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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Pede-me que lhe escreva um poema de amor



Ela sabe bem que o poeta fantasia

ainda que sempre o faça por amor

e não para enganar ninguém

 

Embora só a si próprio se iluda

com o ilusório solilóquio

com que alivia

sua dor

 

Pede-me ainda assim que lhe escreva um poema cor-de-rosa

sem imaginar como me perturba

tal o dilema

em que me mete

 

Não porque me não dê sedutoras mesuras e motes

estrofes e rimas

tantos são os seus atributos

tão fortes os seus dotes

tão ousados os seus decotes

ou não fora ela toda feita de poesia

e de prosa

 

Vaidosa

pede-me ainda assim que lhe escreva um poema

cor-de-rosa

 

Um poema de amor que a faça sonhar

sem imaginar

como me compromete

 

Não!

Poemas de amor não tenho devolutos

 

Que se contente com este poema de verdade

que de amor não deixa de ser

embora de um género mais “soft”

a que se chama amizade!

 

Vale de Salgueiro, domingo, 8 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A mulher não é flor que se cheire




A mulher não é teta
nem ventre
nem vagina
nem coxa
nem bunda
ou flor que se cheira

Tudo isso é treta

A mulher é mãe
esposa
filha
tia
irmã
avó
amiga
amante

Ou só cidadã
casada ou solteira

Sem ela
o homem
nem sequer seria

A mulher é amor
é tristeza e dor
alegria e pena
sonho 
poesia
Virgem Maria

O Homem-Deus sem Ela
não existiria

Sem a mulher
o amor 
se acontecesse
não teria sabor
e seria
pela certa
monocolor


in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ápex






Passo horas assim

Quieto

Bem desperto


Em decúbito dorsal

fitando o tecto

do Firmamento

 

A brisa suave que me afaga por fora

transforma-se em vento

por dentro

 

Mesmo com o céu encoberto

embrenho-me em recordações

em dilações do tempo

dou volta ao mundo

 

Suspendo a vida

 

Uma estrela cadente

perdida

passa célere

ante meus olhos

 

Num ápice

mergulho no ápex

arrastando comigo todo o Sistema Solar

 

Até que ouço alguém chamar

a dizer-me que são horas de dormir

a pedir-me para voltar

antes que me perca

 

Mas eu já não estou ali

nem lá

nem além

nem aqui

nem cá

 

Estou inteiro dentro de mim

onde também cabe o Cosmos

 

É de lá que vejo

sinto

e ouço

o mundo que me cerca

 

in “Introdução à Eternidade”

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

1.ª Edição, Outubro de 2013


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Dizem que o poeta é demente





Imagem: Fernando Pessoa

Dizem que o poeta é demente
Que não vive neste mundo real
Que, qual esfinge, finge e mente
Que não passa dum louco, afinal

O poeta é um ser anormal
Bem diferente do resto da gente
Embora distinga o bem do mal
É um ser sem maldade, inocente

O poeta pugna pela verdade
Sem obedecer a nenhum poder
Tão-somente serve a liberdade

O poeta louva quem merecer
A si basta a imortalidade
E consolar a quem sente sofrer

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 13 de Setembro de 2010
Henrique António Pedro

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Paixão platónica



Trago o meu pobre coração a arder
É tão triste a minha condição
E tão abrasadora a paixão
Que o desfecho não posso prever

A essa mulher não passo sem ver
Embora forçado pela Razão
A conter-me e a dizer que não
Senão, tudo deitarei a perder

Mas ela, com sorrisos e perfume
Com seu doce jeito de me olhar
Mais não faz que atear mais o lume

Apaixonado, já não sei parar
Como sair deste amor incólume

Sem queixume, sem dor, sem me queimar

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A feia bonita Beatriz



Uma feia bonita
mulher ultriz
é raiz
deste poema
contrito lamento
feérico fonema

Suspeitava que Beatriz me amava
mas eu não sabia
o que comigo se passava

Tonto
disse-lhe que a achava feia

Era só meia verdade
a outra meia
era que muito a estimava

Mas a ultriz Beatriz
de pronto
me fez a vontade

Nunca mais me olhou
nem me procurou
e o meu coração mergulhou

na mais cruel ansiedade

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Uma puta qualquer



Habituei-me a vê-la, por ali
com ar convidativo, descarada
no seu “trotoir” chamativo
de carteira a cirandar na mão
debaixo de um pinheiro manso
mesmo à beira da estrada
no frondoso parque de Monsanto
sabe-se lá em que esconso remanso
guardava ela o seu coração

Era jovem, elegante e vistosa
vestia  minissaia cor-de-rosa
blusa transparente cor de salmão
não era uma puta qualquer
era sim, mais uma mulher

Eu passava a correr, ofegante 
nos meus “footings” matinais
mas não lhe falava
nem ela comigo se importava
mais atenta que estava à estrada
de onde vinha o seu ganha-pão

Mas um dia … nunca mais a vi!

Qual não foi o meu espanto
quando soube pelos jornais
que fora encontrada assassinada, por ali
em pleno parque de Monsanto

Comprei uma rosa, com espinhos
da cor da sua minissaia
e quando por lá voltei a passar
pelos habituais caminhos
do meu “footing” matinal
desta vez parei, para lhe falar
como se o fizesse do habitual
para colocar a flor
com respeitoso amor
sobre um tufo espontâneo de feno
e coloridos malmequeres

Dediquei-lhe uma breve e sentida oração
e não resistindo ao impulso blasfemo
que me saiu, directo, do coração
gritei para comigo, entristecido:
- É bem “puta” a vida, para certas mulheres!


in "Mulheres de Amor Inventadas" (Henrique Pedro-2013)


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aposto que este poema é o mais estúpido



Aposto que este poema é o mais estúpido
de todos os poemas que algum dia foram escritos
embora poemas por escrever
haja aos milhares e a ferver
desejosos de se dar a conhecer
neste ínterim

Poemas à espera de poetas proscritos
que os queiram assumir
sendo certo que em poesia
tudo pode coexistir

Ainda assim
meus senhores
este poema só não será o mais estúpido
se for apreciado por um número suficiente de leitores
alguns dos quais lhe acharão graça
e haja até quem me diga que gosta

Alguém poderá mesmo considerá-lo genial
e então eu concluirei afinal
que maior é a minha desgraça

porque perdi a aposta

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Badaladas desconcertadas do coração




Doze badaladas o coração bate
ao meio dia
como cão a latir

Ruidosas
apressadas
pressurosas
a fugir
a saltar fora do peito
a viver fora de si

Outras doze badaladas o coração bate
à meia-noite
como vento a rugir
fora de tempo

Langorosas
arrastadas
pesarosas
a parar
para morrer
dentro do si

Doze com doze são vinte e quatro
badaladas
desconcertadas
que a vida tem
mais aquelas que o coração bate
no ventre de nossa mãe

Mais aquelas descontadas
se dormimos
ou não sentimos
o coração bater
por ninguém
mundo fora
hora a hora
aqui
ali

além

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Não chores por mim, Argentina!


Não chores por mim
Argentina

Nem digas que vais ficar
para sempre
à minha espera

A ti, eu jamais direi adeus

As lágrimas de amor
e de infundado temor
que vejo luzir em teus olhos
neste meu hesitante partir
sem te dizer se vou voltar
acendem saudades nos meus

Pensa antes, amor
nos molhos de poemas e de flores
que te irei ofertar
já na próxima Primavera

Mas não me digas, por favor
que vais ficar
para sempre
à minha espera
que me deixas desolado
a pensar
que poderei
não poder
voltar
jamais

E eu não quero que seja
assim tão demorado
o teu sofrer

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

As estrelas



Vivo no campo
confrontado com o encanto
do Cosmos e da Natureza
noite e dia

De dia é o Sol
que desde a aurora
com esplendor e beleza
me desafia

À noite são as estrelas
e é a Lua
que de amor estua
e me alumia
de soledade

As estrelas estão lá no Céu
no regaço do Universo
cobrindo todo o espaço
com seu véu
de luz e verso
e espiritualidade

Pequeninas
bruxuleantes
a chamar por mim

Lá no Firmamento
sem fim
a espevitar o meu pensamento

Pequeninas e distantes
a dizerem-me ainda assim
o que nem sei
imaginar


Por mais que ande
só serei
verdadeiramente grande
quando as alcançar

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Amar de novo



Abraçam-se

Beijam-se
e amam-se
como se fossem únicos
na Terra
como se houvesse só aquela cama
e estivessem sós no Sistema Solar

Não tinham dúvidas
de que não existia mais ninguém
nos restantes planetas
nem se importavam com isso

Estavam de facto sós
na companhia um do outro
e entregues à sorte do seu amor
no sistema solar da sua paixão

Na sua cidade, porém
havia mais homens e mulheres
que moravam na mesma rua
mesmo a seu lado

E havia muitos mais na Web
nos cinco Continentes
na Terra inteira
nas esquinas da vida
nas estradas da insatisfação

Sem limites de velocidade para a dor
ou para a desilusão
era só a acelerar
sempre
sem parar

Por isso, quando arrefeceu o ardor
desencontraram-se numa nova paixão
que não se previa

Será que um dia
se reencontrarão num novo amor?

Numa nova
e mútua paixão?

Que voltarão a amar-se de novo?


E porque não?

sábado, 27 de julho de 2013

Apascentando estrelas ao luar


A Lua

já ali está

esplendorosa

cheia

cristalina

desde o sol-pôr

 

Pousada no horizonte

ao alcance da mão

toca-me o coração

com mil estrelas a cintilar

em seu redor

como se eu fora seu pastor

 

O som estridente das cigarras

é agora ensurdecedor

 

O Sol

que espanta as estrelas

durante o dia

à noite deixa-as viver

emprestando a luz à Lua

que a Lua derrama em luar

e fantasia

 

O aroma do alecrim

que perfuma o vento

entra por mim a dentro

 

Alcanço

por fim

o topo da colina

com o espírito circunscrito

no amor de Jesus Cristo

 

Quedo-me por ali

a destempo

até o Sol nascer

apascentando estrelas a refulgir

no redil do meu olhar

acorrentado ao dever

olvidado do devir

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 27 de Julho de 2010

Henrique António Pedro

terça-feira, 23 de julho de 2013

A poesia não é nada nem ninguém



A poesia é um sopro
o borbulhar na superfície da consciência
de mil humores desconhecidos que nos fervem na alma
e no corpo

E os poemas
são borbulhas de sonhos
de afectos
de desejos
que rebentam em palavras
e expelem harmonias e cores
muitas vezes descompassadas
descoloridas
e que nem ideias são

Bolhas que poderão salpicar outros espíritos
e correr mundo
ou simplesmente implodir em angústia

Porque nem toda a poesia almeja ser poema
ainda que seja latente tal sonho

A poesia é como uma mãe
que se amamenta a si própria
e derrama mel
e leite
e fel

A poesia é uma mãe
e os poeta filhos pródigos

A poesia não é nada
nem ninguém

é uma coisa como outra qualquer

domingo, 21 de julho de 2013

Aquém e além da morte



Aquém da morte
é a vida

A certeza da dor
e a incerteza do amor

O prazer
e a alegria fugaz
a procura da paz
o recurso ao sonho
e à fantasia do futuro risonho
o constante construir da saudade

Além da morte
é o além
da vida
sofrida

a esperança de eternidade