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domingo, 19 de fevereiro de 2017

À paixão trá-la o desejo e leva-a o vento




Para a paixão se formar
e nos prender
nas pernas da centopeia
nos queimar no lume
do ciúme
e fazer sofrer
basta um ar
ameno

Basta uma brisa
um aceno
uma doce melopeia
um toque de realejo

Um olhar expressivo
sem motivo
um gesto impensado
um sorriso calado

Um prazer a menos
e um desejo a mais

 A picada dum percevejo
um beijo 
uma inesperada emoção

E o adejar duma mosca
uma palavra tosca
um vento a destempo
para a transmutar 
em tormento
num vendaval de desilusão

À paixão
trá-la o desejo
e leva-a o vento

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 6 de Abril de 2011
Henrique Pedro


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Tristeza deliquescente




Esta melencolia que me assola
em dias de chuva aborridos
ou quando o sol poente
me deixa lânguido da saudade
de quem anda ausente
estando embora presente
é uma tristeza deliquescente
mais própria dos vencidos

Abandono-me à nostalgia emergente
e paro de me angustiar
viro as costas às perguntas do costume
que sei
de antemão
não terem respostas

É quando uma morrinha miudinha
me toma os sentidos
a ponto de não me sentir nada
nem ninguém
magma
ou matéria
nem em nada materializado
em nenhum estado de espírito realizado

Fico sem saber se ainda estou aqui
ou se já vou além
se a poesia é coisa séria
ou não passa de uma pilhéria

Até que o ensejo de um bocejo
me faz despertar dessa sonolência demente
e retomar a vida corrente



sábado, 11 de fevereiro de 2017

Grito!



Consola-me constatar
que mesmo no escuro
consigo sentir

E pensar

Aprisionado nas frias masmorras da dúvida
e da angústia
onde apenas entra alguma luz
difusa
pelos olhos
e alguns sons
estereofónicos
pelos ouvidos
sinto-me amarrado a tudo que transporto comigo
e de nada me valem músculos e membros

Desesperado
agarro-me às grades e grito
no silêncio

Grito pelo carcereiro
na esperança de me fazer ouvir no universo inteiro
e de que alguém me virá libertar

Mas apenas ouço os meus gritos ecoar
e ressoar
dentro de mim
como em poço sem fundo

Porque é em mim que estou preso
numa prisão do tamanho do mundo

Apesar de tudo
consola-me constatar
que mesmo mudo
consigo gritar



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Um poema e dois dedos de angústia





Ando angustiado
por tudo
e por nada
embora esteja certo de não ser demente
nem estar doente
ou andar enamorado

Sinto-me sem valor
nulo
inseguro
com medo de tudo

Fico quedo
enfadado
tomado de desconhecido temor

Angustia-me o futuro
amargura-me o passado

Se tento não me angustiar
uma maior angústia larvar
acaba por se impor
contrária ao meu querer

Tem tudo a ver
com este mundo malvado



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia





A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

 

São boas recordações ainda assim

embora me mortificam e desalentem

porque o tempo e o vento as transformam em saudade, soledade e nostalgia

e me deixam aborrido

ferido

sem alegria

à procura de novo sentido para a vida ainda não vivida

 

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

 

A mesma saudade que, contudo, se transmuta em apelo do futuro

em fé no devir

em razão de ser e sorrir

por força de quantos não amei tanto quanto devia ter amado

e de tudo que não vivi

 

Ainda estou em tempo de remir ainda assim

 

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

mas ainda assim poderei mais amar

com redobrada soledade e nostalgia

 

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

esta elegia da saudade

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 27 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Luar




Passo um braço pelos seus ombros com doçura
e ela abraça-me pela cintura

Assim abraçados
e para Sul voltados
as nossas silhuetas recortam-se no luar
sob a abóbada celeste azul
cintilante
marchetada de estrelas
em incessante bruxulear

Diz-me que gostaria de viajar
até à estrela mais distante
a mim assim abraçada
e pergunta-me em que penso eu

Penso numa estrela mais próxima
cujo coração sinto cintilar
aqui
junto a mim
penso em ti
respondo
inebriado de paixão

A noite ilumina-se com o seu sorriso
abraçamo-nos ainda mais forte
voltados agora um para o outro
cada um para o seu norte
recortando o nosso amor
no luar



sábado, 28 de janeiro de 2017

Um poema e um prato de feijão



 

Gosto de ler e declamar poesia

soneto

odisseia

uma simples quadra que seja

que comporte alegria

e uma ideia imaculada

 

Como gosto de feijoada à brasileira

ou à moda transmontana

embora aceite que não é comida ligeira

sobretudo se comida à fartazana

 

Embora também haja poesia que mete dó

e humanos que fazem doer o coração

porque morrem à míngua, tão só

por não terem um prato de feijão para comer

e muito menos um simples poema saibam ler

 

Não estou certo, porém

nem de longe nem de perto

que basta ler um poema e comer um prato de feijão

para se alcançar a Salvação

 

Mas estou em crer com verdade

que um poema e uma feijoada

confecionados com amor  e com arte

ou um simples naco de pão

resolveriam em grande parte

os problemas da Humanidade

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 18 de Março de 2009

Henrique António Pedro

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Deus faz barulho demais



Deus faz tanto barulho
que só não O ouve quem não quer

Aqui na Terra
porque lá no Céu
parece ser silencioso
porque não são precisos ouvidos para ouvi-Lo
nem olhos para enxergá-Lo
e há luz suficiente para nos iluminar

Por isso as estrelas nos piscam os olhos
e falam baixinho

Aqui na Terra, porém
Deus
faz barulho demais
para os ouvidos dos pobres mortais

Talvez para Se fazer ouvir

São os trovões
as tempestades
os vulcões
as ondas do mar

Será que Deus não tem
outras formas de Se revelar?

Eu diria que sim
que tem

Por mim
ouço-O na sinfonia do Amor
vejo-O no halo das Cores
cheiro-O no aroma das flores
imagino-O no Universo sem medida
e sinto-O no mistério da Vida
no magistério da Dor



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A alma tal qual a sinto




A alma tal qual a sinto
não é branca
ou negra
etérea
ou sequer vaporosa

É uma luz interior
cor-de-rosa

Um vórtice de amor dentro do meu ser
que anseia tudo abraçar em redor
ao som de uma cósmica orquestra sinfónica

A Terra
o Céu
as Estrelas e Galáxias
o Universo inteiro
e tudo devolver à vida
em explosão cósmica de amor

A alma tal qual a pressinto
é um sopro
de pensamento

Sou eu e meus eus
sem corpo
feitos vento
a voar
para Deus



quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Será amor, a paixão?




Será amor, a paixão?

Entre um homem e uma mulher

sempre poderá haver

uma relação de amor


Que poderá ser amizade

de verdade

ou mesmo se converter

numa assolapada paixão


Mas será amor, a paixão

quando reclama exclusividade

é marcada pelo lume do ciúme

e é prisão?


O amor é partilha

ágape

liberdade

inclusão


A paixão

por si só

não é amor, não

é antes fonte de dor

obsessão


Entre paixão, ódio ou indiferença

o amor faz a diferença


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 24 de Novembro de 2010

Henrique António Pedro



terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A alegria triste de Inverno



Inverno

Inferno frio
acinzentado

Céu coroado de nuvens
que me fazem refém
do silêncio denso
pesado
compassado
que se instala por mim a dentro

Frio fino que me morde a pele
me penetra e me pica
os ossos e os músculos

Inverno

Ténues crepúsculos são os meus dias
e as noites distendidas
nostalgias de labaredas
acesas
na alma

Tempo de calma
de reflexão
hora de resistir
de me despir por dentro
e me vestir por fora

Sangue a ferver no coração
a implodir de liberdade
e a explodir de caridade
e paixão

Inverno

Uma alegria triste
que em mim persiste



domingo, 8 de janeiro de 2017

Ofereço poesia. Aceite!




Arranco raízes da alma que embalo em versos
orvalho-as com o sangue fervente do coração
e lanço-os ao vento pensando nalguém
que as poderá apanhar
e sentir
que é toda gente

Outra coisa não tenho para dar a quem me pedir
apenas ideias e afectos
para oferecer
glórias ilusórias
nada que se possa comprar ou vender

Ofereço poesia ainda assim
dou tudo de mim
que é tudo quanto tenho




quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Sons surdos de saudade





Silêncios dilacerantes
rasgam-me o peito
e trazem-me desfeito
com o sentimento
de que a perdi

Ruídos que me roem por dentro
sons surdos de saudade
ecos de ansiedade
ondas de impaciência
geradas pela sua ausência

Abro os braços ao ar
na esperança que o vento
para ela me leve
a voar
ou assim a traga de novo
leve e livre
para mim

O vento do destino, porém
com desdém
só me deixa mais só
bobo
e sem tino



(*) Do meu baú de recordações
  
Cascais, 16 de Setembro de 1970

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Amar sem sentir o coração bater



A minha fé não vai além da minha angústia

Sinto que ainda não é
sequer
a minha crença
nem o meu querer

A minha fé
não passa de uma graça da desgraça

Ainda não é a luz do amor interior

Mas eu tenho a esperança
de um dia
poder
ver
sem precisar de olhos
para enxergar

Nem de ouvidos para ouvir
ou do cérebro para pensar

Sequer de sentir o coração bater
para a amar



domingo, 1 de janeiro de 2017

Quando a alma nos dói



O corpo
quando nos dói
dói-nos por partes
nunca nos dói todo
inteiro
apenas em parte
nos dói

Dói-nos um pé
uma mão
o peito
o coração
cada um com sua dor

E quando sentimos prazer
também sentimos por partes
distintas formas de gozar
cada uma com suas artes

Sentimos o tacto
o sexo
o sabor
o olfacto
o ouvido
o olhar

Mas a nossa alma
quando ama
ou sente dó
sofre e ama inteira
toda
verdadeira

Porque a alma é una
uma só