Desisto
de ser poeta
cansei!
Duvido mesmo
que algum poeta algum dia
tenha ganho qualquer batalha
embora
a poesia a todos valha
É sabido também
que ser poeta é profissão de alto risco
é
ser-se fora da lei
proscrito
embora
a arte poética seja uma ética
Por isso os ditadores filhos das mães
não perdoam aos poetas
a quem por regra mandam abater
como cães
Desisto
de ser poeta
cansei!
Depois, que gozo dá ser sepultado
num
qualquer Panteão Nacional lotado
lado
a lado com futebolistas e sacristas?
Ou ser representado
decepado
sem
tronco e sem membros
em frio bronze
num qualquer recôndito recanto
dos recantados Jardins Municipais
para gáudio de pombas e pardais
que
ali pousam para defecar?
Desisto de ser poeta
Por
mim
por tudo isto
e por nada mais
A partir de agora
passarei a escrever poemas apenas por puro amor
a escrever só por escrever
somente pelo prazer que tal me dá
Muito embora com a secreta esperança de que alguém os irá ler
com
alegria
e gostar
Desisto
de ser poeta
não
da poesia
já
se vê
só por
amor a quem me lê
Vale
de Salgueiro, terça-feira, 8 de Junho de 2010
Henrique
António Pedro