Já ninguém se faz ouvir
sem gritar
e quem olha
não vê
Quando escrevo já não digo nada
já ninguém me ouve
mesmo se acaso alguém me lê
Vou controlar a minha ânsia de escrever
limitar-me-ei a ler
Porque quando leio
ouço tudo
até demais
e escrevo ainda mais ainda assim
do que quando apenas escrevo
Mas serei eu capaz de me ouvir
a mim e aos outros
no seio da tempestade
no ruído do mundo
no burburinho da cidade
se me calar
se também eu não gritar?
Serei capaz de fazer saber ao Cosmos
que existo
e estou aqui
se não escrever?
Irá a morte ouvir-me se não lhe gritar
que não quero morrer?
Vale de Salgueiro, domingo, 25 de Julho de 2010
Henrique António Pedro
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