Os pensadores modernos ainda acreditaram
durante algum tempo
que a globalização seria uma gigantesca metáfora de esperança
geradora de mais e mais
metáforas de felicidade
Sabe-se agora que tudo não passava de uma monumental obscenidade
que se pulverizou em versos malditos
nas lavras de palavras
obscenas
de poetas proscritos
Acabaram-se as
metáforas!
A indústria nacional do sector faliu
e nenhum outro país de
língua supostamente portuguesa
está capaz de as
produzir
O problema parece ser ainda mais grave
porquanto em nenhuma parte do mundo há metáforas disponíveis
A Humanidade parece assim condenada a deixar de sonhar
a comer pedras e a beber
mijo
No ar só já voam os aviões
particulares dos machuchos árabes
e angolanos
e no mar só já navegam
os iates dos barões da droga e dos traficantes de armas
Nas escolas apenas se
recitam poemas marciais de Kim Jong-un
e se estudam discursos de
Fidel Casto
Extremistas muçulmanos
passeiam-se livremente
no Quartier Latin
com diademas de
explosivos
Mahmoud Ahmadinejad serviu
caldeirada de bombas atómicas na festa do seu aniversário
e a China continua a invadir
a Europa com sucessivos tsunamis de lixo
O Departamento de Defesa
americano projecta colocar um chip
no cérebro de todo o ser
vivente
e o Pentágono planeia atacar
a Suíça
Na Europa só já há olhos
para o “pas des deux” da senhora Merkel
e do seu ministro Wolfgang Schäuble
e em Portugal os
partidos políticos ganharam, por fim
o estatuto de nobres
associações de mal feitores
O triunfo do niilismo mais radical é inevitável
o fim da Civilização aproxima-se
E depois?
Teremos que começar tudo de novo
Reconstruir um novo Mundo
Restaurar a Humanidade
Reinventar a democracia
Reescrever uma nova
poesia
Tomar a sério o Papa
Francisco
Sem metáforas
tropos
trapos
metonímias
e outras pantominas