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sábado, 30 de julho de 2022

Obrigado, amor

 


Obrigado

Amor

Por viveres

A meu lado

 

Por existires no meu espaço

Te deixares ver

E sentir

E permitir

Que me recline no teu regaço

 

Por não te importares que o vento

Espalhe o teu perfume

Em campo aberto

Para tudo perfumar

 

Ainda que dentro de mim

Ateie o lume

Da saudade e do sofrimento

Só de pensar

Que um dia

Te poderei não ter

Assim tão perto

 

Mirandela, 22 de Dezembro de 2004

Henrique António Pedro

In Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)


segunda-feira, 4 de julho de 2022

Irena Sendler

 


(Varsóvia, 15 de fevereiro de 1910 - Varsóvia, 12 de maio de 2008),

 

Chorei!

Lágrimas líquidas verdadeiras

Rolaram-me pela face, silenciosas

Sinceras, sentidas, condoídas

Agora que sem a conhecer

A conheci

 

Em silêncio, mas chorei!

 

Lágrimas salgadas, reais

Envergonhado da minha pequenez

Da placidez do meu egoísmo

Ante o sereno heroísmo

De Irena Sendler que eu não conhecia

Tão grande ela é que se escondia

Tão cego é o mundo que ninguém a via

 

Chorei!

 

Lágrimas ácidas

Porque sofri no mais fundo de mim

Por todas as crianças vítimas do holocausto

Submetidas ao martírio nazi

Á má sorte

Ao mais atroz sofrimento

Á fome, ao frio, à doença

Á hedionda separação de suas mães

E que Irene heroicamente socorreu

E salvou da morte

 

Chorei!

 

Lágrimas de sangue de espaço a espaço

Por Irena torturada às mãos da Gestapo

 

Chorei

 

Lágrimas de luz

De suave alegria interior

Por ver que Deus nosso Senhor Jesus

Quando maior é a ignomínia dos homens

E mais malvado o seu desígnio

Sempre inspira algumas almas maiores

A minimizar a desgraça

E a mostrar-nos o caminho

 

 

Coloco este poema

Feito flor

Na montanha de flores

Que todos os dias

E nunca será tarde demais

Perfumam o quarto da anciã Irena

No asilo de Varsóvia aonde se esconde

Na sua inesgotável bondade

 

Obrigado Irena pelo seu heróico exemplo

Obrigado por si

Louvada seja por todo o tempo


Nota: Irena Sendler morreu dias depois d eu ter escrito este poema.

 

Vale de Salgueiro, 30 de Abril de 2008

Henrique António Pedro


quinta-feira, 30 de junho de 2022

Com este poema me despeço

 


Com este poema me despeço

Sem que a mim

A nada

E a ninguém

Diga adeus

 

A minha partida

Só será definitiva

Apenas acontecerá numa alvorada distante

Iluminada

 

Quando sobre a Terra reinar nova Civilização

Sem Política

Nem Religião

 

Quando a Humanidade estiver viva

E livre

E a vida for

Um hino de louvor a Deus

 O Criador

 

Se a vida sobreviver na Terra

À fome

À sede

À mentira

E à guerra

 

Só então direi adeus

Ao mundo presente

E me tornarei ausente

 

Com este poema me despeço

Sem que a mim

A nada

E a ninguém

Diga adeus

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Junho de 2009

Henrique António Pedro


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Pinus, a árvore da serenidade

 



Pinus é o meu dilecto pinheiro manso

que plantei ainda na adolescência

era ele um tronco frágil e pequenino

uma ágil, verde e viçosa excrescência

 

Abri uma cova no solo sáfaro

à força dos músculos e da enxada

enchi-a de terra fresca e macia

reguei-a com amor, suor e fantasia

e ali deixei a planta pequenina

bem protegida e aconchegada

entregue aos desígnios do Criador

 

Mas vi-o crescer ano após ano

cada dia mais forte e desmedido

tornar-se árvore imponente

admirada por toda a gente

paradigma do espírito humano

sereno, vigoroso e desinibido

 

Resiste, agora, às maiores tempestades

indiferente, em seu tronco robusto

apenas de copa em sereno agitar

para, mais sensato, as deixar passar

 

Mas quando a brisa é doce e suave

entoa então melodias de encantar

que acalmam o espírito intranquilo

e amaciam o coração expectante

com mensagens do Cosmos distante

que apenas eu ouso decifrar

 

Mil vezes penso no meu íntimo

certo de ser ouvido por Pinus

o meu dilecto pinheiro manso

que valeu a penas ter nascido e viver

só para o plantar a ele e o ver crescer

 

Deu-me Deus este privilégio

este insondável sortilégio

de aprender com aquele lenho vivo

a crescer robusto e sereno

e a resistir firme à adversidade

a fazer da vida um hino de Alegria

plena de Poesia e de Verdade

 

Henrique António Pedro

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Impossível é viver sem sonhar


Caminho

calado

para lado nenhum

 

Percorro com a vista tudo que me rodeia

sem nada ver

ouço ruídos de fundo

sem perceber qualquer som

 

Embora mantenha os olhos

e os ouvidos abertos

todos os sentidos despertos

 

Calo também o coração!

Deixo-me de sonhos

e de afectos

 

Passo horas esquecidas assim

a vaguear por tudo quanto é sítio

fora de mim

sem passar por sítio algum

 

Há um instante em que paro, porém

ouço passos atrás de mim

 

Há uma pedra em que tropeço

um raio de luz que me induz

uma voz que me desperta

 

Sou eu que a mim mesmo me persigo

e que a mim mesmo me diz:

- Não! Tu não me podes fugir, assim!

Impossível será viveres sem sonhar

sem amar

sem acreditar

 

Sem ter fé

 

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


domingo, 12 de junho de 2022

A dor de amor é mais dor e mais dói


A dor de amor é mais dor e mais dói

se é só nossa

e é uma luta interior

 

A dor de amor é maior e mais dói

se não temos ninguém

um amigo, um pai, uma mãe

com quem desabafar

e que confortar

nos possa

 

A dor de amor é mais dor e mais dói

se gritamos ao vento o nosso lamento

e nem o vento nos sabe escutar

 

A dor de amor é mais dor e mais dói

quando só nós

de nós

sentimos pena

 

Mas a dor de amor é menor e menos dói

se a dor de amor

só dói

em poema

  

VS, 10 de Agosto de 2009

Henrique António Pedro