Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Não tapem os buracos da minha rua





Não tapem os buracos da minha rua
que eu quero ver 
neles reflectidos
o Céu
o Sol
as Estrelas
e a Lua
sempre que chover

Quero ver as nuvens a passar
empurradas pelo vento
e viajar com elas
em pensamento

Que eu quero ver
da minha janela
por detrás da vidraça
os salta-pocinhas
videirinhos
os pisa flores
a saltar de pedra em pedra
tão cheios de graça
e cautela
que acabam por pisar
na merda

Quero ver as damas emproadas
vaidosas de tanto asseio
a pavonear-se no passeio
ciosas da sua fama
serem salpicadas de lama
se algum carro passar
a alta velocidade
sem lhes ligar

Que eu quero poder manter
a irreverência de criança
e sorrir
com a esperança
de que a Humanidade
acabará por banir 
a hipocrisia
e governar-se pela Verdade

Quero eu poder viver a vida
com poesia
sem forçar o destino
e tornar a ser menino
sempre que me aprouver


Vale de Salgueiro, domingo, 14 de Março de 2010
Henrique Pedro

sexta-feira, 15 de maio de 2020

O dedo do vírus



Filósofos
Pensadores
Poetas
Profetas
Políticos
Cientistas
Santos e sacristas

Com seus génios
Fizeram história por milénios

Moldaram a Humanidade com amor
Mentira e verdade
Ódio e paixão
Paz e guerra
Por toda a Terra

Domarem instintos
Enalteceram virtudes
Ergueram a Civilização
Insana

Agora
Um vírus invisível
Incontido
Unha de um dedo desconhecido
Da mão escondida do diabo
Instrumento do pecado
Destroça a Humanidade ensandecida

Vale de Salgueiro, 10 de Maio de 2020
Henrique Pedro


domingo, 26 de abril de 2020

E se eu lhe chamar “filho da mãe”?




(Para todos os políticos que governam este País, com excepção de dois ou três a quem conheço as mães.)

Fica desde já assente
Que tu
Não és tu que me lês

É um outro qualquer
Poderá mesmo ser
Quem tu quiseres

Mas eu sou eu
Porque poeta que se preza
Finge
Mas não foge
Nem mente
Nem sacode a água do capote

Tu vais-te zangar comigo
E poderá acontecer que na passada
Eu me zangue contigo
Não vote
Antes te corra à lambada

E porquê?!
Se eu nem conheço a tua mãe
Tão pouco o teu pai

Mas eu não tenho a menor dúvida
De que és filho da mãe
Filho da República corrupta que te aleita
E a quem mamas na teta
E com a maior desfaçatez
Dizes que o fazes
Para bem do povo português
Conversa da treta
Queres é continuar a mamar

Olha, seu filho da mãe
Seu periquito!

Para a próxima
Quando me pedires para votar
Faço-te um manguito





quinta-feira, 23 de abril de 2020

Aponta-lhe um poema à cabeça e dispara!



Acaba com ele
com poesia
e de vez

Aponta-lhe um poema à cabeça
dispara
e pronto
tudo se consuma
e esfuma 
com alegria
talvez

Que descanse em paz
e sem dor
o imundo político dono do mundo
pequeno
paralítico 
grande
infame 
tanto faz

Dissolve-lhe os ossos o tempo
dilui-lhe o poder o vapor
da morte
triunfa o evento maior
o Amor

Com um pouco de sorte
a Liberdade vai continuar a soprar
sobre a Terra
enquanto houver ar para respirar
pão para comer
poesia para compor
e declamar
e sonhos para sonhar

O poderoso maior
é tão pequeno como nós

Ande por onde ande
só a Verdade é grande

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 25 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

terça-feira, 21 de abril de 2020

Já não basta votar!



É preciso fazer mais, mais e mais
Já não basta votar

O País está em crise
O Povo esfomeado
A Nação a definhar
À espera de salvação

O Estado foi espoliado
A Pátria expatriada
A República traída
A Democracia viciada
A Família pervertida 
A Língua apunhalada
A Justiça adulterada

Votar é branquear a situação
É preciso fazer mais, mais e mais
Nas ruas
Nas urnas
Nos tribunais
E nas redes sociais
Urge forçar o fim da corrupção
Que o Povo assuma seus direitos de novo
Os deveres de cidadão

Portugueses, gritai basta!
Gritai não!

A Bem da Nação
É forçoso votar bem

             Vale de Salgueiro, sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011
             Henrique Pedro




terça-feira, 7 de abril de 2020

Os donos do mundo andam a brincar com o fogo



Embriagados de poder

De fausto e falsa glória

Russos, americanos e chineses

Julgam-se deuses

Os maiores da História

 

Fiam-se na força da arma nuclear

Nas suas guardas pretorianas

Nas legiões de bombistas suicidas

Nas ensandecidas massas insanas

 

Ameaçam por o Planeta a arder

Tudo deitar a perder

E com ódio, vírus e petróleo

Imolar a Humanidade

Na pira da sua imoralidade

 

Serão donos do mundo e da guerra

Mas não são senhores da Terra

 

A turba que por ora lhe bate palmas

 Lhes comerá os ossos e as entranhas

E ss labaredas do inferno eterno

Lhes consumirão as almas

 

Não conhecem a palavra amar

Para eles uma vida não vale uma palha

Mandam matar quem lhes resiste

Os donos do mundo brincam com o fogo

O trágico jogo do Apocalipse

 

Que a Senhora de Fátima nos Valha!


terça-feira, 31 de março de 2020

Plantemos poemas nos pântanos



Não fiquemos à espera

Nos pântanos
onde vegetam vícios e vírus
por toda parte
onde germina a dor
e a paz
jaz
plantemos poemas de amor

Florirão flores-de-lis 
e de lótus
ao que o coração me diz
já na próxima Primavera

E não haverá mais fome
ou guerra
sobre a Terra

E uma pandemia de alegria
iluminará de felicidade
a Humanidade

Vale de Salgueiro, domingo, 19 de Dezembro de 2010
Henrique Pedro

sábado, 21 de março de 2020

Poeta não é profissão





Poeta não é profissão
Não

É predisposição
Estado de alma
Força da natureza
Forma de beleza

Ser poeta é como ser herói
Santo
Explorador
Aventureiro
Pioneiro da conquista do Everest
Ainda que a sua poesia não preste

Nenhum poeta se alimenta
Do pão amassado com os poemas
Que escreve

O poeta acende o espírito
Com a poesia
De que se veste
Com fantasia

O poeta é um visionário diletante
Porque a vida é um fluxo
E um refluxo
Constante
De poesia
E vento

Poeta não é profissão
E a poesia não é entertenimento
Ou ocupação

O poeta é missionário
Voluntário
E a poesia
Missão


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 15 de Abril de 2010
Henrique Pedro

sexta-feira, 13 de março de 2020

Deitei-me nu com a minha amada nua


(Desenho de carvão em papel, intitulado e datado de 1939, Almada Negreiros)


Naquela leda madrugada

deitei-me nu

com a minha amada

nua

despidos de tudo

vestidos de nada

 

O amor nos despiu de nós

a sós

a sonhar

e a Lua nos vestiu

de luar

 

Ela me envolveu e fascinou

com sua pele

de mel

e eu cobri-a com a minha

empoada de pós de brilhantina

fluorescência

da inocência

que toda a noite nos iluminou

em eterna fantasia

 

E o Sol não se pôs

nesse dia

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 24 de Abril de 2009

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 2 de março de 2020

O Deve e o Haver do Amor



O que é a Felicidade
na verdade
não sei

Também o que é a Verdade
não tenho a felicidade
de saber

Da Felicidade conheço, porém
o paladar
e da Verdade
o querer

O sabor da Felicidade é o Amor
e o sentido da Verdade é o dever

A Verdade é o deve
a Felicidade o haver

Verdade e Felicidade
só podemos almejar
por via de amar
sofrer
e bem fazer 


Devemos amar
para havermos amor


sábado, 15 de fevereiro de 2020

Luar de saudade





Vivo voando no tempo
no seio da saudade

Ventos de amor suavizam a dor
e assim o afastamento
não me dói tanto
tão pouco há lugar para pranto
apenas espaço para recordar

Ainda que a verdade
seja nua e crua
como a Lua
que me encanta
só de a ver
mas que de tão distante
me quebranta

Contenta-me contemplar o luar
a sofrer
de saudade

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 20 de Novembro de 2009
Henrique Pedro

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Em decúbito dorsal




Acordo mas deixo-me ficar deitado
absorto
desperto
enlevado

Em posição de decúbito dorsal
de mãos atrás da nuca 
a olhar o tecto
sem nada ver
nem sofrer de qualquer mal
apenas a pensar
porque magia
se dormia 
porque despertei

Apenas à espera
que o despertador toque 
à hora para que o regulei
antes de me deitar

Já a obscuridade do quarto
é rasgada pelos raios da aurora
já lá fora se ouvem chilreios
tomado eu dos anseios
da saudade
não sinto pressa de me levantar

E porque haveria eu
de sentir pressa de me levantar
antes do despertador
tocar?

Só porque acordei antes da hora para que o regulei?

É assim o amor
é assim a saudade
assim é o dom de amar

Um despertador que nos desperta sem hora certa
estejamos ou não acordados
só com pressa de regressar


in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Uma solução sem Deus




Para tudo que me rodeia
E não compreendo
E mais me angustia
Procuro uma explicação
Uma solução sem Deus
E sem mais fantasia

Para o Universo 
Próximo e distante
Para o Cosmo que pressinto
Em cada gota
Em cada verso
Em cada célula

No aroma da flor
No arco-íris das asas da libélula
No fel das folhas do absinto
Nas modalidades do amor

Procuro uma solução sem Deus
Para a angústia atroz que me atormenta
Sem perceber porque sofro
Nem a razão de ser e de estar aqui
E não além
E de a vida ser
Nada mais que um sopro
Uma causa perdida

Procuro uma solução sem Ética 
Ou Estética
Sem Moral
Sem Mal
E sem Bem

Uma solução que ignore a Razão
Porque raciocinar
Não me impede de morrer

Procuro
Não encontro
Mas também não esmoreço

Esboroo-me em dor
Como a pedra de xisto
Percebo que só no amor
De Deus
Me restabeleço

Com a mediação
Da palavra
De Jesus Cristo
 
Vale de Salgueiro, quinta-feira, 29 de Janeiro de 2009
Henrique Pedro




segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Tantos são os sinais que nos dais, Deus!





Tantos são os sinais
que nos dais
Deus
quando amamos
a dizer-nos que amemos ainda mais
e mais

Tantos são os sinais
que nos dais
Deus
quando bem fazemos 
a dizer-nos que bem façamos ainda mais
e mais

Tantos são os sinais
que nos dais
Deus
quando sofremos
a dizer-nos que teremos que sofrer
ainda mais

Mas porque havemos
nós
de sofrer mais
e mais
e mais
Deus?!

Porque temos nós que sofrer
para aprender
a amar
meu Deus?!

E porque só pela dor
nos  dais a conhecer
o Amor
meu Deus?!

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 20 de Outubro de 2010
Henrique Pedro


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Qual o valor do amor no mercado?





O amor cotado no mercado
sem o sentir do coração
tem baixa cotação
é pecado
é prostituição

E eu não vendo a minha paz interior
seja porque preço for

Não troco a felicidade genuína dum amor verdadeiro
pelas bacias diamantíferas da África do Sul
pelos campos petrolíferos da Arábia Saudita
por todos os camelos do deserto do Sahara
ou pela riqueza inaudita contabilizada em Wall Street

Nem mesmo pelo mundo inteiro
por todo o ouro guardado em Fort Knox
pelo poder instalado na Casa Branca
tão pouco pela glória das maiores estrelas de Hollywood
do futebol
da música
ou da dança
seja qual for a cor do dinheiro

Por nada deste mundo
por tanta coisa fútil que nada me diz
e que à Humanidade e à verdade
não acrescentam nada
apenas desesperança

Mesmo sabendo que até o amor e a paz
são  tão efémeros como o sorriso de criança

Meros mas decisivos sinais 
da Felicidade maior
que é amar mais e mais

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008
Henrique Pedro