terça-feira, 12 de novembro de 2019
A canção de amor de Dores Roha
Apenas tu ser amado
não duvido
tens a ver com a felicidade
que vivo a teu lado
Se me assalta a angústia da separação
qual vento desalmado
te digo do fundo do meu coração
o sofrimento que adviria
nada teria a ver contigo
Porque ninguém ama por obrigação
ou continua a amar
por gratidão
Depende de mim continuar
a apertar as tuas mãos
e de ti continuar a beijar
com teus lábios os meus
mas é no amar e desamar
que mais dependemos de Deus
Não deixaria de te amar
nem que te afastasses de mim
ainda que o amor fosse então
uma saudade sem fim
henrique
pedro, in Códice da Pátria Luanca (Ver
o Verso Edições, 2006)
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
Falar de amor por falar
Apraz-me falar de amor por falar
despreocupadamente
seja com que mulher for
Madura
balzaquiana
adolescente
mundana
casta
beata
rameira de vida indevida
casada
solteira
ou simplesmente nubente
Estando apaixonados
ou nem tanto
Enamorados pela vida e pela verdade
com o encanto do vento
que sopra tal encantamento
por nós a dentro
sem nos causar ansiedade
Em tarde morna de Outono
ou em dia tórrido de Verão
enquanto tomamos chá
café ou laranjada numa esplanada
ou à lareira para espantar o sono
sem outra condição
que não seja misturar amor, arte e fé
Passeando à beira mar de mãos dadas
mesmo sem nada dizer
Ou deitados desnudos
na praia
na cama
ou em qualquer outro lugar
Assumida que seja entre nós
a uma só voz
a inocência cristalina de ser o amor
a razão única que nos anima
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009
Henrique Pedro
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Melopeia nupcial
Ouvi
de um sibilino espírito de virtude
que etéreo habita o mítico templo do conhecimento
esta sábia sentença, que assumi como fadário:
«Só o fogo do amor vence o frio da vida terrena
mantém o corpo ágil e livre do envelhecimento torpe
e rasga com luz a sombra da noite da morte.»
Deitei-me nu
com a minha amada desnuda
virgem
imaculada
em alvos lençóis de linho cru
da cor da geada
em noite escura e fria de Inverno
à procura do fogo eterno
da felicidade
Logo ao primeiro beijo se inflamou o desejo
como se beberamos vinho
e os lençóis tecidos de áspero linho
se converteram em fina e rendilhada cambraia
e os corpos enlaçados em suave movimento
se iluminaram na obscuridade do aposento
da mais doce e sublime luminosidade
Acendeu-se a chama do amor no frio da noite escura
almas envoltas em vapor de ternura e paciência
sublime ignescência do fogo que arde e não queima
felicidade que não tarda e perdura
por tempo indeterminado
E os alvos lençóis de linho da cor da geada
transformados logo ao primeiro beijo
na mais fina e diáfana cambraia
ficaram rendilhados por fios do meu sémen quente e incolor
e pela cor carmim do sangue rosa da minha amada
produto do nosso amor e desejo ardente
E o fogo do amor daquela noite de núpcias sentida
gravou para sempre nas nossas almas e mentes
com fios de ternura, sémen e sangue rosa carmim
o destino e boa sorte que perdura pela vida
e que assim sobrevirá feliz para lá da morte
Vale de Salgueiro, 18 de Novembro de 2007
Henrique Pedro
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
Outono
Perde o Verão o entono da paixão
a partir do nono
mês
quando o Outono sazão
faz valer o brilho
da sua palidez
As andorinhas
ladinas
rumam para sul
o silêncio tomba
no paul
O rebanho deserta
da sombra do negrilho
onde dormia a sesta
em busca de erva tenra para tosar
nos campos já a verdejar
Diga-se em abono da verdade que o Outono
com sua morna cor
é uma festa
com bandos de folhas de esquecimento
a voarem pelo ar
tocadas pelo vento
da saudade
É tempo de sonhar
sonhos mornos de amor
doce forma de amar
Vale
de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Setembro de 2012
Henrique
António Pedro
terça-feira, 17 de setembro de 2019
Estrela do poeta e do pastor.
Quando o Sol se põe e muda de posição
deixando atrás de si um resplendor alaranjado
que se desvanece e me deixa extasiado
enquanto o céu escurece
e a
Terra se encobre de escuridão
Já a Lua brilha cristalina
já se acende a estrela vespertina
a estrela
do poeta e do pastor
depois outra após outra marchetando o Firmamento
que por fim se ilumina
de um cerúleo polimento mais abrangente
Nenhuma ideia brilhante
nenhuma palavra redundante
uma rima sequer de dor ou de amor
indiciam poemas na minha mente
Nem eu tristonho me predisponho a poetar
assim mergulhado na soledade do fim do dia
extasiado com a serenidade da contemplação
sob o olhar da Lua que em silêncio percorre o céu
e me olha
como se estivesse ali postada
ela sim
para a mim me contemplar
e cobrir com o seu véu
Mas eu não tenho dilemas
penas para espiar
ninguém para namorar
nada de poemas
um verso que seja para escrever
depois outra após outra marchetando o Firmamento
que por fim se ilumina
de um cerúleo polimento mais abrangente
Nenhuma ideia brilhante
nenhuma palavra redundante
uma rima sequer de dor ou de amor
indiciam poemas na minha mente
Nem eu tristonho me predisponho a poetar
assim mergulhado na soledade do fim do dia
extasiado com a serenidade da contemplação
sob o olhar da Lua que em silêncio percorre o céu
e me olha
como se estivesse ali postada
ela sim
para a mim me contemplar
e cobrir com o seu véu
Mas eu não tenho dilemas
penas para espiar
ninguém para namorar
nada de poemas
um verso que seja para escrever
apenas
sinto solidão
Nada à Lua posso dar
nada
a Lua me oferece
à
Lua nada pedi
A
poesia acontece por si
mesmo
sem inspiração
Vale de Salgueiro, quinta-feira, 20 de Maio de 2010
Henrique Pedro
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
Na contramão do mundo
A minha vida e o meu mundo
são o mundo e a vida dos outros
Sinto o que os outros sentem
ou me dizem sentir
ver e ouvir
Sonho o que os outros sonham
ou dizem sonhar
acreditar
duvidar
mesmo se a mim nada me contam
Tudo que relato e escrevo
sem maldade
é o que os outros me dizem
mesmo se comigo não condizem
a ninguém eu delato
E tantas são a minhas dúvidas e fraquezas
o meu medo de sofrer
o meu desejo de amar
tão raras a minhas certezas
que em boa verdade
ando no mundo sem vaidade
por ver os outros andar
Por onde andei antes de nascer não sei
nem imagino sequer
tão pouco sei para onde irei quando morrer
ando no mundo por ver os outros andar
não passo dum vagabundo
Por onde andam os outros?
alguém me sabe responder?
Mergulhado na ilusão da luz da salvação
ando na contramão do mundo
e em meu sentir
só mesmo Cristo Jesus
me poderá redimir
Vale de Salgueiro, domingo, 29 de Julho de 2012
Henrique Pedro
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