De quem é não tem interesse
já se vê
nem a mim mesmo me interessa saber
sequer
De um simples Cartão de Cidadão se trata
(de um Citizen Card)
que a todos nos maltrata
Um nome e um apelido
uma minúscula fotografia do rosto
sem alegria nem fantasia
(deveria estar, sim, nele retratado o coração dorido, afim ou malsão)
Um número de contribuinte, a tal identificação fiscal
(que por certo não terá quem for pedinte)
uma letrinha pequenina para o sexo
(ao que parece, irão pôr mais letras indicativas do género e da classe social)
A medida da altura
(que omite a nossa postura na vida e na sociedade, se falamos ou não verdade)
mais o número de utente do Serviço Nacional de Saúde
e da Segurança Social
seja são ou doente
e mais números ainda sem significado
trate-se de pessoa de virtude ou de pecado
Ao real humano ser que somos
nem se alude
Resumindo
Não importa o que somos ou o que fomos
Apenas uma dúzia de dados
para alguém dar ou vender
pois então
destinados a serem manipulados
repartidos
e abatidos
se acaso o Orçamento de Estado
(ou a Segurança Nacional)
para nosso mal e a Bem da Nação
assim o entender
Quem é você não tem interesse
já se vê
nem a mim mesmo me interessa saber
sequer
A mim só me importa saber o que sou
isso sim
porque isso eu não sei!
Embora saiba que sou mais que a estúpida amargura de não ser
aquilo que outros gostariam que eu fosse
ou que me impelem a que seja
Herói de banda desenhada
notícia desejada
cidadão eleitor
impostor
pagador de impostos
utente de qualquer coisa
e mais nada
Embora saiba que não sou aquilo que gostaria de ser
que não sei se sou
mas que poderei ser sem saber!
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de Abril de 2010
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