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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Abre-se a noite em dia


 

 
Uma daquelas noites em que não dormia
porque mais me apetecia
manter-me desperto
em prazerosa vigília

Uma daquelas noites
mais claras que o próprio dia
em que eu não dormia
porque coisas simples
prosaicas
me despertavam

Naquela noite fria
arejada de brisas etéreas
claramente percebia
que a minha vista é insuficiente
incapaz de ver para lá das estrelas
que curtos são os meus ouvidos
que não ouvem para lá do que me rodeia
apenas os sons compatíveis
com a frequência que nos tímpanos serpenteia
e tão frágil é o meu pensamento
que embora mais ágil que o vento
nunca me traz certezas

Mergulho no Firmamento
irisado de cósmico albedo
límpido e transparente
semeado de estrelas
banhado de luar irreal
cor de esmeralda
 
Percebo a sinfonia de fundo
o coaxar das rãs
o relar dos grilos
o latir dos cães
o pio esporádico de alguma ave nocturna
que soturna me vem lembrar
que me não devo deixar dormir
porque estou ali para acordar

Assim se vai abrindo dentro de mim
a noite em dia
e de místico luar
se me ilumina a alma

Por isso não consigo dormir
até poder ver
ouvir
e despertar

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Amar e andar apaixonado


 

Amar
e andar apaixonado
soa
a contradição

Melhor será por isso
deixar passar
o tempo
contemporizar
amor
e paixão

Esperar
que mude a direcção do vento
e se desvaneça o feitiço

Deixar
que seja outro
o bater do coração
e não
o arfar
daquilo que se deseja

O amor douto
não tem tempo
e mesmo pura
a paixão
nunca é definitiva

E nem dura toda a vida

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Rio de amor a desaguar em mar de poesia


 


Se o poema tiver alegria
a iluminar a Razão

Se calar fundo no coração

Se for rio de amor
a desaguar
em mar
de poesia

Leve como pena
em lago de saudade

Ponte
e aperto de mão

Grito
hino de liberdade

Se for lido
relido
e sentido
sem condição

Então o poema valerá a pena

Será verdade

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A quem devo perguntar?


 

 

Ando perdido
desde que ganhei consciência de mim
e do mundo
e experimentei a dor
e o amor

A quem devo perguntar
quem sou
donde venho
para onde vou
sendo assim?

O que devo fazer?

O que faço aqui?

Minha mãe respondia-me com beijos
e afagos
com sorrisos vagos
e angústia
por tanto me amar

Meu pai
com o suor do rosto
em cujas gotas refulgia o luar

A ciência
quanto mais me mostra
mais me esconde

A quem devo continuar
a perguntar
então
senão a mim e a Deus
no mais fundo do meu coração?

Quem mais alguém será capaz de me responder?

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A angústia maior é a Lua


 
 
A angústia maior é a Lua
que inunda a Terra de prata
e de sombras fantasmagóricas
de humanos que continuam a sofrer
indefesos
ao luar
sem o merecer
e sem reclamar

E as estrelas que brilham
e cintilam nos olhos das crianças
são angústias pequeninas
transformadas em esperanças

Mas a esperança maior é o Sol
que todos os dias se levanta
esplendoroso
em alarde de alegria
e se deita ao cair da tarde
com amor
para se erguer de novo
no alvor
de um novo dia

Por isso devemos ter fé
e acreditar
que a humanidade acabará

por se salvar

sábado, 24 de outubro de 2015

O universo tem tamanho e forma de verso


 

 
A vida é frustração
o cosmos é caos
e o universo
tem tamanho e forma de  verso

O amor é uma flor
e a Terra
um paraíso perdido

Dor
é aberração
e sofrer
não tem sentido

Eu
vagabundo
apesar do mundo que já vivi
amei
e sofri
continuo sem me entender

Nem a mim
nem a ninguém

Forçoso é continuar a viver
por bem
ainda assim

sábado, 3 de outubro de 2015

Ar a voar pelos ares


 



Ar a voar pelos ares

 

É ar a voar pelos ares

o vento

 

É sopro que atiça o fogo

 

É instrumento de sopro

a tocar

pulmão do talento

de soprano a cantar

perfume a tear o lume da paixão

 

É ave

de asas

a adejar

 

É pensamento

o vento

a soprar por nós a dentro

 

É pé de povo revoltado

 

É balão insuflado de vaidade

até rebentar

 

É odre podre a peidar

 

É fole a soprar

sem ter nada dentro

 

É verdade

o vento

a varrer o lixo prolixo

das ruas do nosso viver

 

É nuvem de lágrimas

à procura de regaço

onde se verter

 

É respirar ofegante

de quem quer vencer

 

É ar a voar pelos ares

 

É ar em movimento

o vento

 

Vale de Salgueiro, sábado, 24 de Janeiro de 2009

Henrique António Pedro


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Poema para uma poetisa de Entre Douro e Minho



Pergunta-me qual o caminho da felicidade

uma poetisa amiga

de Entre Douro e Minho

 

É o da poesia

deixe-me que lhe diga

já que nos leva a toda a parte

sem nos levar a lado nenhum

ainda que seja certo que a algum lado nos leva

 

A felicidade não exista em nenhum outro espaço

que não seja no regaço de nossa mãe

e quiçá

no Além

embora cada um

tenha a sua própria convicção de que será feliz um dia

sem condição

num qualquer lugar

 

Poesia que é uma emanação do amor

que existe em todo o lado

 

Por isso o insulto e a cobardia

jamais serão poesia

porque apenas geram dor

 

E a palavra obscena

que mina

e contamina

a amizade

nunca será poesia nem verdade

tão pouco dilema

antes obscenidade

 

Aqui por Entre Douro e Minho

está demarcado o espaço

traçado o destino

de quem como nós ouve dentro de si

a voz desse telurismo maior que é a poesia

manancial de felicidade

 

Vale de Salgueiro, sábado, 6 de Março de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Andam aviões a lavrar o ar




Andam aviões a lavrar o ar

 

A semear ilusões

e ventos

no ar

ruidosos

raiventos

andam aviões a lavrar o ar

sem parar

 

A rasgar montanhas de nuvens

estradas de fumo

de rumo rectilíneo

a tecer no céu o véu da ubiquidade

 

É a Humanidade a dançar

sobre a terra e sobre o mar

a dança contradança

da verdade

 

Viagens de paz

ou de guerra

tanto faz

 

Quem sabe aonde tudo isto irá parar?

 

Vale de Salgueiro, sábado, 14 de agosto de 2015

Henrique António Pedro

sábado, 18 de julho de 2015

Toda a poesia que sinto e não escrevo


 

Passa nas nuvens
nos sonhos
nos desejos
a correr
fugaz

Sob mil formas de amar
e de sofrer
de vento
e de contratempo

Toda a poesia que sinto e não escrevo

Que não escrevo porque não sei
não porque não quero

Que não escrevo não porque não tenha tempo

Que não escrevo porque não sou capaz

É poesia tudo que sinto
e não sei escrever

É angústia
é tormento

É epifenómeno do meu viver

terça-feira, 9 de junho de 2015

Assistindo ao pôr-do-sol pousado num fio de telefone




Ufa!
Ainda estou ofegante!
Vim a correr para lhes contar

Foi uma experiência esfusiante
verdadeiramente surreal
neste início de Primavera

Acabo de assistir ao pôr-do-sol
pousado num fio de telefone
a olhar o mundo de cima
lado a lado com as andorinhas
acabadas de chegar das terras do sul
e algumas rolas turquesas
que por aqui habitam todo o ano

Todos no mais devotado silêncio
apesar dos latidos dos cães
que não paravam de correr e saltar
tentando alcançar o nosso poleiro
para também eles se empoleirarem

Lindo foi quando o astro rei
amarelo como uma gema de ovo
mergulhou definidamente no horizonte

Nesse momento todas as andorinhas me olharam
e me confidenciaram
que já haviam sido galadas
e que traziam sóis como aquele no ventre

Depois bateram as asas e recolheram aos ninhos
sem contudo se comprometerem a voltar
amanhã de manhã
para assistir o nascer do sol

Eu, por mim, lá estarei, porém!

Espero que o Sol não falte!



quarta-feira, 3 de junho de 2015

Moro no infinito. Existo na eternidade


.

 

Arrasto comigo o infinito
e a eternidade
para onde vou

Vá para onde for encontro espaço sem fim

Morra quem morrer
não se acaba o tempo

Aqui onde estou
no tempo em que vivo
é onde o infinito se inicia
e a eternidade começa

Vivesse noutro tempo
em qualquer outro lugar
com ar para respirar
e cérebro para pensar
sentiria a mesma sensação
o mesmo aperto de coração
o mesmo lapso de Razão

Por isso moro no Infinito

E existo na eternidade

domingo, 19 de abril de 2015

Por não ter tempo a perder a pensar



(in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016))


Por não ter tempo a perder

a pensar

 

Tempo para me demorar

a ir

e a vir

do coração ao mundo

da razão ao cosmos

de mim à eternidade

 

Tempo para me perder no dia-a-dia

em tecnologia

em cálculos

em tramas

em enredos judiciais

 

Nos livros de contabilidade

nas páginas dos jornais

e em tudo o mais

 

Os meus poemas são atalhos

curto circuitos

auto-estradas mentais

entre mim e a verdade

pendente

 

Por não ter tempo a perder

a pensar

escrevo poesia

para prontamente

lá chegar


Vale de Salgueiro, terça-feira, 8 de Setembro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Maravilhado ando eu com o Amor


 
 


Maravilhado

ando eu

com o Amor

 

Mais do que com o Sol ou a Lua

as estrelas

o Céu

a Terra

o mar

o trovão

as aves e os aviões

que voam nos ares

e atolam a Razão

 

O Amor

esse

transborda o coração

e extravasa a mente

 

É mais do que a gente sente

 

A mais generosa dádiva do Criador

 

O prodígio maior da Criação

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Eu sabia que um qualquer dia





Eu sabia que um qualquer dia

 

Eu sabia

que um qualquer dia

havia

de lá tornar

 

Era o coração que mo dizia

 

E que ao lá voltar

tornava a muitos mais lugares

separados no tempo

espalhados mas ligados

no mesmo fio de sentimento

numa estranha conexão

que só mais tarde compreendi

 

Só não sabia

que seria

assim tão de repente

sem razão visível

nem causa aparente

e que sentiria o que senti

 

Só não sabia

que encontraria

tudo assim tão diferente

tantos espaços desertos

tanta gente ausente

tantos silêncios abertos

 

Fiquei por isso parado

calado

no doce prazer de sofrer

a recordar

tomado de nostalgia

 

Daquela galega morrinha

que ainda agora

agorinha

me não mata

mas me mói

 

Doer

de verdade

dói a saudade

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Sonho e sinto saudade


 

 

Não tenho tempo
presente
passado
nem idade

Apenas sinto
saudade

Não tenho futuro
obscuro ou risonho

    Não tenho espaço
nem sei o que faço

Apenas sonho

Não sei que coisas são paixão
rancor
penas
ou compaixão

Vivo no universo da fantasia
o mundo da poesia

Apenas sinto
amor

sábado, 31 de janeiro de 2015

Poesia que sinto e não escrevo


 

Passa nas nuvens
nos sonhos
nos desejos
a correr
fugaz

Sob mil formas de amar
e de sofrer
de vento
e de contratempo

A poesia que sinto e não escrevo

Porque não sei
não quero
não tenho tempo
ou não sou capaz

A poesia que sinto
e não sei escrever
é angústia
é tormento

Epifenómeno do meu viver