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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Tantos são os sinais que nos dais, Deus!





Tantos são os sinais
que nos dais
Deus
quando amamos
a dizer-nos que amemos ainda mais
e mais

Tantos são os sinais
que nos dais
Deus
quando bem fazemos 
a dizer-nos que bem façamos ainda mais
e mais

Tantos são os sinais
que nos dais
Deus
quando sofremos
a dizer-nos que teremos que sofrer
ainda mais

Mas porque havemos
nós
de sofrer mais
e mais
e mais
Deus?!

Porque temos nós que sofrer
para aprender
a amar
meu Deus?!

E porque só pela dor
nos  dais a conhecer
o Amor
meu Deus?!

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 20 de Outubro de 2010
Henrique Pedro


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Qual o valor do amor no mercado?





O amor cotado no mercado
sem o sentir do coração
tem baixa cotação
é pecado
é prostituição

E eu não vendo a minha paz interior
seja porque preço for

Não troco a felicidade genuína dum amor verdadeiro
pelas bacias diamantíferas da África do Sul
pelos campos petrolíferos da Arábia Saudita
por todos os camelos do deserto do Sahara
ou pela riqueza inaudita contabilizada em Wall Street

Nem mesmo pelo mundo inteiro
por todo o ouro guardado em Fort Knox
pelo poder instalado na Casa Branca
tão pouco pela glória das maiores estrelas de Hollywood
do futebol
da música
ou da dança
seja qual for a cor do dinheiro

Por nada deste mundo
por tanta coisa fútil que nada me diz
e que à Humanidade e à verdade
não acrescentam nada
apenas desesperança

Mesmo sabendo que até o amor e a paz
são  tão efémeros como o sorriso de criança

Meros mas decisivos sinais 
da Felicidade maior
que é amar mais e mais

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 3 de Dezembro de 2008
Henrique Pedro


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Auuuuu…Auuuu…Auuuuu...



Dedicado aos meus cães
seus pais e suas mães
solto um triplo latido
sentido
em verso prosaico
disperso
onomatopaico

Auuuuu… auuuuu… auuuuu!

Talvez preferissem que esta poesia
tivesse forma e substância de osso
mas não duvido
que quando pressuroso
lhes assobiar este poema
com jactância
me ouvirão com atenção
orelhas espetadas
abanando o rabo
sentados no chão

E também eles latirão
com alegria
quando eu terminar

Auuuuu… auuuuu… auuuuu!

Muito tenho aprendido eu
com o meu irmão
cão

Encanta-me a sua afectividade
a sua lealdade
a sua disponibilidade
a sua ternura
a sua bravura
e a sua liberdade

Oh, como eu gostava de ser como eles
forte e livre!

Poder correr
sem tino
atrás das aves
e sem me perder
como quando menino

Dormir ao relento sem me constipar
poder fazer sexo
livremente
à vista de toda agente
sem complexo

Uauuuuu…

isso não…é só mesmo de cão!

Ficar enleado
com minha amada
em prolongado amplexo
e latir, latir, latir
até me fartar

Auuuuu… auuuuu… auuuuu!

Não fora o caso de ter que ter dono
de ser deixado ao abandono
ou de outra maior selvajaria
chego mesmo a pensar
se não valeria mais ser cão
que um vulgar cidadão
a quem na actual democracia
nada adianta ladrar

Vale de Salgueiro, 14 de Fevereiro de 2008
Henrique Pedro


terça-feira, 12 de novembro de 2019

A canção de amor de Dores Roha




Apenas tu ser amado
não duvido
tens a ver com a felicidade
que vivo a teu lado

Se me assalta a angústia da separação
qual vento desalmado
te digo do fundo do meu coração
o sofrimento que adviria
nada teria a ver contigo

Porque ninguém ama por obrigação
ou continua a amar
por gratidão

Depende de mim continuar
a apertar as tuas mãos
e de ti continuar a beijar
com teus lábios os meus
mas é no amar e desamar
que mais dependemos de Deus

Não deixaria de te amar
nem que te afastasses de mim
ainda que o amor fosse então
uma saudade sem fim

henrique pedro, in Códice da Pátria Luanca (Ver o Verso Edições, 2006)

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Doida, doída, dorida.





A poesia é parte da vida
amorável
inexplicável
irracional
doida
doída
dorida

A poesia é a génese das religiões
ainda que o Amor e a Fé
não sejam poéticas
construções

Melhor que nada, que outra coisa nenhuma
a poesia nos inuma na tristeza
nos liberta do real
nos desperta no irracional
nos afunda nas raízes profundas do ser
daquilo que verdadeiramente é
nos despoja do ter e do haver
mais nos aproxima do bem
e nos afasta do mal

Por mais que se pense
ou não pense
se diga ou se fique calado
extasiado
a olhar o céu

A poesia é o que é:
Nonsense

Vale de Salgueiro, 12 de Novembro de 2007
Henrique Pedro

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Falar de amor por falar




Apraz-me falar de amor por falar
despreocupadamente
seja com que mulher for

Madura
balzaquiana
adolescente
mundana
casta
beata
rameira de vida indevida
casada
solteira
ou simplesmente nubente

Estando apaixonados
ou nem tanto

Enamorados pela vida e pela verdade
com o encanto do vento
que sopra tal encantamento
por nós a dentro
sem nos causar ansiedade

Em tarde morna de Outono
ou em dia tórrido de Verão
enquanto tomamos chá
café ou laranjada numa esplanada
ou à lareira para espantar o sono
sem outra condição
que não seja misturar amor, arte e fé

Passeando à beira mar de mãos dadas
mesmo sem nada dizer

Ou deitados desnudos
na praia
na cama
ou em qualquer outro lugar

Assumida que seja entre nós
a uma só voz
a inocência cristalina de ser o amor
a razão única que nos anima

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009
Henrique Pedro