O Portal da Felicidade
Montei tenda num descampado
ermo
isolado
e sempre ia perguntando
a quem por lá passava
se era ali que a felicidade morava
Nada
nem ninguém
na verdade
me garantia que era ali que ela vivia
embora por todos e toda a parte
fosse procurada
Mas um jovem que de tão apressado me pareceu feliz
e bem informado
sôfrego
sorriu
e sem se deter
acabou por me dizer
apontando em direcção incerta:
«É só entrar. Nem precisa de bater!»
Olhei à roda
vi uma porta entreaberta
de que me não dera conta
que irradiava uma luz rara
em direção a mim
que de pronto me seduz
Bati
com a timidez de um aprendiz
ainda assim
na esperança tonta
de que naquele descampado
ermo
silencioso
isolado
talvez eu fosse um predestinado
Porém
alguém de dentro e de pronto apagou a luz
me bateu a porta na cara
e diz gritando:
«Vai procurar a felicidade noutro lado, malandro»
«Não aqui!»
Ainda assim não desisti!
Foi então que um trôpego ancião
que caminhava devagar
porque trazia às costas a vida moribunda
depois de se sentar no chão
indiferente à barafunda
acabou por me dizer que se eu queria saber
onde a felicidade habitava
teria que primeiro bater
a todas as portas do mundo
E acrescentou
certeiro
esta sentença profunda
fixando os olhos em mim:
«Se de dentro responderem que sim
mais certo será
lá morar apenas a ilusão
mas se ninguém responder
então
de certeza que também aí não é
de verdade»
Ainda assim
não desisti!
Porque aprendi agora
que a porta da felicidade
abre directamente
para Eternidade
É lá que ela mora
Vale de Salgueiro, terça-feira,
14 de Setembro de 2010
Henrique António Pedro