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sexta-feira, 27 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO X – Cavaleiro Andante das Areias




Figura rara
Sem escudo nem laçarote
Cavalgo sem cessar
Sobre o dorso de um dromedário
Ondulante
Qual Quixote das ideias
Cavaleiro andante 
Errante nas areias do Sahara
Sem ter aonde parar

Sem escudeiro
Sem Sancho
Nem Pança
Nem lança

Este o sentido da minha poesia
Sendo que a minha Dulcineia
Me espera noutro lado
Distante
De angústia são as dunas em que me deito
E me servem de leito

Tomei partido pelo Bem
Sem olhar aonde
Nem a quem

Sendo que só com poesia se humaniza a guerra
Se suaviza o deserto
Se semeia oásis
Se planta a paz na Terra

Com o amor que se faz
E o a amor que se dá

Esta a minha maior vocação
Ser como S. João da Cruz
Como Francisco de Assis
Fardado e de arma na mão

Esta a angústia da minha contradição

(Algures no Deserto do Sahara)
 iii-v-mmix

quarta-feira, 25 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO I X – Vivo de ar, água e oração





Não é miragem
É milagre!

Ergo-me num derradeiro sopro
Pressinto-lhe o cheiro
A frescura envolvente
A minha alma está silente

Uma alegria indizível me revigora o corpo
Me embriaga o espírito
E alegra o coração

Corro!
Com as forças que já não tenho
Mas que acredito tererei
Depois de beber
E de me dessedentar

Paro!
Terei que me matar para beber?!
Olho em redor
Não vislumbro vivalma

É morrer o preço de beber?

Viva ou morra
Beberei!

Bebo
Com sofreguidão
A paz
Por fim
Se instala na minha Razão

É a Água
Não a Terra
A nossa mãe

Em terras de xisto
Cristo é o pão

De ar e de água se alimenta o corpo
À alma basta uma oração

(Algures no Deserto do Sahara)
 xxx-iv-mmix

segunda-feira, 23 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO VIII – Reclino a alma em manto de areia





Distende-se a noite sobre o manto ondulado de dunas
Abate-se a calma
Deita-se a morte na areia
Em que reclino a alma

Diáfano
Cobre-me o Firmamento
Maior é o meu pensamento
Onde uma ideia feita estrela bruxuleia

Procuro o poema Polar
A poesia do norte
Ponho-me a meditar

Sou cristão
Por isso não tenho religião

Sou branco
Ainda assim não tenho cor

Sou português
Não tenho pátria
Portanto

Pecador
Aspiro a ser santo

Nasci livre
Condenado a lutar
Para me libertar

Sinto amor
Mas não sei a quem amar

Escolhi o lugar mais ermo da Terra
O deserto
E a guerra
Para me pacificar

(Algures no Deserto do Sahara)
 xxvix-iv-mmix


sábado, 21 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO VII - A mulher da burca celeste




Imagino o céu de Sherezade
Reflectido no lago do oásis
E fico a sonhar
Como será na verdade
O encanto do seu olhar

Fito o Sol de frente na alvorada
No ocaso e ao meio dia
Corro o risco de cegar
Para tentar perceber
Que cor é a dos seus cabelos

Pressinto na Lua prateada
A tez da sua pele nua
Sem conseguir tacteá-la

Inebrio-me com a fantasia
De sorver na doçura das tâmaras maduras
A formosura dos seus seios

Dela me acerco
Tentando inalar o seu perfume
Corro o risco de morrer
Às mãos dos guardas do sultão

Enlaço com ternura a dócil gazela
Que passeia na cerca do seu jardim
Imaginando a graciosidade do seu porte
Mas ela foge de mim
Espavorida
Sem rumo ou norte

Como posso estar certo de que me sorri
Se a burca de seda celeste
Que lhe tapa o rosto
Também lhe cobre todo o corpo
E o seu sorriso não tem som?


Resta-me ler o tom do seu pensamento
No esvoaçar do véu
Que a sua mão levanta ao vento do céu
E fico esperando que por fim
Para minha gloriosa felicidade
Amorosa se dispa para mim

Ela mesma se libertará da burca terrena
E serena me apontará
O caminho da eternidade.

Algures no Deserto do Sahara)
 xiii-viii-mmix


sexta-feira, 20 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO VI – Mil saudades e uma só solidão




Areia!

Montanhas de areia me envolvem
Trazidas pelo vento suão
Cobrem-me e descobrem-me
De mil saudades e de uma só solidão

Nada vivo se vê por aqui!
Uma ave
Uma flor
Um réptil
Um roedor
Um insecto que seja
Apenas a morte tenta sua sorte

Dentro mim, Huri
Ardeja um amor mais forte
A Estrela Polar brilha mais a norte
És tu que ma chamas em surdina

Essa luz pequenina
Que bruxuleia no Firmamento
Batida pelo vento
É a chama da fogueira saudade
Que arde e nos queima
A ti e a mim

Só assim me mantenho vivo
E sobrevivo
Ao frio
À fome
À sede
Ao calor abrasador
À saudade
E à má sorte
Neste império da morte

(Algures no Deserto do Sahara)
 i-v-mmix


quinta-feira, 19 de julho de 2018

UM LIVRO ABERTO NO DESERTO V - Soldado de fortuna



Obscuro soldado da fortuna
No verbo e no verso breve
Salta de noite
No escuro
E desce planando
Leve
Como pluma

Nada saber de ninguém
Nem de si
É seu fadário

Ninguém pergunta a um mercenário
Seja lá o que for
Ou o que tiver sido
Apenas se lhe pede que se mantenha de pé
Mesmo se vencido

Apenas se questiona o seu valor
No campo de batalha 
Que poderá bem ser
A sua mortalha

Rasga a atmosfera
Célere
Enquanto cogita

A Terra o espera
A loucura o toma
Grita de dor

Voga no plano astral

Apenas reentra no Universo
E recupera a sanidade mental
Se escreve
Versos de amor

(Algures no Deserto do Sahara)
 xxx-iv-mmix