram-se os beijos
por força da pandemia
não da poesia
mas nem todos, não!
Diga quais, pois então!)
Vale de Salgueiro, domingo, 9 de Agosto
de 2009
Henrique António Pedro
sexta-feira, 22 de abril de 2022
Mandrágora
Eu nunca estive aqui
nem mesmo agora aqui estou
alguém se serve de mim
e de mim faz o que não sou
Alguém me enfeitiça e me atiça
me disfarça de ar e de água
de amor e de mágoa
Alguém me acusa
e se escusa
a me julgar
Eu nunca nasci
nem nunca morri
e sempre vivi noutro lugar
Para lá vou voltar
quando acordar
aonde
de onde
nunca saí
Apenas eu posso saldar esta injustiça
este feitiço de dor
pela magia do amor
in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)