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quinta-feira, 15 de junho de 2023

MARIA PAPOILA

 


MARIA PAPOILA

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

 

Não!

 

Não és tu que voltas

nem é a ti que reencontro

 

É a minha memória

que ainda te não deitou porta fora

que ainda te não pôs na rua

 

A ti nunca te conheci

assim

como

hoje

és

 

Nem eu sou o que fui

outrora

 

Hoje sou outro

sou diferente

 

Tu és o passado

eu sou o presente

 

Nós nunca nos conhecemos

e dificilmente nos voltaremos a conhecer

 

Nem vamos reiniciar

nada de novo

não importa chorar

 

Agora

és só actriz secundária de um filme mudo

de reposição

em que o matraquear da máquina

manual

é o bater surdo

do teu coração

 

Um filme que revejo

na pequena sala de cinema

da minha lembrança

mergulhada na obscuridade

e na solidão

 

Pediste-me a verdade

sem fantasia

 

Dou-te a versão

nua e crua

da poesia

 

Henrique António Pedro

Vale de Salgueiro, 8 de Dezembro de 2013



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