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sábado, 3 de outubro de 2015

O vento


 



É ar a voar pelos ares

o vento

 

É sopro que atiça a brasa mortiça

 

É instrumento de sopro

a tocar

talento do pulmão de soprano a cantar

perfume a atear o lume da paixão

 

É ave de asas a adejar

 

É pente que de repente despenteia

a cabeleira da mulher

e que sem querer

lhe dá poético parecer

 

É pensamento

o vento

a soprar por nós a dentro

 

É pé de povo revoltado

 

É balão de vaidade insuflado

até rebentar

 

É odre podre a peidar

 

É fole a soprar

sem ter nada dentro

 

É verdade

o vento

a varrer o lixo prolixo

das ruas do nosso viver

 

É nuvem de lágrimas

à procura de regaço

onde se verter

 

É respirar ofegante de quem quer vencer

 

É ar a voar pelos ares

 

O vento

é ar em movimento

 

Vale de Salgueiro, sábado, 24 de Janeiro de 2009

Henrique António Pedro

 

 

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