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quarta-feira, 21 de junho de 2023

A SEREIA DO AÇUDE DE MIRADEZES


 

A SEREIA DO AÇUDE DE MIRADEZES

(Sereia de água doce) 


Sento-me

Numa pedra

No idílico açude de Miradezes

Onde por vezes

Me refresco e reflicto

 

Eis que num gesto inusitado

Se vem sentar a meu lado

Uma jovem sereia

Despida

De biquíni amarelo ajustado

Ao corpo mais belo

Que alguma vez já vi

 

E me sorri

Sedutora

Escultural

Monumental tentação

Enquanto com o dedo polegar do pé

Acaricia as águas mansas

Do meu rio Rabaçal

Que corre manso

No pino do Verão

 

À falta de melhor ideia

Falo-lhe de poesia

Com alegria

 

Qual não é o meu espanto

Porém

E sem que lhe haja dado motivo para tanto

Começa a brincar comigo

Amorosa

E maliciosa

Também

 

Provoca-me

Com desenvoltura

Agrarra-me na mão

Sinto-me perdido

De desejo

Seguro a dela

Num ápice dá-me um beijo

Na face

E zás…

Lança-se à água decidida

Arrastando-me com ela

Para uma líquida aventura

 

Mergulho de cabeça

Surpreendido

Perco-a

Recupero o sentido

Abraço-a

Escapa-se

Volto a segurá-la

Já não me escapa

Tento beijá-la

Aconteça o que aconteça

Diz-me que não

E rende-se

Para vencida

Me pedir perdão

 

Deu apenas para ficar a saber

Sem fantasia

Que o corpo das sereias de água doce é escorregadio

Causa arrepio

E que a poesia

Por vezes

É afrodisíaca

 

Numa praia fluvial paradisíaca

Como a do açude de Miradezes

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 11 de Julho de 2008

Henrique António Pedro


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