Todos somos a um tempo bons e maus
Os aviões rasam a floresta
Alongados de velocidade
E com a raiva própria
De quem não sabe
Aonde é o infinito
E na quietude do cair da tarde
Caiem bombas
Que ferem o silêncio
De quem esperava coisa nenhuma
Àquela hora morta
Para quem acaba de morrer
Mesmo assim daremos as mãos
Todos somos a um tempo bons e
maus
Todos somos irmãos
E pelos trilhos apertados
Há feros guerrilheiros
Transportando silêncios
Granadas e morteiros
Que cavam buracos no ar
Como se estivera ali a paz
sepultada
E a saudade dos homens é
interrompida
Por estampidos dirigidos
Inacreditados
Que podem muito bem vir a ser
Notícia amarga
Mesmo assim daremos as mãos
Todos somos a um tempo bons e
maus
Todos somos irmãos
Mueda
(Cabo Delgado), 10 de Fevereiro de 1972
Henrique
António Pedro
in
Poemas da Guerra, de Mim e de Outrem (Ed.: 2000)
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