sábado, 5 de novembro de 2016
Não são as lágrimas dos homens que alagam a Terra
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Arroubos místicos
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
Célia Flor de Cerejeira
Célia Flor de Cerejeira
Ofereci
a Célia uma flor de cerejeira pela Primavera
por a
achar serena
linda e
perfumada como ela
A brisa
primaveril espalhava pétalas mil pela Natureza
com a
mesma delicada leveza
com que
o olhar de Célia
o seu
sorriso
e o seu
odor
se
transformam em amor
Em breve
a meiga cerejeira
que
antes se enfeitara de brancas flores
se
coroou de cerejas encarnadas
provocantes
luzidias
apetecidos
sabores
Mas a
flor que ofereci a Célia por pura brincadeira
apenas
sorriu nos lábios dela
algumas
luminosas manhãs
menos
tempo que as flores suas irmãs
duraram
nos ramos da cerejeira
Num
ápice as suas pétalas se evolaram
em
etéreos beijos
e ternas
apalpadelas
Tudo não
passou de um fugaz amor
de um
equívoco de Primavera
que
murchou sem frutificar
porque
aquela flor não me pertencia
e eu não
deveria
tê-la
dado à Célia
sem a
amar de verdade
Pertencia
sim à cerejeira de onde viera
mesa
posta de fruta apetecida agora oferecida pela Primavera
para ser
fruída por todos os seres
que se
alimentam de desejos
de
beijos
de
poemas
e de cerejas
in
“Mulheres de Amor Inventadas”
Vale de Salgueiro, 26 de Março de 2008
Henrique António Pedro
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
Dulce, paixão adolescente
terça-feira, 1 de novembro de 2016
Levitação
como se não houvesse amanhã
nem tivesse havido ontem
nem a hora passada
e vivesse uma eternidade desmemoriada
no presente ausente
Sem um relevante pensamento
um apetite evidente
uma ideia emergente
Na tranquilidade absoluta
de quem não vai nem vem de luta alguma
Sem dar conta do tempo passar
sem um zunido sequer que me possa enervar
fora ou dentro dos ouvidos
Com todos os sentidos a funcionar esplendidamente
tanto que nem eles se dão conta de si
por nada terem que a mim me dizer
De corpo relaxado
e de espírito enlevado
de cérebro todo tomado pela consciência
e a consciência a monitorizar apenas a alma
Sem amor
sem ódio
fantasia ou contrição
tristeza ou alegria
teorema ou dilema
sem motivo de glória ou de frustração
saudade ou nostalgia
Em puro deleite de verdade
e poesia
com o cordão umbilical bamboleante preso ao presente poema
leve como pluma vogando na bruma
venço a gravidade
entro em levitação
Voo até Deus sem dizer adeus
Vale de Salgueiro, sábado, 5 de Maio de 2012
Henrique Pedro
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Estes são os meus sinais
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Amora silvestre
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Uma rosa negra de tristeza
sábado, 22 de outubro de 2016
Sex-appeal
terça-feira, 18 de outubro de 2016
À janela, a ver chover
Postado à janela
cismado
a ver chover
sem ter que fazer
nem para onde ir
entristeço
Nos campos sente-se a erva medrar
com tanto calor
e humidade
Os cães pararam de latir
os pássaros deixaram de voar
esmoreço
desolado
a ver
chover
no molhado
Há dias assim
sem alegria
nem beleza
dias em que a própria poesia
induz tristeza
nostalgia
Amiúde deito a cabeça de fora
para espreitar o céu
com desejo de partir
E assim me vou embora
sem sair
deixando-me ficar onde estou
até mais ver
Sem ter para onde ir
sem nada ter que fazer
fico à janela
cismado
a ver chover
Vale de Salgueiro, domingo,
29 de Maio de 2011
Henrique António Pedro
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Será seu este Citizen Card?
De quem é não tem interesse
já se vê
nem a mim mesmo me interessa saber
sequer
De um simples Cartão de Cidadão se trata
(de um Citizen Card)
que a todos nos maltrata
Um nome e um apelido
uma minúscula fotografia do rosto
sem alegria nem fantasia
(deveria estar, sim, nele retratado o coração dorido, afim ou malsão)
Um número de contribuinte, a tal identificação fiscal
(que por certo não terá quem for pedinte)
uma letrinha pequenina para o sexo
(ao que parece, irão pôr mais letras indicativas do género e da classe social)
A medida da altura
(que omite a nossa postura na vida e na sociedade, se falamos ou não verdade)
mais o número de utente do Serviço Nacional de Saúde
e da Segurança Social
seja são ou doente
e mais números ainda sem significado
trate-se de pessoa de virtude ou de pecado
Ao real humano ser que somos
nem se alude
Resumindo
Não importa o que somos ou o que fomos
Apenas uma dúzia de dados
para alguém dar ou vender
pois então
destinados a serem manipulados
repartidos
e abatidos
se acaso o Orçamento de Estado
(ou a Segurança Nacional)
para nosso mal e a Bem da Nação
assim o entender
Quem é você não tem interesse
já se vê
nem a mim mesmo me interessa saber
sequer
A mim só me importa saber o que sou
isso sim
porque isso eu não sei!
Embora saiba que sou mais que a estúpida amargura de não ser
aquilo que outros gostariam que eu fosse
ou que me impelem a que seja
Herói de banda desenhada
notícia desejada
cidadão eleitor
impostor
pagador de impostos
utente de qualquer coisa
e mais nada
Embora saiba que não sou aquilo que gostaria de ser
que não sei se sou
mas que poderei ser sem saber!
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de Abril de 2010