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segunda-feira, 4 de março de 2019

Só por amor escrevo poesia




Quando choro e rio

Quando me revolto
e me aborreço
quando canto e assobio
porque ando apaixonado
e escrevo poesia

Quando dou asas à imaginação
fazendo uso da Razão
ou me angustio
com apertos no coração

Quando louvo a Deus
declaro o meu amor aos meus
e canto a Natureza

Quando expresso a minha dor
ou a minha tristeza
as minhas glórias e as minhas desditas
a dor ou a alegria de outrem
por palavras escritas
são poemas de amor que escrevo
por bem
com certeza

Mesmo se o faço com enlevo
por pura fantasia
só por amor escrevo poesia

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 23 de Março de 2009
Henrique Pedro

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Só o amor se não perde se a vida se perder




O tempo só tem sentido à medida que passa
o abraço quando se abraça
e o amor quando se ama
o fogo quando arde
feito chama

A vida só tem sentido quando vivida
com amor
por alguém

Não pára o tempo se o relógio parar
mas perde-se o pensamento
se a razão enlouquecer

Apaga-se a paixão quando o coração
deixa de bater
e tudo se perde
na hora de morrer

Só o amor se não perde
se a vida se perder


Vale de Salgueiro, sexta-feira, 18 de Julho de 2008
Henrique Pedro

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Há horas assim…





Há horas em que desperto
em que fico mais perto
de mim

Horas em que não leio
nem escrevo poesia
mas que melhor a sinto
ainda assim!

Horas em que só falo comigo
e com o meu umbigo
em que entro por mim a dentro
e me liberto

Horas em que não me engano
nem me minto

Horas em que tanto me encanto
só de pensar
que paro de respirar

Horas em que não dou pelas horas a passar
em que apenas sinto as ideias a fluir
e a fugir
como aves a voar

Horas sem tempo nem calendário
sem vocabulário 
para expressar o sinto

Horas em que sou um labirinto
e por tanto
me espanto

Há horas assim…


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 7 de Agosto de 2008
Henrique Pedro

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Além, naquele astro ali



Além

naquele astro ali

que não é estrela

nem planeta

nem cometa

e já foi ventre

de minha mãe

onde nasci

 

Ali

naquele astro além

tão longe de tão perto

onde nada é errado

tudo bate certo

e só existe o bem

 

É lá que eu moro

me demoro

e exponho

por via do sonho

 

É ali que eu ando

errando

amando

e sofrendo

a mando

de Deus

 

Sem que diga adeus

nem nada diga

a ninguém

 

E de nada me arrependo

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 20 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro


 




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Ei-la! É ela de novo…





Ei-la!
É ela de novo…

Lábios carmim 
seios cheios torneados 
olhos doces amendoados…. 
leveza do caminhar
doçura do falar
irresistível simpatia 
e muita 
tanta 
tanta alegria …

Eu 
ainda assim 

ensimesmado

Refugio-me em mim 
gota de chuva
sopro de vento 
folha de amargura 
pozinho de tormento
raiva larvar 
tristeza de calar 
silêncio de cismar
vontade de voar para outro lugar e fugir do crepúsculo de tanto amar que teima em não chegar ao fim

É ela!
De novo… flor de jardim
tentadora tentação de voltar a amar…

Não 
desta vez não!

Não me vou deixar apaixonar

Vale de Salgueiro, domingo, 6 de Julho de 2008
Henrique Pedro 

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Porque têm espinhos, as rosas?



Porque têm espinhos, as rosas
se são flores de tantos amores?

Para se defender, dir-se-á

Não!

Para se agarrar e trepar
para prender quem amam
para arranhar a quem desamam

Não e não!

Porque são malvadas
queimam com o lume do amor 
provocam ciúme
e causam dor

Não e não e não!

Talvez para se enaltecer 
e fazer mais valer o seu perfume
a sua cor
o seu fulgor

Não e não e não e não!

Porque têm espinhos, então
as rosas
se são amorosas, são amadas e têm coração?

Porque carecem de carinhos…
e porque não há rosas…
sem espinhos


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 7 de Março de 2012
Henrique Pedro

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Toda a gente lê poesia, lá na minha freguesia




Toda a gente me conhece
e me merece
lá na minha aldeia

Tenho até a ideia
de que todos lêem a minha poesia
lá na minha freguesia
que canta o arrebol e o pôr-do-sol
as estrelas e o firmamento
os encantos da Primavera
a chuva, a neve e o vento
quimera da atmosfera

Mesmo antes de eu a escrever
já todos a ousaram ler

Digam lá se não sou um poeta notável!

Pudera!

Quando se mora numa aldeia assim adorável
é poeta qualquer um 
mesmo sem que tenha escrito
poema algum

É por isso que toda a gente me conhece
e me cumprimenta
lá na minha aldeia
e se enternece com a poesia
que é de todos
não é só de mim

Todos somos poetas de verdade
lá na minha aldeia
porque a sua vida é uma epopeia
e sabemos que coisas são saudade
tristeza e alegria

E porque muitos de lá saíram
para o Brasil e outras terras mil
por esse mundo além
levando no coração aldeão
a poesia da nossaTerra Mãe

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012
Henrique Pedro

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Adeus às armas



Noite tropical igual a tantas noites santas
nada se sente de mal

Há estrelas no céu esmeralda a brilhar
uma brisa perfumada a soprar poesia
nostalgia e desejo
muito muito desejo de muito amar

Eis que de repente
quando nada o fazia esperar
da floresta salta a serpente

Ilumina-se a noite de clarões e explosões
ouve-se o silvo das balas a voar
não tarda gritos e gemidos de homens aflitos
a morrer
ali mesmo a meu lado
sem que ninguém lhes possa valer

Também disparo
calado
revoltado
em lágrimas banhado

Eis que de repente
quando não era de esperar
o silêncio volta a reinar
a poesia à minha mente

Tiro a mão do gatilho
iluminado de um novo brilho
regressam ao mato os miasmas da guerra

Uma explosão maior de alegria em meu coração
me diz que a guerra é fugaz
apenas a eterna espera da paz

Digo adeus às armas


Terras do régulo Capoca (Norte de Moçambique), Setembro de 1973
(Poema reconstituído, de memória, em 21/10/2010)

sábado, 12 de janeiro de 2019

Vá para aonde vá ou for




Vá para aonde vá
ou for
carrego sempre comigo
uma mala de fantasia
cheia de sonhos
e de amor

Sempre foi assim
e sempre assim será

Sonhos
são sementes de poesia
que germinam em poemas
em cânticos de louvor
gritos de alegria
choros de dor
ao sabor da sorte
arpejos de dilemas

Assim será
até na hora da morte
já que estou em crer
e disso tenho fé
que continuarei a sonhar
a amar
e a escrever poesia
mesmo depois de morrer

Vá para aonde vá
ou for
carrego sempre comigo
uma mala de sonhos
e de amor 
preparado para amar

É dentro dessa mala
que me faço transportar


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 3 de Junho de 2010
Henrique Pedro

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Cada poema que escrevo é um cigarro que acendo





Não fumo nem nunca fumei
não compreendo por isso esta imagem triste em que me inspirei

Cada poema que escrevo é um fósforo que risco
na obscuridade

Ouço-lhe o ruído breve
característico da ignição
esforço-me por proteger a chama pequenina da verdade
com a concha da mão
o tempo suficiente para acender um cigarro
de amor e martírio no meu coração

A sonhar que arde
aquece
ilumina
anima
e não mais se esquece

Se ata 
se ateia a outra e a outra candeia
em cadeia

Que é uma fogueira de ideia
de poesia
que ilumina a Terra inteira

Oh, Deus!
Cada poema que escrevo
é mais que um fósforo que risco
para acender um cigarro
a que me amarro
para deixar arder
e esquecer

É uma chama de amor que arde
sem se ver

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 9 de dezembro de 2018

Criar do Nada






Criar
é dar o ser a algo
ou a alguém

Criar do nada
não é poder de ninguém

Que criou, o homem, até hoje, do nada?

Nada!
De palpável, nada!

Nada que se veja, se palpe ou se ouça
Nem mesmo o pulsar silencioso do coração quando ama

Porque para se ver é preciso algo que reflicta luz

Para se ouvir é necessária alguma coisa que soe

Para se tactear é preciso algo que toque a pele

Para se dar vida é preciso algo que já vive

Para se acender uma fogueira é necessário algo que já arda

Nem mesmo um simples poema que seja sai do nada mesmo se o coração do poeta está vazio

O próprio nada matemático foi criado dos números inventados

O próprio amor não sai do nada
é fruto de matéria interior

Criar do nada é privilégio do Criador


Vale de Salgueiro, 09 de Dezembro de 2018
Henrique Pedro



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018



Há momentos
quando cumpria a rotina nocturna
de me ajoelhar no centro da abóbada celeste
para rezar e reflectir
de olhos postos no Céu

Aconteceu tudo se transformar numa imensa dúvida
que implodiu a minha Razão
a fez colapsar
e me esmagou

Apenas me via e sentia
como o ser mais insignificante do Cosmos
sem ter explicação para nada

Mas o meu coração transbordava de algo maior que o Universo
que me fez levantar
e continuar a olhar a noite
ainda angustiado
mas de pé

Algo que apenas sei traduzir por duas letras

Fé!

Vale de Salgueiro, terça-feira, 2 de Setembro de 2008
Henrique Pedro

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Bolhas de Amor




Os peixes nadam circunscritos ao meio aquático
soltando bolhas de ar sempre que vêm à superfície
e que se perdem na atmosfera

As aves voam nos céus agitando o ar com as asas
sem ousarem libertar-se da terra

Os humanos são mais que animais

São bolhas de vida
confinadas à campânula de ar que envolve a Terra
que soltam bolhas de ideias que se evolam
e se perdem no espaço

São ainda mais na verdade

São bolas de sabão insufladas de razão
a flutuar no ar

Bolhas de espírito preso a ideias e afectos 
a procurar libertar-se das teias da animalidade

Bolhas de amor
que explodem no seio do Criador

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Março de 2010
Henrique Pedro

domingo, 2 de dezembro de 2018

Em Dezembro





Em Dezembro o Inverno é um inferno
frio e cinzento
contratempo

A alegria é triste
e o silêncio é denso
pesado
compassado

As noites são longas
e os dias
longos crepúsculos
opúsculos de impaciência

É tempo de reflexão
hora de resistir à impaciência
de despir por dentro
e vestir por fora
como se nos estivéssemos a despedir
sem saber para onde ir

Em Dezembro
as abelhas dormem nas colmeias
em suas celas de cera e mel
à espera da Primavera

Já as primeiras flores de laranjeira
nascidas a destempo
foram sacrificadas o vento gélido
e à geada
do Inverno cruel

Como o primeiro amor
que ainda em flor
foi tolhido pela intempérie
e atirado ao vento
num insano gesto
impensado pensamento

Em Dezembro
o vento é um longo lamento


Vale de Salgueiro, sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009
Henrique Pedro


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Fósforo




Cada poema que escrevo
é um fósforo que risco
na noite dos dias
sem luz

Ouço-lhe o ruído breve
característico da ignição
tento por proteger a chama
pequenina
com a concha da mão
o tempo suficiente para acender um círio
de amor sem martírio
num outro coração

Sonhando que arde
aquece
ilumina
anima
e já ninguém mais esquece
porque se ateia
se ata
a outra e outra candeia
em cadeia

É a fogueira da poesia
a chama da ideia
a iluminar a Terra inteira

Mas oh, Deus!
Quantas vezes cada poema que escrevo
é como se fora um fósforo que risco
para acender um cigarro
a que me amarro
para deixar arder
para esquecer

E que arde
sem se ver

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 25 de novembro de 2018

O enigma felicidade





Vista do lado de fora
à luz do dia
a felicidade chama-se alegria

Por dentro é contentamento

Poderá ver-se num olhar
num sorriso
numa imperceptível expressão facial
num abraço
num aperto de mão
no bater do coração

Até numa lágrima
num embaraço
ou noticiada nalgum jornal
também

Muitos a procuram
porém
nos bares
nos estádios
no sossego dos lares
na religiosidade de um templo
ou até na aspereza da Natureza

Poderá andar por aí, sim 
mas não é aí que a felicidade
se encontra ou mora de verdade

É dentro de nós que a devemos procurar
e só nós em nós a poderemos despertar

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Agosto de 2008
Henrique Pedro