segunda-feira, 4 de abril de 2022
quinta-feira, 31 de março de 2022
Não é pecado amar nem virtude sofrer
O que ela quer eu sei
não é amor não
é apenas dor
O que ela quer eu
sei sim
é servir-se de mim
para se martirizar
só por entender
que é pecado amar
e virtude sofrer
e que maior
benefício
será o amor se amar
for
o sacrifício maior
Talvez o que lhe
digo a faça doer
mas tenho que lhe
dizer
enquanto é tempo
não me posso calar
Não é pecado amar nem
virtude sofrer
porque por si só
apenas causam dó
O melhor caminho
para se libertar
desse tormento
será mesmo
amar
amar
amar
Ainda que sofrer por bem querer
possa ser
enlevamento
Vale de Salgueiro, quinta-feira,
11 de Fevereiro de 2010
Henrique António Pedro
terça-feira, 29 de março de 2022
Melhor será deixar de escrever poesia
Já ninguém se faz ouvir
sem gritar
e quem olha
não vê
Quando escrevo já não digo nada
já ninguém me ouve
mesmo se acaso alguém me lê
Vou controlar a minha ânsia de escrever
limitar-me-ei a ler
Porque quando leio
ouço tudo
até demais
e escrevo ainda mais ainda assim
do que quando apenas escrevo
Mas serei eu capaz de me ouvir
a mim e aos outros
no seio da tempestade
no ruído do mundo
no burburinho da cidade
se me calar
se também eu não gritar?
Serei capaz de fazer saber ao Cosmos
que existo
e estou aqui
se não escrever?
Irá a morte ouvir-me se não lhe gritar
que não quero morrer?
Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Julho de 2010
Henrique António Pedro
terça-feira, 22 de março de 2022
É de mim que eu menos sei
Julgo saber tudo
de mim
mas não será
tanto assim
Não tenho grandes
dúvidas do meu passado
apesar das muitas
coisas que já esqueci
Lembro-me bem do
sítio onde nasci
do meu percurso
Corri mundo
viajei
vi
vivi
senti
amei
sofri
Estudei
aprendi
conhecimentos sem fim
artes
ciências
técnicas
Conheci pessoas
lugares
mas é de mim que
menos sei
Pouco ou nada sei
de mim!
Que me importa
saber que a Terra é redonda
que os astros se
movem no Universo
e coisas assim
se pouco ou nada
sei de mim?
Quando me for
dado conhecer-me
saber tudo de mim
saber quem
verdadeiramente sou
por detrás de um
registo civil
perdido entre
tantos mil…
Saber o que faço
aqui
e para onde vou
então sim tudo saberei
todos os
mistérios se revelarão
e todas as dúvidas
cessarão
Saberei se o Além
existe
se é finito ou
infinito o Universo
e qual é o seu
reverso
que coisas são o
Espaço e Tempo
o Amor e a
Verdade
a Santíssima
Trindade
É a mim que eu procuro
conhecer
a chave de tudo está
em mim
…Sou eu!
Vale de Salgueiro,
Quinta-feira, 5 de Junho de 2008
Henrique António Pedro
domingo, 6 de março de 2022
Despaixão
Despaixão
Já não és mais a flor amorosa
viçosa
perfumada
A rosa inflamada pelo desejo despótico
que germinava no húmus erótico
dos nossos corpos juvenis
Já nem tu mesma sorris
só de te lembrares
És agora uma rosa estiolada
que seguro pelo pé
já sem fé
com cuidado
contudo
Não com medo de ser picado
mas porque sei que o mais delicado movimento
o mais suave sopro de vento
te fará despetalar
Foi o sopro
o cicio do tempo
perdido o cio
que colocou no vazio do meu coração
as pétalas da despaixão
Inexoravelmente
Já as pétalas te caem aos pés
Já nem eu sou
o que fui
É cruel
mas é
Até sempre
Vale de Salgueiro, sábado, 19 de Junho de 2010
Henrique António Pedro
sexta-feira, 4 de março de 2022
É longe demais o Além
O soldadinho chora
Chora lágrimas
suor
sangue
e saudade
capazes de o matar
embora
de nada lhe sirva chorar
Ainda assim o soldadinho
chora baixinho
calado
teme morrer
sem voltar
É longe demais o Além
para lá ir
e voltar
E sua mãe
em permanente oração
não pára de o chamar
para mais perto
do lar
Oh que apertado aperto de coração!
É longe demais o além
para lá ir
e voltar
Henrique António Pedro