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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XIX Sempre noiva, eterna menina)




XIX
Sempre noiva, eterna menina


De tão formosa parece divina
Sempre noiva, radiosa rainha
Tantos são, sim, os seus apaixonados
Tão belos os príncipes encantados!

Não saber quem amar é sua sina
Que dela faz a eterna menina
Actriz de mil noivados adiados
Fautriz de muitos mais sonhos frustrados.

Seus amores são pungentes poemas
Ardentes diademas de dilemas:
Optar por um deita mil a perder!

Lindo sonho de amar e sofrer
É, assim, seu viver até morrer
Vida de mil amores e mil penas

Vale de Salgueiro, terça-feira, 12 de Outubro de 2010
Henrique Pedro


terça-feira, 9 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XVIII Loucuras de amar que não versejo)




XVIII

Loucuras de amor que não versejo


Desnuda-se, serena e silenciosa
Recobrindo-se de diáfano fascínio
Contemplo-a, impaciente, por desígnio
Certo de que se entregará, pressurosa

Depois, é deliciada e deliciosa
Sorrindo, cúmplice do meu raciocínio
Que me leva a perder o autodomínio
Bela, sensual, permissiva, amorosa

Tomo-lhe o corpo, que afago e beijo
Faz-me o mesmo com gritos de alegria
Entrelaçados de prazer e de desejo

Entontecidos pela mesma afrodisia
Caímos em loucuras que eu não versejo.
Descrevê-las, sim, seria pornografia!


Vale de Salgueiro, 14 de Maio de 2008
Henrique Pedro

terça-feira, 2 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XIII Paixão é ...)




XIII

Paixão é ...

Paixão é pulsão pulsante, é atração
É o fruto da sedução e do cortejo
É a chispa radiante dalgum desejo
É uma brasa acesa no coração

Que acaba por virar em negro carvão
Quando com triste e dorido arpejo
Porque o amor não logrou o seu ensejo
Se apaga sem apelo nem compaixão

Se o puro amor a alma não abrasa
Deixa o coração de ser uma fornalha
E de pronto a paixão perde sua asa

Estiola e arde como simples palha
E o tição que aceso foi rubra brasa
Acaba em cinza que o vento espalha


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 1 de Novembro de 2010
Henrique António Pedro

sábado, 29 de setembro de 2018

Uma deusa dormindo





Uma deusa dormindo


Enlevado, acordo de madrugada
Com a minha amada ainda dormindo
Em nosso tálamo de amor reclinada
Como uma deusa no sono sorrindo

Tão feliz, que decido não a acordar
Optando por ficar em fiel vigília
A inalar o doce odor de tília
Que o seu respirar exala no ar

Depois, quando, por fim, desperta ela
Finjo agora eu ainda dormir
Embora já o Sol ria à janela

Ela beija-me, sem parar, a sorrir
Sempre cada vez mais meiga e mais bela
Até que eu, sem mais, deixo de fingir


Vale de Salgueiro, sexta-feira, 26 de Março de 2010
Henrique Pedro



sexta-feira, 28 de setembro de 2018

50 Sonetos de Amor (X Fado do mal amado)



X

Fado do mal amado


Nunca houve outro amor assim
Uma tão cruel paixão entontece
Entrega tão pura ninguém merece
Nem sendo a mulher um querubim

Agora choro lágrimas sem fim
Meu pranto ao longe se esmorece
Como uma mal sucedida prece
Que amargamente se vai de mim

A fada cruel quebrou o encanto
Para sempre seu coração calou
Esta é a razão deste meu pranto

Mas a vil paixão de mim não voou
Por isso cantar este triste canto
É fado amargo que me tocou


Chaves, 8 de Março de 1966
Henrique Pedro

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

50 Sonetos de Amor ( IX Coisas que me dizes sem querer)




IX
Coisas que me dizes sem querer

Dizes-me coisas que nada me dizem
Coisas que a mim me fazem sofrer
Coisas que tu não dizes por dizer
Coisas que a ti só te contradizem

Coisas que tu me dizes sem querer
Coisas que os teus olhos bem desdizem
Coisas que contigo não se condizem
Coisas que tu dizes, mas a doer

Coisas que a ti dizes sem saber
Coisas p`ra que meus olhos ajuízem
Coisas de bem-querer, é bom de ver

Coisas e sorrisos a desdizer
Coisas que de ti mesma tão bem dizem
Coisas e coisas só p`ra me prender


Vale de Salgueiro, terça-feira, 12 de Junho de 2012
Henrique Pedro

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O amor, que é o amor?






 O amor, que é o amor?

(Decassílabo)

A todos nós nos é dado saber
E sentir aquilo que é amor
Porque é o contrário da dor
E parte vital do nosso viver

Melhor seria, sim, ninguém sofrer
Sempre sentir do amor o calor
Sem que houvesse dor ao seu redor
Vivendo apenas puro prazer

Porém, muito poucos sabem amar
E só porque não sabem bem-fazer
Acabam por o amor aviltar

Amar com o mais puro sentimento
Sem a si próprio se enganar
É pura fonte de conhecimento


(Heptassílabo ou redondilha maior)

É-nos dado, sim, saber
E sentir que o amor
É o oposto da dor
Vital no nosso viver

Seria bom, não sofrer
Sentir do amor calor
Sem haver dor ao redor

Viver só puro prazer
Não sabermos bem amar
Nem sabermos bem-fazer
É o amor aviltar

No sentir do sentimento
Ninguém se pode enganar
É puro conhecimento


Vale de Salgueiro, domingo, 7 de Novembro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 23 de setembro de 2018

Amor, pó e vento





Amor, pó e vento

A mulher mais bela e sensual

Todo o homem que se entender

Por mais afamados que se quiser

Morrem como qualquer animal

Compostos orgânicos por igual
Acabam num monturo qualquer
Para em estrume se converter
Podres, putrefactos. A cheirar mal!

Disfarçamos com perfume por fora

O pó e o vento que temos dentro

Animados de amor muito embora

 

Até que a morte toma assento

E a todos nos diz, aterradora:

- Salva-se o Amor! Não o pó, nem o vento!

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 28 de Agosto de 2008

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

50 Poemas de Bem Amar e Bem-querer ( V Basta-me o teu olhar)





Basta-me o teu olhar

Basta-me o teu olhar, sim, para começar

Que não me ignores, que não fujas de mim

Ainda que se de mim foges, por frenesim

Só a ti e não a mim estás a enganar

 

Se eu te olho com olhos de encantar

É só porque te quero bem, sem outro fim.

Olha-me com olhos de que estás afim

Então, sim, ver-me-ás a rir e a cantar

 

Mas se teimas em fugir e a não me ver

Nem assim mesmo tu me farás desistir

Apenas aumentarás meu cruel sofrer

 

E se temes que eu esteja a mentir

Pára para me ver e melhor entender

Que o amor que sinto não é a fingir

 

Vale de Salgueiro, 15 de Maio de 2008

Henrique António Pedro

                                                

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

50 Sonetos de Amor (IV O Juízo Original)



IV
O Juízo Original

Contesto o Teu critério, ó Criador
De expulsar Adão e Eva do Paraíso!
Se foi Eva a causadora do prejuízo
Porque não expulsá-la só a ela, Senhor?!

Continuaria, assim, o homem, sem dor
A viver no Éden, em seu perfeito juízo
E a mulher na Terra, se eu bem ajuízo,
Mais feliz do que é, sem o homem por tutor.

Ou será que Adão quis Eva acompanhar
Tão ardente era a loucura da paixão
Que nem Vós, Senhor, os conseguistes separar?!

Se assim foi, então, tendes toda a razão!
Só àqueles que aprenderem a bem amar
Vós abençoais e concedeis a Salvação.

Vale de Salgueiro, 17 de Maio de 2008
Henrique Pedro


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Amar e bem-querer




III
Amar e bem-querer

Ser capaz de amar e de bem-querer
Todo o ser humano é, sem condição
Não requer, sequer, esforço da Razão
Só predisposição para bem-fazer

Para todos os agravos esquecer
Abrir os braços e estender a mão
A quem nos ofende conceder perdão
Melhor é ter amigos até morrer!

Sempre dar com pura generosidade 
Amor a quem só tem dor e sofrimento
Ajudar sem interesse ou vaidade

E também a quem votamos sentimento
Darmo-nos por inteiro e com verdade
Sem esperar algum agradecimento


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Agosto de 2008
Henrique Pedro

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Com flores e versos a mim mesmo me iludia






Com flores e versos a mim mesmo me iludia

 

Abri-lhe meu coração de par em par

Sofrendo com o medo de a perder

Por assim tanto e tão bem lhe querer

Sem saber como melhor a conquistar

 

Oferecia-lhe flores de sonhar

Poemas de amor e de bendizer

Aborrecia-a, porém, sem saber

Com a minha forma, pura, de amar

 

Mas ela não gostava de poesia

Pelas flores não sentia afeição

Não a conquistava, antes a perdia

 

Só o brilho das jóias a movia

Lhe fascinava olhos e coração

Com flores e versos a mim me iludia

 

Vale de Salgueiro, 13 de Maio de 2008

Henrique António Pedro


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Crónicas secretas do Afeganistão X Elif




X
Elif


Poderá ser santa a religião
Que macula de sangue a terra
E asperge ódio pelo céu?!

E asfixia com o véu da hipocrisia
Os sonhos, os sorrisos, os olhares da mulher
E a inibe de viver?!

Não! Mil vezes não!

E poderá ser divino 
O amor clandestino?

Sim. Mil vezes sim

Puro é o sexo com nexo
Sem constrangimentos de paixão
E apertos de coração
Ainda que possa não ser essa 
A senda da santidade

Homem e mulher livres
Que se amem de verdade
Sob o véu da poesia e da fantasia conexa
Saboreiam na terra
O sabor que tem no céu
A feliz felicidade

De nada vale sofismar

Foram o amor e a verdade
Que levaram Elif a se desvelar


Afeganistão, Ponto GPS Afrodite , 20092005

Daniel Rio Livre (Repórter de guerra fictício)


Apostila:
Reunimos com a célula “Falak” da RWA (Associação Revolucionária das Mulheres do Afegão), ainda nessa mesma noite e na mais rigorosa clandestinidade. O ambiente era extremamente pesado, de grande temor e constrangimento. Ouviam-se bater os corações e percebia-se que os olhos se agitavam, por de trás das redes das burcas, sobressaltados, em permanentes entreolhares de angústia.
A conferência, toda falada em pastó, língua de que não conheço uma só palavra que seja, foi, para minha surpresa, muito breve. Todas as mulheres começaram por ser beijadas pela minha companheira turca, alinhadas e sempre de rostos cobertos, para desgosto meu. Mantive-me sempre em silêncio, embora profundamente atento ao menor gesto ou ruído, pronto para reagir pelas armas a qualquer ameaça evidente.
Depois de um breve exposição da agente turca, e sem que tivesse havido diálogo, as mulheres dispersaram rapidamente, como sombras. Ficou apenas uma que nos conduziu, por corredores esconsos a um amplo aposento, onde acabamos por pernoitar.
Tapetes e almofadas espalhadas pelo chão, uma pequena mesa com duas chávenas, um bule repleto de chá-mate, frutas e acepipes diversos era tudo que o aposento comportava.
Sentamo-nos. Continuei mantendo o silêncio e a dar a iniciativa à minha estranha companheira que, num gesto abrupto, retirou a burca e soltou os cabelos. Fiquei perfeitamente siderado com tanta, beleza e juventude. Percebi, depois, o seu olhar determinado, meigo e sofrido. 
Apercebeu-se do meu espanto. Tranquilizou-me com um sorriso, levou os dedos à testa, depois aos lábios e soprou-me um beijo convidando-me a que também eu me libertasse da incómoda farpela exterior.
Sorri-lhe e repeti o gesto. E perguntei de imediato:
- Qual é o teu verdadeiro nome, posso saber?
- Claro! Tens todo o direito, porque eu já há muito que conheço o teu rosto e sei o teu nome. – Redarguiu, e continuou:
- Chamo-me Elif Shafak Sali. Elif, para ti. Sou turca, como já sabes, com ascendentes afegãs. E muçulmana.
Não resisti, e ainda confuso de espanto por tão encantadora criatura feminina que, sem que o esperasse, se revelava a meus olhos, retorqui:
- E que razões tão fortes te levam a tão grandes riscos e provações?
- Por certo o mesmo que a ti! – Rematou com convincente doçura.
Explicar-me – ia, depois, que a reunião foi rápida porque logo no cerimonial de abertura, ou seja, no cumprimento com um beijo a cada mulher, desconfiou haver uma agente taliban infiltrada, porquanto não usava o perfume que por ela é distribuído desde Cabul.
Por isso não deu ordem para que as mulheres destapassem os rostos e lhes explicou que receberiam instruções individuais, logo que possível, exortando-as a que mantivessem a calma.
E depois, nós, sós, falamos de tudo sem saber o que verdadeiramente nos ligava e o que sentíamos um pelo outro.
Inesperadamente, com naturalidade, libertamo-nos de vestes, armas e preconceitos, de todos os temores e angústias e entramos, abraçados, em êxtase.