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sexta-feira, 4 de março de 2022

É longe demais o Além


O soldadinho chora


Chora lágrimas

suor

sangue

e saudade

capazes de o matar

embora

de nada lhe sirva chorar

 

Ainda assim o soldadinho

chora baixinho

calado

teme morrer

sem voltar

 

É longe demais o Além

para lá ir

e voltar

 

E sua mãe

em permanente oração

não pára de o chamar

para mais perto

do lar

 

Oh que apertado aperto de coração!

 

É longe demais o além

para lá ir

e voltar

Henrique António Pedro


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Nada, ninguém e mais alguém


Poderá ser só oxigénio e vapor de água

pairando etéreos sobre as colinas

arroteadas

em que medram videiras

rejuvenescidas

oliveiras prateadas

amendoeiras floridas no alvor da Primavera

 

Poderá ser só o suor

que o corpo transpira

e se evapora em diáfana nebulosidade

que reflecte e refracta com verdade

o vapor de amor

que do espírito se evola

e se transmuta em telúrica alegra

 

Poderá ser só o ar
que espírito respira

e pelos pulmões expele

condensado em bafo de poesia

 

Poderá ser só tudo isso

tudo que o poeta só

almeja

 

Vapor de amor e de água

também

nada que se veja

 

Mágoa de alguma alma enamorada

submersa na poética neblina

aspergida por aí

e por além

 

Poderá ser só nada

ninguém

e mais alguém

 

 Henrique Antóio Pedro

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Escreverei poesia até à hora da minha morte



É minha sina

é minha sorte

escrever poesia até à hora da minha morte.

 

Na hora de morrer

ouvir-se-ão os sinos da minha aldeia

tanger

poesia

e as aves e as flores

cantar-me-ao ao ouvido suas dores

para me consolar

 

E uma maior alegria

exultará a minha vida

no meu coração

na hora da despedida

 

E a odisseia de viver

dará lugar

à epopeia de renascer

acórdão de redenção

 

Não deixarei de escrever poesia

e de  amar

mesmo depois de morrer

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Agosto de 2011

Henrique António Pedro


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A minha alma


Não é branca

ou negra

etérea

transparente

ou sequer vaporosa

a minha alma tal qual a sinto

 

É uma luz interior

cor-de-rosa

 

Um vórtice de amor dentro do meu ser que anseia tudo abraçar em redor

ao som de uma cósmica orquestra sinfónica

 

Uma vontade de congraçar a Terra inteira

o Céu

Estrelas e Galáxias

o Universo todo

e tudo devolver à vida

em explosão cósmica de amor e verdade

 

A minha alma tal qual a sinto e pressinto

mas não vejo

é um sopro de pensamento

um novelo emaranhado de afectos e pensamentos

um lampejo de eternidade

 

É uma radiação no cérebro que afago com a mão

 o pulsar do meu coração

 

A minha alma tal qual a sinto sou eu e são os meus eus

sem corpo

feitos vento

a voar

para Deus

universo adentro

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Abril de 2009

Henrique António Pedro



segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Cinderela


Tanto eu amava aquela bela Cinderela

Que gritava meu amor ao vento

Em jeito de lamento

Por dele não ousar falar a ninguém

Nem mesmo a ela

 

Respondia-me o eco

Repetitivo como um sino

Badalando o meu amor

Sem tino

Por montes e vales

Atribuindo ao meu triste destino

A origem dos meus males

 

Tanto eu amava aquela bela Cinderela

Que desenhava o meu amor na areia húmida

Da praia deserta

Feito criança

Na esperança de que lhe seria levado pelas aves

 

Mas vinham as ondas Uma a uma

Apagar os riscos fugazes

Devagarinho

E cobri-los com a sua própria espuma

 

Tanto eu amava aquela bela Cinderela

Que gravei o meu amor bem fundo

No tronco de um plátano secular

Certo de que a árvore confidente

Iria guardar o segredo para sempre

 

E ainda hoje quando por lá passo

Recordo atónito

Esse amor platónico

Afago a palavra “amo-te”

Gravada no tronco prateado

Dentro de um coração trespassado

Para enxugar as lágrimas de seiva

Que o plátano continua a chorar

 

E ouço o mesmo vento que me responde

Tangendo na ramagem silenciosa

Esta sinfonia chorosa

Sibilante de dor apesar do tempo

“Era no coração da bela cinderela que deverias ter gravado o teu amor”

 

Vale de Salgueiro, 2 de Janeiro de 2008

Henrique António Pedro

 

in Mulheres de Amor Inventadas

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia) 

1.ª Edição, Outubro de 2013


sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

À lareira

 



Fito a lareira acesa

com o coração ao fogo exposto

as labaredas lambem-me o rosto

com seu morno calor

 

São raízes que ardem

e me aquecem sem me queimar

lembranças de amantes

que me enlaçam

inebriantes

e uma após outra me vêm

beijar

 

Labaredas de lembranças

quimeras de amor

que aparecem

e me aquecem

mas logo se esquecem

fugaz fulgor

 

Estendo-lhes a mão por elas iluminada

ainda assim

sem dilema

para as acariciar

 

Guardo para mim este poema

cinza prateada de recordação

 

Vale de Salgueiro, Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2012

Henrique António Pedro