atravessado
a mim mesmo me espanta
Entrou
de mansinho
surgida
da rua
vestida
de lua
e
sentou-se na mesa ao lado da minha
vida
Pediu
uma chávena de porcelana
imaculada
vazia
de nada
Que
encheu de angústia
adoçou
com amargura
e mexeu
com a colher da poesia
por
entre vapores de Baco
e baforadas de tabaco
Despediu-se sem alegria
quando eu já bebia
de pé
a
minha chávena de café
e de ansiedade
Remexeu
comigo
aquela mulher
Tanto
que a impressão carmim
dos
seus lábios
rubros
de sensualidade
no
bordo da chávena de porcelana
imaculada
permanece
indelével
dentro
de mim
in
Mulheres de Amor Inventadas
(1.ª
Edição, Outubro de 2013)
Surge leve
graciosa
como uma rosa
que breve acaba de despertar
Traz os pulmões perfumados
da doce fragrância da tília
agora florida em flor doirada
e o hálito fresco
mentolado de madrugada
Sorri-me
alegre e sensual como a romã
que ao sol se abre pela manhã
Não resisto à tentação de a beijar
mesmo à frente de toda a gente
Envolve-nos o etéreo halo do amor
é o seu perfume que inalo
como se fora uma flor de verdade
O meu cérebro reage
ao teu encanto corporal
e a alma não fica indiferente
a tanta beleza e suavidade
Logo ao primeiro beijo
ao terno abraço do desejo
alcançamos a espiritualidade
O equilíbrio natural
em que os corpos se prologam pelo espírito
e os instantes se distendem
em Eternidade
^^
Se forçoso continua a ser
a vida nos separar
suposto seria não sofrer
e nem sentir saudade
tantos são os meios de comunicar
de distrair
quiçá
olvidar
Ouço suas mãos a bater no teclado
apressadas
do outro lado do mar
e fico quedo
calado
com as minhas paralisadas
por não as poder a delas acariciar
Ouço a sua voz com efeito estereofónico
e fico afónico
de saudade
Vejo a sua imagem
com resolução ímpar
e agrava-se a saudade
por não a poder tocar
Respiro fundo
não sinto o seu perfume
arde em mim o lume
da saudade
Desejo o seu abraço
noto que o espaço da separação
continua a ter a mesma dimensão
^^
Sinto que toda a dor me é exterior
e que a alegria me é interior
Por isso procuro uma alegria maior
que todas as pequenas alegrias
do dia-a-dia
Uma alegria sem igual
a alegria espiritual
Que definitivamente me ilumine a mente
me alegre o coração
e me anime o corpo
Uma alegria que sopre um sopro de felicidade
um vento forte de verdade
sobre o mundo em redor
Sinto que o sentido maior da vida
é a alegria
Não o prazer
o sofrer
a sorte
a morte
ou a louca idolatria
^^
A bem da Nação
mataram o Marão
Já lhe haviam retalhado a pele
furam-lhe agora o coração
Oh que futuro cruel!
Para lá do Marão
já demandam os que lá estão
Trás-os-Montes já não é o que era
uma nova era se espera
Melhor será?
Quiçá?
A bem da Nação
mataram o Marão
sem compaixão
morte que o progresso outorga
Teme e treme a Natureza
o Reino Maravilhoso de Torga
em seu esplendor e beleza
freme a pátria de Pascoais
o Douro de Garret e Junqueiro
acama
Enublam-se os luares de Janeiro
os amores de Trindade
entristecem
as almas esmorecem
o culto da verdade
perde a chama
Fenecem Terra Quente e Montanha
oh que saudade
que revolta tamanha!
A bem da Nação
mataram o Marão
A sua lenda não matarão
não!
Jamais!
^^
Levantavam-se brisas
mansinhas
de enamoramento
quando o sol se punha no horizonte
bem defronte do nosso olhar
Sopros de pensamento
que despetalavam as flores
e tudo perfumavam
em redor
Sopros de amor
ao sol por
que nos desnudavam as almas
e acalentavam calmas paixões
em nossos corações
Sopros de desejos
contidos
irradiados dos olhos
exsudados das mãos
dadas
e dos lábios floridos
em beijos
Hoje
só vejo fragas, giestas, abrolhos
seja a que hora for
Só
e sem ti
no mesmo sítio
desde o nascer ao sol por
refugio-me no infinito
^^