Dispo a Alma
alijo a Razão
calo o Coração
e sigo em frente
puro, nu e cru
como se acabado de sair ventre
de minha mãe
Transfiguro-me em massa amorfa
sem vida nem esperança
em fraga
nuvem
gota
gás
pó
Os poemas que escrevi
diluíram-se no vento
das rimas nada mais resta
Dos caminhos que trilhei
já o meu rastro se apagou
Se tento morrer
noto
porém
a impossibilidade de o fazer
porque ninguém é capaz de se matar
e de se apagar do Cosmos
com ou sem dor
só mesmo o Criador
Sou espírito acima de tudo
de novo me transmudo
Por isso amanhã lá estarei de novo
na terra que me espera
no chão em que vegeta meu coração
a viver com poesia
a alvorada de mais um dia
E depois de amanhã também
indiferente ao vento
à chuva
e ao frio
Puro, nu e cru
E a sonhar!
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010
Henrique António Pedrodro