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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Amor sem rosto





Não lhe conheço o rosto
nem a voz
nem a cor
Mas tenho-lhe amor

Disfarça a face
nas imagens em que se abre
e se fecha
em segredo

E quanto mais se cala
mais a sua fala
me exaspera
mais dolorosa se torna
a espera
e mais me envolvo com miragens

Sonho súcubo em que me enredo
será que tem alma?
Que é seu o corpo?

Alma tem
que lhe pressinto o sopro
corpo não sei
que ainda o não amei

Será que a amo
e a não conheço
porque a não mereço?

Amar assim resoluto
em pura fantasia
um amor sem rosto
indiferente à dor
apenas indicia
o carácter absoluto
do amor

domingo, 21 de abril de 2013

Amor pretérito passado simples






O nosso amor já não é
Foi!

É pretérito passado simples
simplesmente

Este amor já não é!
Ponto final

Teria sido, fora
quando também tu me amavas!
Pretérito passado composto

Ponto e vírgula

Este amor já não é!
É, ainda!
Pretérito mais que perfeito

Fora sim
amor
se..

Reticências

Este amor já não é!
É!

Presente do indicativo

Agora se cumpre
na memória
plenamente

Com todo o impacto
das coisas boas e más
que subsistem em nossas vidas

Dois pontos

Este amor já não é
Será!

Futuro condicional

Lembrança pura
enquanto dele memória houver

Ponto de interrogação

sábado, 20 de abril de 2013

Amar mais e mais




Os meus olhos
não vêem além do horizonte
e os ouvidos não escutam mais que os sons e os ruídos próximos
fugidios

As mãos não tacteiam mais que a pele de corpos
e a superfície dos objectos

O coração apaixona-se sem sabe porquê
e o cérebro apenas suporta uns quantos cálculos, associações e deduções

O meu espírito angustia-se
e oprime-me a ansiedade
porque não sou livre
porque estou limitado
encarcerado
dentro de mim

A olhar o mundo e o cosmos
por uma estreita fresta
por onde mal passa a luz

Mas o meu espírito anseia por ver mais
tactear mais
ouvir mais
amar mais
e mais
e mais

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Amo-a quando…




Amo-a quando…
a olho
lhe falo
a desejo
a afago
a beijo

Quando grito ao vento
a minha paixão
e sem remissão
lhe declaro o meu amor
para todo o tempo

Amo-a quando
sonho o futuro de sonho
com ela
quando nos amamos
ou sofremos em comum

Quando sinto as suas dores de parto
quando dela me aparto
a sofrer
mas forte bate o coração
e sem razão
sinto medo de a perder

Amo-a quando escrevo versos
sentidos
mas banais
como estes
que
só porque a amo
são para mim
poemas geniais

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Escadas helicoidais




Surgiu-me esta ideia
quando subia as escadas que todos os dias subo
quando me vou deitar

Poderia ter-me surgido ao descer
depois de acordar
o que seria bem mais difícil
porque sempre desço mais atento
aos passos
mais ainda que às ideias
porque maior é o risco de tropeçar
e de cair

Por isso nunca liberto as ideias
ao descer
e antes me seguro ao corrimão
com uma mão
para as não deixar fugir

São umas escadas altas
em madeira de castanho
enroladas
de formato helicoidal
que dão acesso a uma varanda
interior
que
como se vê
também me conduzem por mim a dentro
quando me vou deitar

Sendo que o mais certo
será com alguma coisa sonhar
enquanto durmo
de espírito ao léu

Escadas de sonho
que sempre que sinto sono
subo
como se subisse para o céu

Surgiu-me esta ideia
ao subir as escadas que todos os dias subo
quando me vou deitar

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A poesia é uma farsa






A poesia é uma doce aldrabice
uma momice

Uma mistificação
rimada
declamada
cantada
decantada
e nem sempre bem intencionada

É um paradoxo
uma pirueta
uma falha da razão

Um chorrilho de mentiras
e fantasias

A poesia é uma farsa
em que o poeta
com versos se disfarça

É um caminho não ortodoxo
para a redenção

sábado, 13 de abril de 2013

Amo-a, mas…não gosto dela




Amo-a
mais do que devo
mas…
ainda assim
lhe digo
que não gosto dela

Gostava sim
que ela fosse diferente
ou me fosse indiferente

Gostava de a amar
e dela gostar
tal como é
e como ela quer
mas…
sinceramente
não gosto de dela!

Diz-me ela
que não há mas
nem meio mas
que é puro engano

Ou a amo
e gosto de dela
assim
como é
ou não amo

E que só assim
também lhe gosto
isto é
só assim ela gosta de mim

Pois é
será!
É esse o meu desgosto

Saber que a amo
mas que não gosto dela
e que assim
mão lhe gosto


Amo-a
não gosto de dela
mas…

ainda assim
a quero

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A minha aposta é inundar o mundo de poesia




A minha aposta é inundar o mundo
de poesia

Colher poemas na natureza
e na vida
e lançá-los nos ares
com a devida leveza
para que as aves
as rádios e os jornais
as televisões e as redes sociais
os semeiem nos corações
e a poesia se torne
no motor das multidões

Para que a ninguém falte a paz
nem o pão
no dia a dia
e sempre sinta alegria
em seu coração

Para que a angústia de sofrer
se dilua em melodia
e o desassossego
seja só
o enlevo de viver

E para que assim
a poesia se cumpra
por fim
como augúrio
da nova humana condição

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Luar




Passo um braço pelos teus ombros
com doçura
e tu abraças-me pela cintura

Assim abraçados
e para Sul voltados
as nossas silhuetas recortam-se no luar
sob a abóbada celeste azul
brilhante
ponteada de estrelas
em incessante bruxulear

Dizes-me que gostarias de viajar
até à estrela mais distante
a mim assim abraçada
e perguntas-me em que penso eu

Penso numa estrela mais próxima
cujo coração sinto cintilar
aqui
penso em ti
respondo
inebriado de paixão

A noite ilumina-se com o teu sorriso
abraçamo-nos ainda mais forte
voltados agora um para o outro
cada um para o seu norte
recortando o nosso amor
no luar

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nem a mim nem ao mundo






A vida é uma frustração
o cosmos um caos
e o universo
pouco mais que  um verso

O amor
é uma flor
e a Terra
dizem
um paraíso perdido

Dor
é aberração
e sofrer
não tem sentido

Eu
vagabundo
apesar do muito que já vivi
amei
e sofri
continuo sem me entender

Nem a mim
nem ao mundo

Forçoso é viver

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Aqui tão perto de nós, o Além




A vida

não é o momento em que vivemos

começa antes de nascermos

e vai mais além

 

Mas não é além

no horizonte

o Além

 

É já ali

numa avenida da vida

na angústia perdida

aqui

além

ao virar da esquina

da ilusão

 

A norte da morte

a sul da saudade

oriente da esperança

poente da ambição

dança e contradança

do coração

 

Viver e morrer

é destino de toda a gente

infortúnio e felicidade

mentira e verdade

inexoravelmente

 

Todos para lá vamos

ninguém de lá vem

do Além

velhos ou novos

trôpegos

sôfregos

mais velozes que qualquer avião

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

AQUI…




Aqui, cume do monte dominante
De um reticulado curvilíneo
De colinas moldadas no fascínio
Da alma do poeta diletante

Aqui, nasceu, em mim, a poesia
Pela magia do amanhecer
Com reflexos de fé e bonomia
Que também brilham ao entardecer

Aqui, sempre me quedo, radiante
À hora que o Sol se põe, sanguíneo
Por detrás do horizonte distante

Aqui, face ao Mundo a sofrer
Ao Senhor dos Aflitos eu pedia
Não deixasse, Ele, de lhe valer…


Vale de Salgueiro, domingo, 10 de Agosto de 2008
Capelinha do Senhor dos Aflitos (Alto da Serrinha)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Vivo ameaçado de morte




A vida não passa
de permanente ameaça
de morte

Tenho medo!

Sinto-me perseguido
angustiado

Esperava melhor sorte

Sou forçado a viver
condenado a morrer

Procuro
por isso
um lugar seguro
no Universo
longe ou perto
onde me possa esconder
e refugiar

Para lá me libertar
poder livremente viver
e amar
sem sofrer

E sem ter que pagar
o preço de perecer

terça-feira, 2 de abril de 2013

A uma poetisa sublime




Maior é o meu enamoramento
agora que se cumpre mais um ano
deste fastidioso afastamento

Componho um ramo de versos perfumados
colhidos no âmago do meu jardim
e floridos em rimas de ternura
que enfeito de mil beijos e desejos
aspergidos com o viço das rosas
e a candura do jasmim

O mesmo mágico perfume
com que me incensavas
e me enfeitiçavas
tu
a mim

A que junto um cartão de oiro debruado
alvo como pétala de açucena
completamente virgem e branco
para que sejas tu
com o teu génio e encanto
a gravar nele o teu melhor poema
que eu sei
fala
do teu amor
por mim

Ramo que ato
com forte e terno abraço
e remato
com o esplendoroso laço da amizade
selado com o selo da verdade

E que remeto
pela via da saudade

^^^^

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Andava eu poetando por aí




Andava eu poetando
por aí
e além

Pintando
e musicando paisagens interiores
cenários da razão
veredas do coração
olhando a paixão
com desdém

Eis senão quando
o Universo desmorona

Tropeço numa candente estrela cadente
na lembrança de um amor ardente
que foi
mas já não é

Ou será que não será?!

Não!
Foi apenas uma explosão de saudade
que tudo deitou a perder
e mais me fez sofrer

^^^^^^

sexta-feira, 29 de março de 2013

ALELUIA! (Αλληλούια, HalleluJah)


                   ALELUIA!

(Αλληλούια, HalleluJah)

 

De Jesus Cristo apenas sei

o que a História me ensina

mas a luz da Sua doutrina

que me ilumina o coração

neste tempo sem Lei

em que o mundo desespera

ganha cósmica dimensão

na minha frágil razão

 

É o Cristo do Advento

o Jesus de quem espera

o fim do sofrimento

 

É o Amor que não esmorece

é a Páscoa que acontece

em cada Primavera

 

É refrigério da dor

dádiva total de Amor

explosão de Alegria

Αλληλούια, HalleluJah, ALELUIA!

Ressurreição

 

É o Deus de quem resiste

e de Amar não desiste

nem de em paz Viver

 

É a Fé verdadeira

a Esperança derradeira

de que libertos de todo o mal

havemos de nos salvar

e deixaremos de sofrer

 

É o Cristo da Kenose (1)

a gloriosa metamorfose

de Deus que à Terra  veio morrer

para a Si mesmo Se ressuscitar

e ao Céu reascender

 

É o Jesus Cristo da Parusia (2)

que em glória e alegria

à Terra irá voltar

para a todos nos salvar

 

Αλληλούια, HalleluJah, ALELUIA!

 


(1) Kenose- A completa auto-doação no amor, como descrita por São Paulo no seu Hino aos Filipenses, 2, 6-9.

(2) Parúsia-A segunda vinda de Jesus Cristo à Terra.

 

Vale de Salgueiro, 22 de Março de 2008

Henrique António Pedro

quarta-feira, 27 de março de 2013

Poema impresso no pó do caminho




À ida
deixo poemas
suspensos no ar
e os rastos dos meus passos
impressos no pó do caminho

À volta
já a brisa do fim da tarde
lhes deu descaminho
desemaranhou os dilemas
e alisou as arestas dos rastos

Outros transeuntes vieram
os pisaram e deformaram
mas seria a chuva telúrica
a apagá-los definitivamente
dissolvendo o pó em lama

Poderiam ser maciços graníticos
piramidais
anónimos
erigidos no deserto
que teriam o mesmo fim
embora mais lenta fosse a agonia
ou mais funda a chaga
ainda assim

Mas os meus poemas têm o meu rosto
são os rastos indeléveis dos meus passos
que ninguém que preste
apaga
mesmo se os ignora
e não lê

Encontram-se
permanentemente
a perderem-se
na imensidão do Cosmos
e só o vento celeste
os dilui na eternidade

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