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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

ANJO ANGUSTIADO

 


ANJO ANGUSTIADO


Deito-me sobre a relva

Em posição decúbito dorsal

Na ilusão fundamental

Inconsistente pensamento

De que ocupo sempre o centro do Firmamento

Vá para onde for

Deite-me com quem me deitar

 

Percebo a Via Láctea à minha esquerda

No céu límpido

Semeado de estrelas

 

Da direita chega-me o perfume das tílias

Floridas neste início quente de Verão

 

Fixo a vista na Estrela Polar

Aí me prendo a sonhar

 

Em breve a minha angústia

Alaga todo o Universo visível

E mais os invisíveis

 

Acabo por adormecer

Como um anjo angustiado

 

Vale de Salgueiro, sábado, 28 de Junho de 2008

Henrique António Pedro 

in Angústia, Razão e Nada (Editora Temas Originais-2009)

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Sons e silêncios que nos que nos tocam por dentro

 


Sons e silêncios que nos que nos tocam por dentro

 

Há sons e silêncios que nos tocam por dentro

sinais de que vivemos além do mais

 

São ecos

reflexos

de sons ouvidos em todos os sentidos

 

Sonoridades de verdade

sons de saudade

saltérios gregorianos

sons de espiritualidade

 

São sons que nos tocam por dentro

 

Tonalidades de verdades

timbres de afastamento

 

São lamentos de alguma mãe a sofrer

ruido de algum amor a esquecer

 

São sons doridos de sinais

silêncios de sepulcro

fulcro da religiosidade

 

São silêncios de pássaros agoirentos

pios sinistros de pardais

 

São chamamentos do além

de quem

aquém

não podemos esquecer

 

É o som do refulgir das estrelas

o silencio doce do luar

o tremeluzir da eternidade

 

Vale de Salgueiro, 4 de Fevereiro de 2023

Henrique António Pedro

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

ESTA SAUDADE CADELA

 


ESTA SAUDADE CADELA


Esta saudade cadela

morde-me e ladra-me a toda a hora

furiosa

e não me deixa dormir

 

Em vão tento amansá-la

imaginando a minha amada

saudosa

a sorrir-me

amorosa

a escrever este aerograma

que agora tenho na mão

e em que me diz que me ama

 

Aerograma que leio e releio

e mas mais me enleio

nesta cruel nostalgia

saudade cadela

insidiosa

que à lua ladra à toa

 

Só mesmo a poesia

dá conta dela!

 

Nangololo, Cabo Delgado (Norte de Moçambique), Agosto de 1972

Henrique António Pedro

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)


sábado, 28 de janeiro de 2023

Felicidade é Amor e Verdade caminhando de mãos dadas

 


Felicidade é Amor e Verdade caminhando de mãos dadas

 

Mal diviso o fim da rua recta

artificialmente ruidosa

e iluminada

em que caminho

 

Desemboca no mar da ilusão

 

O meu destino não aponta para aí, porém

procuro a verdade

olho mais além

 

Terei que curvar já na próxima esquina da liberdade

 e domar o coração

 

A verdade é grande e fina

ocupa todos os lugares da vida

e anda de mão dada com o amor

 

E o amor só pode ser puro

imenso

imaculado

e tomar todos os espaços do Universo

ainda que caiba ma letrinha de um verso

 

E a Felicidade é o Amor e a Verdade

caminhando de mãos dadas

 

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro

domingo, 22 de janeiro de 2023

Sonho súcubo

 


Sonho súcubo

 

Veio ter comigo a meio da noite

para reviver o passado

em cenas sensuais de sonho súcubo

alado

 

Desapareceu no momento mais asado

quando o sonho ameaçava tornar-se realidade

 

Não era ela de verdade

 

Era um demónio súcubo

apostado em torturar-me

 

Sou eu

um anjo íncubo

que ainda anda um tanto amargurado

e teima em atormentar-se

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Será que já vivi tempo demais?!

 



Será que já vivi tempo demais?!

 

Já todos os rostos me parecem parecidos

todas as vozes me são familiares

todas as pessoas julgo conhecer

daqui, dali

de um qualquer lugar

 

Já todas as cidades para mim são iguais

já todas as viagens foram, por mim, viajadas

já todas as pessoas foram por mim cumprimentadas

já nada a mim me poderá surpreender

já nada será capaz de me pasmar

 

Será que já vivi tempo demais?

Que já amei o suficiente

Mais ainda do que ama toda a gente?

 

Mas eu ainda tenho tantos poemas para escrever!

Tantas pessoas a quem amo e desejo amar ainda mais!

 

Só me resta mesmo deixar de sonhar

de passar as noites acordado

ensimesmado

sem saber para que lado me hei-de voltar

 

Só me resta mesmo tudo recomeçar

sem de nada me esquecer

tanto é o tempo

que ainda tenho

para viver

 

Lisboa, sexta-feira, 11 de Novembro de 2011

Henrique António Pedro