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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O imortal morreu




(Honni soit qui mal y pense)

O imortal morreu!

Foi a enterrar com pompa e circunstância
concorrido foi
o funeral

Não consta que haja ressuscitado
pelo menos até ver
a menos que ande disfarçado
ou esteja escondido em algum lugar
à espera de voltar a morrer
quando melhor lhe aprouver

O imortal morreu
contrariamente ao que se previa
tal era o seu brilho e vaidade
mas nenhum milagre 
aconteceu

Persiste contudo a esperança
de que venha a ressuscitar
em mais asados tempos
quando os ventos
soprarem a desconfiança
de vir a vagar
o lugar de Deus

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 24 de Junho de 2010
Henrique Pedro

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Se pequei de amor contigo…





Se pequei de amor contigo
procurei no pecado
a virtude

Crente de que tomava a via do amor
para a verdade
de que o prazer induzia
espiritualidade
e por crer que jamais o amor
gerava dor
e a virtude ilicitude

Sou agora ciente
de que múltiplos são os caminhos da vida

mas um só o sentido da mais pura paixão

O sentido único da iluminação


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 25 de Março de 2010
Henrique Pedro

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

50 Sonetos de Amor (XLVII Chegar, amar e partir)




XLVII
Chegar, amar e partir


Ela chegou sôfrega como ele imaginou!
Mas deram um só abraço, bem apertado, ardente…
Sentiam a sofreguidão do desejo pela frente
Assim, ele, como ela, paciente, esperou.

Aquela era, sim, a mulher com quem sempre sonhou
Não haveria razão para estar impaciente
Apenas deles dependia esse amor candente
Ela acreditava, também ele acreditou

E quando entendeu Deus, levá-la, contrariada
Ainda assim, resignada, a Deus ela sorriu
Mas partiu, triste, para sempre a ele abraçada

Mas se ao desejo da chegada dela resistiu
À trágica despedida da vida, inesperada
Agora, triste, para sempre só, ele sucumbiu

Vale de Salgueiro, sábado, 19 de Julho de 2008
Henrique Pedro

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

50 Sonetos de Amor (XXXVIII Teme viver quem morrer teme)



 

Teme viver quem morrer teme


Esse estranho medo de morrer

Advém de se saber um ser mortal.

Assim, teme morrer sem o querer

Quem bem se sente vivo, afinal

 

Já o anormal medo de viver

Advirá de se saber imortal

Mas temer sofrer, depois de morrer

Ainda mais e de maior mal

 

Se eu temo viver e morrer eu temo

Entrego-me, então, na mão do demo

Duvidando da imortalidade

 

Bem melhor será amar de verdade

Acreditar, sim, na Felicidade                   

Fazer fé no Amor do Pai Supremo

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 1 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro

 

domingo, 28 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XXXIV As flores do meu coração)




XXXIV
As flores do meu coração



Perfumadas ou não, pelas rosas tenho paixão
Mesmo se os seus espinhos me arranham a pele
Quando a tentação de cortá-las me impele
Mas elas acabam por lancetar meu coração

Também aprecio o cravo, a flor da Nação
Em Abril glorificado pelo povo alegre.
A tília é um amor pelo odor que expele
À mística açucena voto adoração

Laranjeira, amendoeira e a cerejeira
São árvores de fruto com flores de encantar
Artifícios da Mãe Natureza feiticeira

Especial afecto sinto pela sardinheira
Verde e rubra, aveludada e popular
Cheira a sardinha a flor do povo padroeira!

Vale de Salgueiro, 26 de Abril de 2008
Henrique Pedro

domingo, 21 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XXX Terra Mater)





XXX

Terra Mater


Enlevam-se o meu olhar e o meu coração
Perante este mar de oliveiras prateadas
Meu bendito berço de mil colinas encantadas
Toma-se o meu ser da mais sentida comoção.

Bandos de aves livres voam em livre formação
Pela branda brisa do cair da tarde embaladas
São pela santa Mãe Natureza abençoadas
Dão asas e graça à sua natural paixão

Terra sem igual sagrada pela oliveira
É aspergida por espiritual quietude
É ganha-pão de gente simples, pura e ordeira

Que nos úberes vales de rio e de ribeira
Com amor cultiva essa agrária virtude
Queira Deus haja paz igual na Terra inteira

Vale de Salgueiro, 19 de Abril de 2008
Henrique Pedro

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Uma rosa venenosa


A essa rosa ultriz e malvada

Que infeliz agora se finou

Embora fosse flor e perfumada

Foi o seu sorriso que a matou

 

Rosa rara, falsa, aculeada

Que a si própria se enganou

A todos dizia que os amava

Mas nunca a ninguém ela amou


Era ruim, sim, só erva daninha

Que até picos nas pétalas tinha.

Seria bela, mas era má flor!

 

Uma rosa danosa, flor de dor.

Não sabia o que era amor.

Murchou abandonada, sim. Sozinha!

 

Vale de Salgueiro, sábado, 14 de Fevereiro de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 16 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XXIV Mulheres)


Mulheres

Muito mais desiguais entre elas

Que os próprios homens entre si

São as mulheres com quem convivi

Para lá de sensuais ou de belas

 

Mas reconheço que qualquer delas

Quando canta, chora ou sorri

E tantas mulheres eu conheci

Irradia mais luz que as estrelas

 

Umas fazem-me boa companhia

Outras apenas me divertem, sim

A todas quero bem, ainda assim

 

Mas a mulher mais mulher para mim

É a mãe que sofre, ama e cria

À imagem da Mãe de Deus, Maria

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 12 de Setembro de 2008

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Do Amor-Dor da nossa Mãe



Do Amor-Dor da nossa Mãe


Com o amor de nosso pai e nossa mãe

No útero materno somos nós gerados

Pelo desígnio divino abençoados

Paridos com dor, porém, e amor também

 

Do amor-dor de mãe tudo por bem, advém:

O bom leite com que somos amamentados

As lágrimas dos dias mais angustiados

A esperança dum dia sermos alguém

 

Do paraíso que é o mátrio seio

Jamais dele seríamos nós afastados

Se a Mãe de Deus estivesse de permeio

 

Nem o acto donde toda a dor adveio

O bom Criador o teria consumado

Caso Eva já fosse mãe. Assim eu creio!

 

Vale de Salgueiro, 1 de Maio de 2008

Henrique António Pedro

 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XIX Sempre noiva, eterna menina)




XIX
Sempre noiva, eterna menina


De tão formosa parece divina
Sempre noiva, radiosa rainha
Tantos são, sim, os seus apaixonados
Tão belos os príncipes encantados!

Não saber quem amar é sua sina
Que dela faz a eterna menina
Actriz de mil noivados adiados
Fautriz de muitos mais sonhos frustrados.

Seus amores são pungentes poemas
Ardentes diademas de dilemas:
Optar por um deita mil a perder!

Lindo sonho de amar e sofrer
É, assim, seu viver até morrer
Vida de mil amores e mil penas

Vale de Salgueiro, terça-feira, 12 de Outubro de 2010
Henrique Pedro


terça-feira, 9 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XVIII Loucuras de amar que não versejo)




XVIII

Loucuras de amor que não versejo


Desnuda-se, serena e silenciosa
Recobrindo-se de diáfano fascínio
Contemplo-a, impaciente, por desígnio
Certo de que se entregará, pressurosa

Depois, é deliciada e deliciosa
Sorrindo, cúmplice do meu raciocínio
Que me leva a perder o autodomínio
Bela, sensual, permissiva, amorosa

Tomo-lhe o corpo, que afago e beijo
Faz-me o mesmo com gritos de alegria
Entrelaçados de prazer e de desejo

Entontecidos pela mesma afrodisia
Caímos em loucuras que eu não versejo.
Descrevê-las, sim, seria pornografia!


Vale de Salgueiro, 14 de Maio de 2008
Henrique Pedro

terça-feira, 2 de outubro de 2018

50 Sonetos de Amor (XIII Paixão é ...)




XIII

Paixão é ...

Paixão é pulsão pulsante, é atração
É o fruto da sedução e do cortejo
É a chispa radiante dalgum desejo
É uma brasa acesa no coração

Que acaba por virar em negro carvão
Quando com triste e dorido arpejo
Porque o amor não logrou o seu ensejo
Se apaga sem apelo nem compaixão

Se o puro amor a alma não abrasa
Deixa o coração de ser uma fornalha
E de pronto a paixão perde sua asa

Estiola e arde como simples palha
E o tição que aceso foi rubra brasa
Acaba em cinza que o vento espalha


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 1 de Novembro de 2010
Henrique António Pedro

sábado, 29 de setembro de 2018

Uma deusa dormindo





Uma deusa dormindo


Enlevado, acordo de madrugada
Com a minha amada ainda dormindo
Em nosso tálamo de amor reclinada
Como uma deusa no sono sorrindo

Tão feliz, que decido não a acordar
Optando por ficar em fiel vigília
A inalar o doce odor de tília
Que o seu respirar exala no ar

Depois, quando, por fim, desperta ela
Finjo agora eu ainda dormir
Embora já o Sol ria à janela

Ela beija-me, sem parar, a sorrir
Sempre cada vez mais meiga e mais bela
Até que eu, sem mais, deixo de fingir


Vale de Salgueiro, sexta-feira, 26 de Março de 2010
Henrique Pedro



sexta-feira, 28 de setembro de 2018

50 Sonetos de Amor (X Fado do mal amado)



X

Fado do mal amado


Nunca houve outro amor assim
Uma tão cruel paixão entontece
Entrega tão pura ninguém merece
Nem sendo a mulher um querubim

Agora choro lágrimas sem fim
Meu pranto ao longe se esmorece
Como uma mal sucedida prece
Que amargamente se vai de mim

A fada cruel quebrou o encanto
Para sempre seu coração calou
Esta é a razão deste meu pranto

Mas a vil paixão de mim não voou
Por isso cantar este triste canto
É fado amargo que me tocou


Chaves, 8 de Março de 1966
Henrique Pedro

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

50 Sonetos de Amor ( IX Coisas que me dizes sem querer)




IX
Coisas que me dizes sem querer

Dizes-me coisas que nada me dizem
Coisas que a mim me fazem sofrer
Coisas que tu não dizes por dizer
Coisas que a ti só te contradizem

Coisas que tu me dizes sem querer
Coisas que os teus olhos bem desdizem
Coisas que contigo não se condizem
Coisas que tu dizes, mas a doer

Coisas que a ti dizes sem saber
Coisas p`ra que meus olhos ajuízem
Coisas de bem-querer, é bom de ver

Coisas e sorrisos a desdizer
Coisas que de ti mesma tão bem dizem
Coisas e coisas só p`ra me prender


Vale de Salgueiro, terça-feira, 12 de Junho de 2012
Henrique Pedro

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O amor, que é o amor?






 O amor, que é o amor?

(Decassílabo)

A todos nós nos é dado saber
E sentir aquilo que é amor
Porque é o contrário da dor
E parte vital do nosso viver

Melhor seria, sim, ninguém sofrer
Sempre sentir do amor o calor
Sem que houvesse dor ao seu redor
Vivendo apenas puro prazer

Porém, muito poucos sabem amar
E só porque não sabem bem-fazer
Acabam por o amor aviltar

Amar com o mais puro sentimento
Sem a si próprio se enganar
É pura fonte de conhecimento


(Heptassílabo ou redondilha maior)

É-nos dado, sim, saber
E sentir que o amor
É o oposto da dor
Vital no nosso viver

Seria bom, não sofrer
Sentir do amor calor
Sem haver dor ao redor

Viver só puro prazer
Não sabermos bem amar
Nem sabermos bem-fazer
É o amor aviltar

No sentir do sentimento
Ninguém se pode enganar
É puro conhecimento


Vale de Salgueiro, domingo, 7 de Novembro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 23 de setembro de 2018

Amor, pó e vento





Amor, pó e vento

A mulher mais bela e sensual

Todo o homem que se entender

Por mais afamados que se quiser

Morrem como qualquer animal

Compostos orgânicos por igual
Acabam num monturo qualquer
Para em estrume se converter
Podres, putrefactos. A cheirar mal!

Disfarçamos com perfume por fora

O pó e o vento que temos dentro

Animados de amor muito embora

 

Até que a morte toma assento

E a todos nos diz, aterradora:

- Salva-se o Amor! Não o pó, nem o vento!

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 28 de Agosto de 2008

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

50 Poemas de Bem Amar e Bem-querer ( V Basta-me o teu olhar)





Basta-me o teu olhar

Basta-me o teu olhar, sim, para começar

Que não me ignores, que não fujas de mim

Ainda que se de mim foges, por frenesim

Só a ti e não a mim estás a enganar

 

Se eu te olho com olhos de encantar

É só porque te quero bem, sem outro fim.

Olha-me com olhos de que estás afim

Então, sim, ver-me-ás a rir e a cantar

 

Mas se teimas em fugir e a não me ver

Nem assim mesmo tu me farás desistir

Apenas aumentarás meu cruel sofrer

 

E se temes que eu esteja a mentir

Pára para me ver e melhor entender

Que o amor que sinto não é a fingir

 

Vale de Salgueiro, 15 de Maio de 2008

Henrique António Pedro