CHARLOTTE
(Os sofrimentos do jovem Werther)
Na fase mais romântica da minha
vida
Em plena alvorada da minha afirmação
social
No amor como em tudo
No bem e no mal
Todas as minhas opções de
futuro
Devidas e indevidas
Eram romanescas e puras
Aquele amor era mútuo
Tão profundo e desmedido
Quanto louco e imprevisível
Mas… oh mor crueldade!
Dolorosamente impossível!
Eu descobria o Wherther de
Goethe em mim
Ela a Charlotte nela percebia
Eu sofria e ela também sofria
Porque esta minha Charlotte
Com idêntico amor me
correspondia
Forçados pelas circunstâncias
Acordamos que cada um nós
Calaria aquele amor dentro si
Deixando que o fogo da paixão
Ardesse lentamente no segredo
do coração
A coberto de toda a gente
Sem outro confidente
Nem o mais leve grito de razão
Assim nos vingaríamos do
destino
Das mentalidades sem tino
E da cruel sociedade a quem
repugna a verdade
Parti sem lhe dizer adeus
Para fugir à dor da despedida
Por não suportar a saudade
De a saber e sentir ao pé de
mim
De a amar sem o poder
Nem tão pouco a poder ver
Entristecida
Afastado de Charlotte desde
então
Vá eu para onde for agora
Lá está ela
Sempre
A arder na minha lembrança
E como eu a sofrer calada
Resignada
Um amor que a ambos consome
Cada vez mais ardente e silente
Mas que ninguém mais pressente
Sofro os mesmos sofrimentos do
jovem Wherther de Goethe
Mas não cometerei suicídio
Embora maior martírio do que assim
morrer
É sentir Charlotte a sofrer
Do mesmo amor
A viver uma vida de dor
Aborrida
Henrique António Pedro
Vale de Salgueiro, 4 de Março
de 2008