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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Deus lê poesia

 



E veio Deus

o Todo-poderoso Criador Inato

que não dorme em serviço

e que tudo sabe

embora nada comente…

 

E veio Deus

dizia eu

leu os milhares de poemas que até hoje escrevi

embora nem todos estejam ainda publicados…

 

Deus

para Quem eu não tenho segredos

mas que a mim nada me diz

torceu o nariz

e para meu espanto

e encanto

embora não seja eu o único destinatário

lavrou o seguinte comentário:

- Olá, Henrique! Lamento ter que te desiludir. Esquece tudo isto que escreveste, porque nada se aproveita. Nem o ideário nem o valor literário. Para mim, apenas uma simples ideia-afecto, que se expressa numa única palavra, conta. Mas terás que ser tu e todos que escrevem e lêem poesia a descobri-la!

 

A minha primeira reacção

querido leitor

foi de furor

e de desânimo

 

Até que se me iluminou o coração

e ganhei outro ânimo

 

Deus tem razão!

 

Um só vocábulo tem sentido

e deve ser repetidamente usado

vertido e retrovertido

com muita alegria

e com muito tino

em toda a poesia

seja ela de rima livre ou cruzada

de metro heróico ou alexandrino

 

Um só vocábulo capaz de aplacar toda a dúvida

e toda a dor

merece o aplauso de Deus Senhor

 

A palavra Amor

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro

 

sábado, 11 de novembro de 2023

Palavras que devem ser ditas

 


Há palavras que devem ser ditas

reditas

escritas

bem-ditas

escutadas

repassadas

ainda que possam ser censuradas

e o poema amaldiçoado

proscrito

 

Uma legião imensa de pobres criaturas

morre de fome de pão

de sede de amor e de água

metamorfoseados em espectros

de miséria e morte

 

Enquanto doutra sorte

uma pequena parte da Humanidade

ou o que dela resta

vive túrgida

anafada

sobrealimentada

 

Em permanente Entrudo

feito de tudo e de nada

de paródia

ilusão

e vanglória

 

Lambuzada de vícios e de guerra

falsidade

vaidade

prepotência

intolerância

sexo

e escândalos sem nexo

 

Procuram a santidade alguns

é verdade

poucos

muito poucos

quase nenhuns

 

Um dia porém

no tempo e espaço de cada um

tudo acabará podre

putrefacto

feito em merda

fase derradeira

da mais cruel e disforme metamorfose animal

 

O mais belo corpo de mulher

por mais sensual e perfumada que seja

o mais poderoso ditador

o mais glorioso doutor

a obra poética mais festejada

tudo acabará em nada

espuma de coisa nenhuma

 

Nem os ossos se aproveitarão para os cães roer

transformados em cheiro nauseabundo

de cadáver a apodrecer

em escárnio e mal dizer

em esquecimento perdido no vento

 

E todas as bombas atómicas da Terra

valerão menos que um fotão perdido no Cosmos

 

Todas as alegrias e dores

sorrisos e lamentos

entrarão no esquecimento

varridos da memória

vazios de nada e de ninguém

 

Para os que não crêem na alma

a vida não passa de uma mera perda de tempo

ante a niilista metamorfose final

 

Salva-se a palavra de Jesus Cristo

porém

e salva-nos a nós

a esperança de que seremos outros

melhores e mais felizes em espírito

no Além

 

Por isso eu que sou livre

e tenho o coração liberto

de deslumbramento e ambição

e não venero nenhum césar na Terra

ou outro mito qualquer

apenas glorifico o Amor e louvo a Deus

qual gladiador a caminho para a morte

 

Deixemo-nos de jactância e vaidade

sejamos humildes

cultivemos a Temperança

e a Amizade

e pratiquemos a Caridade

 

Vale de Salgueiro, 23 de Novembro de 2007

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Dulce et decorum est pro amor mori

 


(Inspirado em Horácio, Odes (III.2.13))

 

Se honroso e doce fosse

matar e morrer por amor

 

Tão doce que apetecesse morrer

e matar

mil vezes

 

Tão honroso

que mais honrado fosse

quem mais vezes morresse

e mais vezes matasse

 

Valeria a pena viver

só para matar e morrer

sem parar

 

Morrer e matar por amor e sem dor

seria um deleite constante

um imparável pára arranca do coração

uma diletante excitação

 

Viver era matar e morrer

não haveria tempo a perder

para o amor salvar

 

E a vida seria

um eterno ressuscitar

e renascer

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 23 de Junho de 2011

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Ainda não é amor, por enquanto…


Ainda não é amor
por enquanto

nem sei mesmo

se algum dia

o será

 

Por agora é só poesia

encanto de a idear

nua

tentadora

ao deus dará


De imaginar que se desnuda

linda de morrer

e de matar

despudorada

se com ela me envolver

 

Ela brinca com o fogo

incendeia-me
e eu cubro-a com o meu olhar

 

Mas quando já a vejo despida
oferecida
revolta

apresto-me a envolve-la em poesia

sem demora

não vá o fogo da provocação

incendiar tudo à nossa volta

 

Ainda não é amor

por agora

 

É só ardor de sedução

laivo de alegria

fulgor de tentação

cântico

festa de fantasia

 

Vale de Salgueiro, 24 de Maio de 2008
Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Que prazeres da vida irão além da morte?

 


Se os braços

os lábios

as mãos

o coração

se quedam por cá um dia

enterrados na terra fria

e na passada se desfazem em nada

então que acontecerá aos beijos

aos afagos

aos abraços de paixão?

 

Passam do estado de gozo ao de recordação

depois evolam-se com o vento

e acabam no esquecimento

 

Que prazeres da vida irão

então

além da morte?

 

Só poderão ser os prazeres que o espírito envolve

fascinado

e que a alma também transporta

em seu vapor de amor

tais como ler poesia com alegria

 

O maior de todos os prazeres, porém

é

verdadeiramente

amar e ser amado

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

domingo, 29 de outubro de 2023

A quem me lê me confesso


Humilde poeta confesso

sempre falo de mim na poesia que escrevo

por não saber guardar segredo

 

Mesmo quando de mim nada digo

porque de mim nada sei

 

Mas mais de mim digo naquilo que de mim escondo

sem querer

do que naquilo que de mim tento não dizer

ou no que a mim mesmo escondo

sem saber

 

Mas quem me souber ler com perspicácia

vencerá a minha audácia em me esconder

e mais do que eu mesmo

de mim mais ficará a saber

 

De mim próprio apenas sei

confesso

que não sou não o poeta que penso

mas o poeta professo que ainda assim

gostaria de ser

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro