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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Na Praça Martim Moniz

 



Na Praça Martim Moniz

(Do meu baú de recordações)

 

Só me não me perdi

por um triz

 

Amei-a eternamente

Mal a vi

Nos breves instantes

Em que como ela

Esperava o eléctrico

Na Praça Martim Moniz

 

Os seus olhos negros

Tolheram-me por completo a visão

E porque eram negros e brilhantes

Não me deixaram ver nada mais

 

Foi maquinalmente que para ela dirigi meus passos

E percebi que também ela aguardou

Que eu lhe dirigisse a palavra

 

Passavam inúmeros eléctricos

Que nos levavam aos sítios para onde íamos

 

Mas nenhum de nós se importou

Nem sentiu pressa em partir

 

Tolhido eu pela luz negra

Dos seus olhos negros

E pela desenvoltura da sua trança

Presa, ela, à minha expectativa

Em que residia a sua esperança

 

Amámo-nos eternamente

Naqueles breves instantes

Até que por fim

Ela decidiu partir

 

Venci-me

Não a segui

Ainda assim

 

O eléctrico que tomou

Deixava-me a mim

A meio do caminho

 

Lisboa (Martim Moniz), Outubro de 1970

Henrique António Pedro


 

sábado, 29 de abril de 2023

Na ilha da Utopia

 


Na ilha da Utopia

Encontrámo-nos por acaso
sem eu saber o que fazia
se seria ela feia ou bela
real ou fantasia
porque nem eu a via
nem ela a mim me via

Ainda assim melhor a sentia na ilha da Utopia
lugar de nenhum lugar aonde eu ia
para me encontrar com ela

Para trocarmos ideias
palavras doces
rebuçados de paixão
que só não se consumou
por não nos termos ali um ao outro
ao alcance da mão

Apesar de tão próximos
mas tão distantes
que não nos víamos
nem nos ouvíamos directamente
apenas na  ilusão

A mente e o coração batiam em sintonia
com os teclados e os e-mails trocados
prodígios da tecnologia
que cria a fantasia

Até que um dia se interrompeu a ligação
aconteceu o desencontro do encontro
de quem nunca se encontrou

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 11 de Dezembro de 2008

Henrique António Pedro

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Viajando para lá de tudo e do mais

 


Viajando para lá de tudo e do mais

 

Viajo para fora da Terra

para lá do Sistema Solar

fujo do Sol, da tragédia e da guerra

 

Perco-me sem premeditação no espaço interestelar

qual astro errante

vogando na infinita imensidão da minha alma

propulsado pelo pulsar do meu coração

 

Há espaço bastante entre as estrelas para eu me perder

sem me deixar prender

por nenhuma delas

 

Vagueio sem rumo certo para um mundo distante

para mais perto de mim

na vastidão daquilo que sou

sem deixar rastro

nem fumo

a título póstumo

 

Vou mais além pelas veredas da Fé e do Amor

abandono o Universo

libertar-me do espaço-tempo

do verbo e do verso

dos vícios da mente

da ilusão e da dor

 

Embora presente estou ausente

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 28 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro


quinta-feira, 6 de abril de 2023

Ele!

 


Ele!

 

A Humanidade estava circunscrita

a nascer, viver e morrer

constrita

 

A viver na obscuridade da vida

e nas trevas da morte

sem rumo ou norte

 

Sem uma Luz que a pudesse iluminar

 

Ele

com Sua Vida, Morte e Ressurreição

elevou a Humanidade a outra dimensão

 

Abriu-lhe as portas da Eternidade

indicou-lhe o caminho

ensinou-a a caminhar

 

Convidou-a a entrar

 

Ele!

 

O Cristo que padeceu no Calvário

para nos resgatar

 

Mas insanidade da Humanidade

não para de aumentar

 

Será que Ele vai voltar?!

 

E será que a Humanidade

O vai voltar crucificar?!

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 25 de Março de 2010

Henrique António Pedro


 

 

sábado, 1 de abril de 2023

Eu?! Sou um proto deus, um Prometeu!

 


Eu?! Sou um proto deus, um Prometeu!


Sei aquilo que sinto

Sinto aquilo que sou

Sou aquilo que sinto

Sou aquilo sou


Sou um proto deus cartesiano

Um Prometeu agrilhoado


Se minto a mim mesmo minto

A mim mesmo me engano

Deslumbrado

 

Sinto, penso, com o coração, as veias, as artérias, as células, o cérebro e a razão, os instintos e os afectos.

 

Sinto dor em cada poro e sofro com cada.

 

 Sou algo que se abre como uma flor no meio de uma floresta de dor, de angústia, suposta felicidade e amor.

 

 Uma larva que se metamorfoseia em alegria e sofrimento, vida e fantasia.

 

Olho o Sol a contra luz

Do lado de cá da vidraça do Firmamento

Mas cego

Sem ver a Deus

 

Apenas vislumbro a sombra de mim

A sombra do meu espírito

Batido pela luz de Deus

O amor de Jesus Cristo

 

Por isso me ensimesmo

Me sinto um proto deus

Em sofrimento

 

Um Prometeu contristo

Agrilhoado à minha angústia

Devoro-me a mim mesmo

 

Vale de Salgueiro, 21 de Maio de 2008

Henrique António Pedro


segunda-feira, 27 de março de 2023

À hora do despertar dos mágicos

 


À hora do despertar dos mágicos

 

A luz da Lua

coada pela neblina

não chega a ser luar

sequer

 

É tremulina a tremeluzir

nas águas do lago

que a brisa faz ondular

 

Cantamos e dançamos

nus

dementes

de mão dada

quase até de madrugada

 

Eu e minha amada

 

Qual faunos fosforescentes

por entre árvores despidas

plantadas hirtas no nevoeiro

 

Até que os mágicos despertem

à hora em que os humanos devem ir dormir

e deixar livre o terreiro da imaginação

seu privilégio

nosso sortilégio

nossa humana condição

 

É a hora de regressar a casa

cabisbaixos

resignados

calados

doridos

arrependidos

de alma em brasa

expulsos do fantástico paraíso

pelo trágico juízo mágico

 

Outro é o nosso lugar

 

Vale de Salgueiro, sábado, 23 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro