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sexta-feira, 4 de março de 2022

É longe demais o Além


O soldadinho chora


Chora lágrimas

suor

sangue

e saudade

capazes de o matar

embora

de nada lhe sirva chorar

 

Ainda assim o soldadinho

chora baixinho

calado

teme morrer

sem voltar

 

É longe demais o Além

para lá ir

e voltar

 

E sua mãe

em permanente oração

não pára de o chamar

para mais perto

do lar

 

Oh que apertado aperto de coração!

 

É longe demais o além

para lá ir

e voltar

Henrique António Pedro


1 comentário:

  1. Que se lhe abram todas as velhas chagas
    E o sangue lhe verta do infeliz olhar
    Enquanto as suas mãos se fecham
    Como as flores que murcham
    E assim, doces, morrem par a par
    Na hora de todas as pragas

    Que as armas se troquem por cantores
    E as vozes lhes derretam a vontade
    Enquanto uns escassos sorrisos
    Se atreverem a moldar juízos
    De ditadores sem piedade
    Na hora de todos os horrores

    Que cada tiro seja um beijo amigo
    E os corpos se entrelacem entre si
    Enquanto as palavras se apuram
    Com significados que perduram
    No tempo, em mim e em ti
    Nas horas de nenhum perigo

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