Qual rio a correr
para o mar
sem saber em que
oceano
ou lago
se irá transformar
também eu
estou
a caminho
A carne e os ossos
dissolvem-se-me no húmus
que os criou
prazeres e dores nos
fumos
do anoitecer
acto trágico de
morrer
Eu diluo-me no tempo
transformando-me em pensamento
sem saber o que sou
tão pouco para onde
vou
Tornarei
feito nuvem
trazido nas asas do
vento
para em poesia
de novo
me precipitar?
Ficarei
eternamente
por lá
no ar
sem mais dor
apenas a mais a
amar?
A certeza
a tenho
de morrer
não a de desaparecer
Porque se assim
fosse
não havia existido
sequer
Vale de Salgueiro, terça-feira, 26 de Outubro de 2010
Henrique António Pedro
In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)
Depósito legal: 404160/16
ISBN: 978-989-97577-52