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quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A poesia é o que é e os poetas são o que são



É a mais elástica
plástica
moldável
amorosa
amorável

álacre  arte que se conhece

a poesia


Forma-se e deforma-se em mil formas de amor

de dor e de alegria

em apostemas de todo o saber e sabor

Dá para tudo!

Para todos os santos  e diabos
almas simples
espíritos iluminados
para o bem e para o mal
a todos serve  por igual

Com rima ou sem rima
tem gente que a adora
e a estima
e gente que a odeia
a abomina

Gente que a toma a sério
e gente que dela se ri

Gente crente
e descrente
agnósticos
ateus
gregos e arameus

Presta-se a cantar
declamar
ler
sofrer
amar
odiar
insultar
enaltecer
glorificar

irritar

serenar
ou tudo deitar a perder

Existe em tudo
e por todo o lado
em todo o tempo
faça chuva, neve, sol
ou vento

seja duro

ou seja mole

Na virtude
no vício
na vida
na morte
no deserto quente
no gelado

no desterro

encoraja e causa medo

No céu
na terra
no mar e no ar

Na pena do erudito
no linguarejar do analfabeto
no espaço fechado
no campo aberto
no homem livre e no proscrito

na estética e na moral
nos dias de hoje
e de ontem
na data pretérita

no presente

do indicativo
e no futuro condicional

A poesia está por toda a parte
é omnipresente
por isso também se diz
que os poetas são anjos
e a poesia é divina

Nada disso

A maior parte são sim
grandes marmanjos
e a poesia que escrevem

desatina

Mas eu diria

que a poesia
não é nada disso
e os poetas não são ninguém
mesmo se nada devem


Diria que a poesia é fantasia
e os poetas são a poesia que fazem

e desfazem
em seu viver

de amar e sofrer
mesmo se a não escrevem


Eu diria que a poesia
não é nada disso

e é muito mais

E que os poetas não são nada

nem ninguém

Diria que a poesia
é o que é
e os poetas
são o que são


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro


 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Bati à porta do esquecimento


 

Bati à porta do esquecimento

Ninguém me respondeu de dentro

 

Nem o menor sentimento de saudade

O mais inócuo desejo de vingança sequer

O mais ténue lamento

Alguma ideia de pertença

A simples exigência de verdade

Um sopro de vento de indiferença

Que fosse

 

Sim

Esqueci

 

Já ali não mora a lembrança

Não me anima mais a esperança

 

Já me não atrai o efémero

A fama

A glória

Os prazeres da cama

A vertigem da História

 

Embora me não lembre de ter perdido a memória

 

Perdi Ciência

Ganhei Consciência

  

Vale de Salgueiro, 6 de Abril de 2008

Henrique António Pedro

 

in Angústia, Razão e Nada (Editora Temas Originais- Setembro 2009)

 

imagem: Google imagens

 

 

domingo, 31 de dezembro de 2023

Eu não espero nada nem de ninguém



Eu não espero nada nem de ninguém

 

Não estou à espera de nada

nem de ninguém

nem de mal nem de bem

nem de mau nem de bom

de boa ou de má sorte

do engano de um novo ano

muito menos da morte

 

E porque havemos nós de estar à espera

que algo

de bem ou de mal

de mau ou de bom

nos aconteça?!

 

Ou de alguém que nos valha

ou simplesmente nos faça bem

e nos mereça?!

 

Quem espera desespera

 

Eu não estou à espera de nada

nem de ninguém

de pé ou sentado

a dormir ou acordado

a sonhar

angustiado

embora não perca a fé

 

Muito embora de mim

tudo eu espere

ainda assim

como de toda gente

e nada me seja indiferente

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 5 de Julho de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Alto e pare o baile!


Soam as badaladas derradeiras

rasgam-se as folhas restantes do calendário

cumpre-se o fugaz fadário

nada muda na verdade

tão pouco as brincadeiras

 

Quando mais animado o baile vai

estouram garrafas de champanhe

esparrame da insanidade

das gentes alheadas da realidade

que em fantasias se esvai

 

Nas ruas estalam foguetes

e estouram balões

há gritos, apitos, ruídos dementes

joguetes de multidões

 

Nos meus ouvidos há outros ruídos

porém

tristes acordes tangem meu coração

que calar não consigo

sequer afastar da minha mente

também!

 

São gritos lancinantes de esfacelados de guerra

de mulheres maltratadas

é o ranger de dentes dos oprimidos

a dor dos explorados e perseguidos

o sofrer de mendigos e sem abrigo

dos que vegetam nos esgotos torpes

das metrópoles ditas civilizadas

 

Não me contenho e grito:

-Alto e pare o baile!

O salão de festas emudece

A minha dor recrudesce

 

Retiro-me silencioso

pesaroso

circunscrito

levando pela mão a mulher amada

como eu igualmente consternada

 

Saímos porta fora

nada mais nos resta

para nós a festa está terminada

 

Embora no meu coração more a esperança fagueira

de que meus versos hora a hora

explodirão sem temor

como bombas de amor por sobre a Terra

e pousarão qual pombas de paz

aonde lavra a guerra

e a humanidade jaz

sepultada

prisioneira

-Alto e pare o baile!

 

Vale de Salgueiro, 31 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro

 


domingo, 17 de dezembro de 2023

Amo, logo existo!

 


Uma tristeza viva é a vida

se não se vive enamorado

se não se ama ninguém

ou por ninguém se é amado

 

Eu tão pouco sei se existo

aborreço-me em qualquer lado

por isso de amar

não abdico

                                                                            

No prazer me confundo

na dor anseio fugir de mim

e esquecer o mundo

 

Ando de mãos postas

com o coração às costas

só pensar nada me diz

 

Pela via do amor

porém

vou além da vida

e da morte

encontro o rumo                            

e o norte

sou eu

porque sou

feliz

 

É isto que o meu cérebro pensa

o meu coração sente

e o meu espírito me diz

 

Só com no amor me identifico

Amo, logo existo!

 

Vale de Salgueiro, 15 de Novembro de 2022

Henrique António Pedro

 

 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Há roseiras a “rosir” em Janeiro

 



Os meus passos perdem-se no espaço

e no nevoeiro

espesso

num dia frio

e nevoento

de Janeiro

 

É de cansaço

o meu bafo

 

Ocioso

ando em círculo vicioso à roda de mim

esquecido do tempo

com o coração em curto-circuito

e o pensamento sem ideias

gratuito

paredes meias com esta angústia minúcia

de não saber de que lado vai nascer o Sol

no seu vai vem sideral

 

Não sei

nem sei se vai

qual o mal?!

 

Só sei que por todo o lado há nevoeiro

e que também eu ando

obnubilado

 

Embora encantado

com as roseiras a “rosir” em Janeiro

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro