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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

O AMOR EM TODOS OS SENTIDOS

 


O AMOR EM TODOS OS SENTIDOS

 

O Amor…

 

não tem olhos, mas vê

e dá novo brilho ao olhar

 

não tem ouvidos, mas ouve

a harmonia da sinfonia do viver

 

não tem boca, mas canta e encanta

e à vida dá prazer

 

não tem olfacto, é inodoro de facto

mas a tudo dá perfume

 

não queima como o lume

mas aquece e enternece

 

não tem tacto, mas tacteia

e delicia com carícia

 

é insípido, não tem sabor

mas dá gosto ao paladar

 

não tem sexo, mas sublima a sensualidade

 

não tem coração, mas palpita

e dá verdade à paixão

 

não tem cérebro, mas pensa

e aviva a criatividade

 

O Amor…

não tem sentidos, mas sente

e seja em que sentido for

só o Amor dá sentido aos sentidos

e ao viver razão de ser

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2009

Henrique António Pedro


sábado, 18 de fevereiro de 2023

O mais glorioso acontecimento da minha vida

 



                            O mais glorioso acontecimento da minha vida


Sem merecimento é, de facto

o acto do meu nascimento

embora seja da minha vida

o mais glorioso acontecimento

ainda que não saiba bem

donde vim

 

Vim algures dalgum além

vogando no ventre de minha mãe

 

Tão pouco sei o que vim aqui fazer

e apesar de não me lembrar

muitos se alegraram com tal acto

sobretudo minha mãe,

apesar de ser ela a sofrer

as dolorosas dores de parto

 

Apenas eu chorei quando nasci

inquieto

porque a vida já me doía

por não perceber por certo

o que estava a acontecer

 

De mim nunca me aparto, ainda assim

toda a minha vida morei comigo

hora a hora

na mesma rua

no mesmo lugar

sob o Sol e sob a Lua

a saltar de terra em terra

em tempos de paz ou de guerra

 

Continuo a não me conhecer

a não saber quem sou

quem é o eu que dentro de mim mora

 

Sinto-me um ser mutante

um cavaleiro andante

o filho de minha mãe e de meu pai

que não sabe para onde vai

por não saber donde vem

 

Vale de Salgueiro, 29 de Dezembro de 2016

Henrique António Pedro


 

 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Prender e ficar preso por prazer

 


Prender e ficar preso por prazer

 

Lamento tão volúvel como o vento

uma nuvem fugidia

que apenas ilude

e adia

o sofrimento

 

Assim é o prazer de prender e ficar preso

a que chamamos paixão

que não passa duma ilusão

de que não nos libertamos

só porque pensamos

que amamos

 

À força de desejar mais do que amar

na trama de suas teias

ao peso de suas cadeias

mais acabamos por nos amarrar

 

Este prazer de prender e ficar preso

a que se chama paixão

não é liberdade de verdade

não

 

É sim

prisão

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 2 de Março de 2009

Henrique António Pedro

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

ANJO ANGUSTIADO

 


ANJO ANGUSTIADO


Deito-me sobre a relva

Em posição decúbito dorsal

Na ilusão fundamental

Inconsistente pensamento

De que ocupo sempre o centro do Firmamento

Vá para onde for

Deite-me com quem me deitar

 

Percebo a Via Láctea à minha esquerda

No céu límpido

Semeado de estrelas

 

Da direita chega-me o perfume das tílias

Floridas neste início quente de Verão

 

Fixo a vista na Estrela Polar

Aí me prendo a sonhar

 

Em breve a minha angústia

Alaga todo o Universo visível

E mais os invisíveis

 

Acabo por adormecer

Como um anjo angustiado

 

Vale de Salgueiro, sábado, 28 de Junho de 2008

Henrique António Pedro 

in Angústia, Razão e Nada (Editora Temas Originais-2009)

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Sons e silêncios que nos que nos tocam por dentro

 


Sons e silêncios que nos que nos tocam por dentro

 

Há sons e silêncios que nos tocam por dentro

sinais de que vivemos além do mais

 

São ecos

reflexos

de sons ouvidos em todos os sentidos

 

Sonoridades de verdade

sons de saudade

saltérios gregorianos

sons de espiritualidade

 

São sons que nos tocam por dentro

 

Tonalidades de verdades

timbres de afastamento

 

São lamentos de alguma mãe a sofrer

ruido de algum amor a esquecer

 

São sons doridos de sinais

silêncios de sepulcro

fulcro da religiosidade

 

São silêncios de pássaros agoirentos

pios sinistros de pardais

 

São chamamentos do além

de quem

aquém

não podemos esquecer

 

É o som do refulgir das estrelas

o silencio doce do luar

o tremeluzir da eternidade

 

Vale de Salgueiro, 4 de Fevereiro de 2023

Henrique António Pedro

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

ESTA SAUDADE CADELA

 


ESTA SAUDADE CADELA


Esta saudade cadela

morde-me e ladra-me a toda a hora

furiosa

e não me deixa dormir

 

Em vão tento amansá-la

imaginando a minha amada

saudosa

a sorrir-me

amorosa

a escrever este aerograma

que agora tenho na mão

e em que me diz que me ama

 

Aerograma que leio e releio

e mas mais me enleio

nesta cruel nostalgia

saudade cadela

insidiosa

que à lua ladra à toa

 

Só mesmo a poesia

dá conta dela!

 

Nangololo, Cabo Delgado (Norte de Moçambique), Agosto de 1972

Henrique António Pedro

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)