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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Roubaram Jesus do Presépio


Tiraram o Menino Jesus das mãos da Virgem Maria, Sua mãe

e das de São José,  Seu pai

para pôr a Divina Criança a dormir ao relento

nua

no meio da rua

sem esperança

nem razão de ser de tanto sofrimento

 

Roubaram o Divino Menino do épico presépio

foi o que foi

 

Quem!?

 

Os donos do mundo, quem haveria de ser

e todos nós também, para seu contento

 

Contrataram, então, um velho barbudo anafado

cognominado Pai Natal

à margem do Evangelho

promovido a chavão comercial

para vender o feno, a palha

e o esterco de curral

 

Que Deus nos valha!

 

Ventos de miséria e de guerra

sopram agora por toda a Terra

a Paz jaz sepultada em túmulos de dor

lado a lado com o Amor

e a verdadeira Luz

 

Neste mundo governado por pilatos devassos

e tirânicos herodes

ogres satânicos

facínoras dementes

que assassinam santos inocentes

tentando matar à nascença

o pequenino Jesus

 

Que terrível desaforo!

 

Escarnecem da Virgem Maria

tratam São José com aleivosia

vilipendiam Cristo e a Cruz

 

É tempo de choro e de ranger de dentes

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Dezembro de 2012

Henrique António Pedro


domingo, 18 de dezembro de 2016

Um sonho universal




Sempre sonho
pelo Natal
este sonho universal

Que o calor da minha lareira
aquece a Humanidade inteira

Que a minha melhor comida
a todos é servida

Que o amor da minha família
por todo o mundo se irradia

Que a paz do meu lar
por toda a parte
se reparte

E sempre fico a desejar
que a ideia deste dia
não se aparte
do meu pensamento
e seja mais que poesia

Sempre sinto pelo Natal
este doce sentimento

E sempre fico a sonhar
que um dia há-de chegar
o Natal universal



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Lapsos de amor e memória




Bebo café

em pé

ao balcão de uma qualquer pastelaria

 

O meu espírito anda longe dali

os olhos passeiam-se

absortos

por todo o lado

repousando vagamente em quem entra

e quem sai

sem segunda intenção

 

Neste ínterim

a empregada

mulher linda

traz-me um pastel de nata

e pergunta-me se quero canela

 

A nata não seria para mim

mas de pronto respondo que sim

com mesura

e mais digo sem pensar

tocado pela sua formosura

que a quero a ela

                        

Em dois momentâneos lapsos de tempo

acontecem dois simultâneos amorosos lapsos de memória

de amor, café e canela

agridoce rapapé

sem vanglória

 

Fiquei sem saber quem eu era

onde estava

o que fazia ali

e qual seria o meu papel na história

 

Ante o meu embaraço

a empregada

sorri

ruborizada

 

Oh, que dilema!

 

De pronto recupero a lucidez

anoto o sorriso

perdão

o poema

num guardanapo de papel

sem mais demora

 

A empregada sorri-me outra vez

agora descarada

de soslaio

mas eu sem mais nada

saio

 

Venho-me embora

não vá ter outro relapso lapso de memória

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 11 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Uma piedosa mentira de amor



Disse-lhe que a amava
ela acreditou


Alegrou-me a alegria
que o seu espírito extravasou
em beijos
abraços

e gritos

Muito mais do que eu esperava

desse amor que a espaços

eu vinha deitando a perder

Ainda sinto remorsos

confesso

contrito
de não lhe ter dito a verdade
por pensar

que mais a faria sofrer a ela

do que a mim penar

A verdade é que amo aquela mulher
não como ela me ama a mim
mas amo-a de verdade

ainda assim

Fico à espera que seja ela a descobrir

docemente e sem penar

que não a amo como ela quer

por ser diferente o meu querer

Esta a virtude que a mim me ilude

se é que há virtude em mentir
ainda que por amor sentir


Esta a razão de ser
desta amorosa
piedosa
mentira


Perdoa-me! Amor!


Vale de Salgueiro, sábado, 12 de Junho de 2010

Henrique António Pedro


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Abra este presente





Ontem fiz anos!

E também fiz anos de facto
no ano transacto
e nos precedentes

Dia de anos é uma festa frequente
um dia de alegria
sem mácula de nostalgia
mais votada a viver que a morrer
a fazer anos que anos desfazer

Vivemos do encanto de quem amamos
por isso eu não os conto
nem desconto

Direi
portanto
que já nem sei há quanto
nem quantos conto ou desconto
quantos faço ou desfaço

Embora já tenha muito que contar
e continue a reclamar o quanto ainda não amei
o muito que ainda tenho para amar

Uma festa de anos é sempre um clamor de amor
que mede a idade da amizade
a força da alegria
a poesia da felicidade



Aqui deixo e não desleixo
o meu conselho
a quem for mais novo
ou da mesma idade
mais velho por feliz sortilégio

Não seja demente
faça anos sempre em festa
não conte os que lhe resta
nem ao passado remonte
que estar vivo é privilégio
e fazer anos um presente



sábado, 3 de dezembro de 2016

Deus?! Deus é assim como Deus é.


 

Deus é como Deus é

é assim como o Amor é

Só o vê e sente o Amor

ou no Amor crê

quem vive apaixonado

 

Deus é como Deus é

é assim como o Saber é

Só sabe quem procura saber

enamorado

 

Deus é como Deus é

é assim como a Verdade é

Só a conhece quem a pratica

desapaixonado

 

Deus é como Deus é

é assim como a Felicidade é

 

Só a tem

quem com esperança

a espera

Deus é assim como Deus é

 

Nós apenas apenas desconfiamos

mesmo se acreditamos

como Deus é

 

Deus é como Deus é

Só Ele sabe como Ele é

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Outubro de 2010

Henrique A. Pedro

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Quem é quem amo?


Quem é quem amo?

Muitas vezes me quedo parado
a olhar
com os olhos do rosto
e da alma
a quem amo de verdade

Depois dou por mim deslumbrado
sem que saiba porquê

Assim como
quando
fascinado
me deixo ficar extasiado
pelo nascer do sol
ou pelo sol-posto

Quem sou eu?

Donde venho?

E quem é quem amo?

Este deslumbre de amor
não é racional

É um portal
da eternidade

É um divino fascínio
que me faz acreditar
e a mais
e mais
Amar

Henrique António Pedro

in Anamnesis (Ed. Autor- Jan 2016)















quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Penso que penso só por pensar




Por vezes fico parado
a pensar

A pensar que penso
só por pensar

Alheado
por fora
sem graça
fascinado por dentro

Sem me aperceber
sequer
do vento
que por dentro
me perpassa
vazio de sentimento
nem quente
nem frio

A olhar o vazio
sem me deixar
adormecer
a pensar que penso
só porque penso

Fora de mim nada me diz
dentro de mim nada me digo
o coração nada sente
não há fantasias
nem dilemas na minha mente

Apenas rumino poesias
apenas regurgito poemas

Simplesmente
a pensar que penso
só por pensar




terça-feira, 29 de novembro de 2016

E o meu espírito assim se redime





Sem querer
por vezes me desalento
desanimo
me esvazio de mim
me oco por dentro
caio em crise de fé
e mal me tenho de pé

(E quem
se não eu
se poderá esvaziar de mim?)

Momentos em que a angústia
me assalta a Razão
a ansiedade me toma o coração
e o meu espírito nele próprio se comprime

Já não é dor exterior
que sinto
é sim um sofrimento atroz
interior

Então o maior grito de fé
grito-o em silêncio
porque a maior dor
a sinto por dentro

E o meu espírito assim se redime




segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Não guarde para si a última bala



Não guarde para si
a última bala

A sua derradeira dor
fala
sorriso
beijo
abraço
o último bater do coração

Guarde apenas para si
o seu último poema
a poesia da vida inteira
para declamar perante o Criador

Para que seja Ele a decidir
se é
ou não
merecedor
de continuar a amar
a ler
e a escrever poesia

A dar
e a receber
amor
e a sentir alegria
mesmo depois de morrer



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Um homem apaixonado




Sou um homem apaixonado
trago a paixão
por perto

Vivo de alma atada ao corpo
pelo sopro do amor
laços de afecto
amarras de ilusão
liames de fantasia

São abraços
beijos
desejos
laivos de poesia

Com que me embaraço
enlaço
e desenlaço

A minha alma voa em seu esplendor
flutua até à Lua
mas não cai
no chão
da rua

Faço das tripas coração



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Amar nunca é demais




Tanto sonho havemos de sonhar
que acabaremos por transformar
o sonho em realidade

Tanta ilusão havemos de construir
que acabaremos por cair
na realidade

Tanta coisa havemos de comprar
e vender
que acabaremos por aprender
o seu real valor

Tanta mentira havemos de urdir
que prenderemos a discernir
a pertinaz verdade

Tanto havemos de pensar
que acabaremos por ganhar
consciência plena de nós

Tanta guerra havemos de travar
que acabaremos por proclamar
a paz
de viva voz

Tanta dor havemos de sentir
que acabaremos por descobrir
o que nos faz sofrer

E tantas paixões venais
havemos de viver
que aprenderemos a reconhecer
o verdadeiro amor
e que amar
nunca é demais





segunda-feira, 21 de novembro de 2016

É na escuridão mais escura que a alma mais luz




Abro o livro
e leio

O meu espírito espevita

Ouço a voz seca de Séneca
que em seu douto pensamento
há séculos
ao vento
grita:
“Deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança.”

É a mim que me ouço feito criança
em desassossego

À luz do dia
tomado pelo instinto
tinto de emoção e ilusão
deixo de me ver
e de me ouvir

À luz do dia
de ambição imbuído
a ideia é ruído

No escuro
melhor  me oiço e mais bem vejo
sei o que procuro
e o que desejo

No escuro mais medo sinto 
mais a mente anseia
a esperança renasce
o silêncio é ideia
divino enlace

Abro o livro
e leio
e releio “ A Noite Obscura” de João da Cruz

É na escuridão mais escura
que a alma mais luz

 
Henrique Pedro
Vale de Salgueiro, 3 de Fevereiro de 2008

sábado, 12 de novembro de 2016

A minha versão dos factos



Uma taça de cristal
sem fim
a transbordar
de água cristalina

Ramos de rosas
amorosas
em tálamo nupcial
perfumadas
armadas de espinhos

Se fosse outra
a flor
seria jasmim
da cor da aurora
a perfumar os caminhos

Poesia a florir em mil fractais
a alagar o Cosmos
de espiritualidade
e ais
de angústia
de uma eterna saudade

Ouve-se então
o tropel do coração

Nem anjos
nem deuses
nem diabos
em contrição

Não sabemos o que somos
mas é para anjos que vamos
ao fim e ao cabo
assim apaixonados

Pecamos com virtudes
santificamo-nos com pecados

Esta a minha versão dos factos

Seguramente a mais próxima
da verdade



in Anamnesis (Jan 2016-Ed. Autor)



sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Naquela noite o céu pegou fogo




Naquela noite o céu pegou fogo

 

O Universo entrou em guerra

pegou fogo o Céu

enquanto a Terra se cobria

com um véu

de afrodisia

 

Epílogo sagrado do virtuoso amor

dum homem e duma mulher

que em sua fé congraçados

e fiéis ao mandamento

haviam acordado

a virgindade manter

e ambos sofrer

a dor da castidade

até à noite do casamento

 

E assim foi que só depois do matrimónio

terminado o contrato sagrado

e fartos desse seu doce penar

deram por fim liberdade

ao prazeroso jogo

da pulsão da paixão

 

Então o Cosmos entrou em guerra

o Céu pegou fogo

e a Terra se cobriu

com um véu de fantasia

 

Que nenhum anjo ou demónio

ousou apagar

porque tal fogo era o Amor

divinal

aceso no Céu armado no tálamo nupcial

e pelo incendiário abençoado

que é Deus

  

Vale de Salgueiro, terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro